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512 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 205

Voltamos aos séculos III a VI e aos bandos armados dos bárbaros?

Acaso estes, na marcha do tempo, terão de ser suplantacos em horror e crueldade?

Telegramas curtos, mas flagrantemente insidiosos, da imprensa estrangeira, ameaças não veladas de novos Icaders internacionais, reportagens e literatura de viagens desfigurando as construções jurídicas e as realidades portuguesas; ataques descabelados, desfigurações, malsina cão de intuitos construtivos, dirigiam os seus venenos sobre a dilatada terra de Angola e sobre a sua população, entretida nos trabalhos e tarefas do seu pacífico e simpático viver.

Orgui hávaino-nos todos dessa laboriosidade pacífica, desse convívio fraterno de raças, das grandes realizações, as maiores dos territórios ao sul do Sara, feitas com poucos meios, do esforço de cristandade e portuguesismo.

Proclamámos poder cruzar-se Angola de automóvel sem recurso a uma arma, que toda ela podia ser visitada e que não houvera extermínios nem se demarcavam coutadas; as nossas cidades e vilas tinham, além do mais, um encanto único que deslumbrava os olhos dos VI ai dantes estrangeiros. Se não fora trágico, seria risível comparar as belas construções de Luanda com os barracões de zinco do Ghana e da Libéria.

Era preciso, pois, uma conspiração vinda de fora para desmentir este panorama de calma e sossego, de tranquilidade familiar.

Era indispensável coonestar os rumores do parlamentarismo mundial e as atoardas da imprensa estrangeira, interessada em domínios não confessados, mas à vista.

Por isso, apagada a tentativa de libertar presos de delito comum, a invasão terrorista veio de fora e atacou pela zona mais vulnerável. Veio do Congo anarquizado e a cabeça da hidra espallum-se pela região irrequieta dos Dembos.

Tenho, como tantos, acompanhado cuidadosamente tudo quanto lá fora se escreve sobre a nossa Angola, desde Oc en Mecker até John Hatch e ao Prof. Mildred Marcus.

Como objecto de cobiças, mais ou menos capitalistas, como alvo de intrigas internacionais, como primeira e última finalidade de tentativas de extorsão política, a bela, majestosa, portuguesíssima, plangente terra de Angola aparece desfeada, transfigurada, vista com olhos detractores e ambiciosos.

Mas pira nós, para o modo português, para a saudade, para o trabalho, ela tem sido cognominada justamente a Terra da Esperança.

É perfeitamente legítimo que, na rudeza dos trabalhos, na reorganização da vida, no refazer após as dificuldades, nos voltemos para Angola,, não como o país das ilusões, mas como o novo Portugal, que abre as suas asa? benfazejas para acolher os que a procuram.

São os de fora, com ajuda de transviados, que pretendem fazer agora da Terra da Esperança a terra do desespero t da angústia e fazê-lo recorrendo ao punhal apontado às costas e manobrado na sombra.

O terrorismo, por volta de 1907, era fortemente individualista. Era anárquico e levou os governos a editarem medidas severas e à criação de jurisdições especiais e à figuração de um delito característico.

Alentava-se nos romances paradisíacos de- Tolstoi e nas obrai declamatórias de Kropotkine, pretendendo o apregoando a revolução pela anarquia e a reorganização pela. destruição.

Espraiavam-se assim doutrinas de que os grandes desatinos trariam a felicidade precipitada dos homens

e os mais incruentos horrores melhorariam a condição geral.

Esse terrorismo culminou com a bomba deitada pelo anarquista Vaillànt, no Palais Bourbon, e o atentado à soberania emocionou fortissimamente a França e a Europa.

Mas hoje o terrorismo excede o anarquismo e excedo o próprio marxismo e parece estar ao serviço de correntes internacionais com interesses em casa alheia.

E por isso. se vê ligado ao anticolonialismo, a novo iberismo, à delapidação e aniquilamento das pátrias seculares e à exaltação de Estados saídos apenas do ovo e dirigidos por elites impreparadas, de ocasião, a que apenas a imagem de um espelho proporciona autoridade.

Portanto, terrorismo concentrado, metódico, destinado a quebrantar os governos legítimos, a criar um clima político de total contemporizarão e desmando, o qual torne possível o advento de novos donos e a rápida tomada de medidas que impossibilitem a mudança de governo e de suas formas.

A organização dos interesses africanos representa uma tentativa teórica de certa envergadura e encontra eco em estudos," trabalhos especulativos e declarações políticas.

Como deveria ser feita?

Deveria ser feita com .cristandade, na concepção tradicional dos nossos escritores e governantes, respeitando os textos de darei to divino, que assegurassem a humanização da convivência, a elevação, dos homens e da vida, a piedade, a evangelização dos povos primitivos, a comunicação leal do trato sem predomínio acentuado de outras tendências, a do dinheiro e o desprezo humano para além do puro materialismo.

Em vez de um direito internacional flutufante e duvidoso, em vez de ficções de ocupação simbólica, investidura, mandatos, entradas em federação, era mais lídimo e sério concebei- e organizar, nas próprias tormentas, comunidades cristãs.

Quando os Portugueses e Espanhóis dividiram o Mundo tinham por cimo. aquela doutrina superior e recorriam a um árbitro de autoridade indiscutida: o papa.

Agora não.

O hipercapitalismo dos Americamos antagoniza e choca-se com a dialéctica marxista.

Os povos de cor, revoltados, com débil consciência dos seus melhores interesses, entendem a maioridade legal como agressão.

Os novos senhores vêem-se isentos de qualquer código, norma ou (regra, que não seja o brilho do sol que se ergue ou as suas rudíssimais ambições.

O recurso á opinião mundial, ao parlamentarismo internacional e aos escritores especializados tem sido o recurso à fragilidade e à improvisação.

As decisões e Comportamentos adoptados em face do Congo, que se decompõe e fracciona, são a prova próvada do que afirmámos.

Já se vê que eu não sou pregador, mas sou político, e sempre me .pareceu que a obra formidável dos nossos vizinhos, possuindo embora alicerces, não acreditava nos. horizontes1 e voltava-se paxá- um futuro indeciso e cínzeo.

Os textos de direito internacional que regulam as relações e disciplinam os contactos são principalmente dois - a Carta do Atlântico e a Carta das Nações Unidas:

O seu intuito confessado, fundamental, aceite e proclamado, foi preservar as gerações do cataclismo da guerra, praticar a tolerância., viver, sim, mas em boa vzinhança.

E é isto que vemos?