548 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 208
e assídua observação directa, constitui o tema que sugeriu esta minha despretensiosa intervenção.
A referida rua, a que mais propriamente poderá chamar-se «inconcebível azinhaga», encontra-se localizada ao fundo dos aprazíveis jardins do Campo Grande, e, portanto, fazendo parte do próprio corpo da capital, pelo que representa uma lamentável deformidade que não se coaduna com a obra de valorização urbanística levada a efeito, nem tão-pouco com as exigências de um trânsito cada vez mais intenso e acelerado.
A Rua do Fidié representa, efectivamente, um embaraço grave para a circulação- de veículos e oferece um constante perigo para os peões, pelo que a sua urgente substituição por um amplo e moderno arruamento, digno da majestade da nossa querida capital, se impõe, não só como motivo de embelezamento daquela vasta zona, mas ainda como razão de maior comodidade para o público, pois seria a mais útil e directa ligação entre as populosas áreas de Benfica e do Lumiar com o aeroporto e o elegante Bairro de Alvalade.
Acresce que já ali se encontram erguidos alguns edifício de grande utilidade e de magnífica apresentação arquitectónica, que só por si bem justificam a imediata abertura de uma larga artéria que torne mais fácil o acesso e mais atraente o conjunto urbanístico daquela zona.
Entra estas edificações, destaca-se o esplêndido Colégio de Santa Doroteia, instalado em majestoso prédio, onde, com o maior sacrifício, foram investidos volumosíssimos capitais.
O Colégio de Santa Doroteia é um valioso estabelecimento de ensino que muito honra a capital, pois é, sem dúvida, um dos mais modernos e bem apetrechados colégio de educação feminina do País, onde se ministra o ensino singular e geral dos liceus, nas melhores condições pedagógicas, e, ao mesmo tempo, se cuida meticulosamente da formação das raparigas, nos aspectos moral e religioso.
Ali existe a consciência de que a função das escolas não deve ser unicamente instruir, mas principalmente educar, formando o carácter daquelas que se destinam ao serviço exclusivo de Deus ou que virão a ser as mães de amanhã, procurando, por forma elevada, robustecer-lhes a alma, tornar-lhes mais generoso o coração e abrir-lhes mais francamente a inteligência, à luz radiante da verdade e do dever, do bem e da caridade.
Hoje mais do que nunca se torna necessário cuidar intensivamente da educação da juventude, para que a sua vida seja bem vivida e os bons exemplos lhe iluminem o raciocínio e frutifiquem em actos de dignidade, de humildade e de fé, na salvaguarda dos valores morais e dos inquebrantáveis direitos de nacionalidade. Quase em frente do moderno e Sumptuoso Colégio de Santa Doroteia ergue-se um magnífico edifício de linhas sóbrias e harmoniosas, onde se encontra instalada a Escola de Enfermagem e Serviço Social de S. Vicente de Paulo.
Esta escola, verdadeiramente modelar no seu género, além do curso geral de enfermagem, ministra ainda o ensino primário e secundário até ao 2.º ano e possui anexas uma casa de trabalho, creche e dispensário materno-infantil e policlínico, funcionando todas as suas secções com grande frequência e os melhores resultados educativos e técnico-sociais.
Todo o movimento para estes frequentadíssimos estabelecimentos de ensino tem de fazer-se através da perigosíssima Rua do Fidié, onde as muitas pessoas que por ali têm de transitar estão sempre na contingência de serem esmagadas entre qualquer veículo e os velhos muros carcomidos ou sofrem o risco de serem desrespeitadas por algum dos muitos vadios que aproveitam todas as circunstâncias e momentos para atentarem contra a honra alheia.
Aquela arcaica e condenável azinhaga, estrangulada entre dois muros arrepiantemente mutilados, onde algumas das suas profundas e horríveis feridas se encontram manchadas pelo sangue de vidas preciosas, não pode manter-se por mais tempo a torcer ferros e chapas de veículos, a desafiar vidas humanas, a perturbar a circulação de uma vasta zona citadina e a ferir a estética da nossa linda capital.
O Sr. Cortês Pinto: - Muito bem!
O Orador: - Estou certo de que a digna Câmara Municipal, cuja obra realizada merece os mais entusiásticos aplausos, logo que se aperceba da verdade dos factos que acabo de referir, tomará as necessárias e urgentes medidas, tanto mais que, segundo me consta, estão elaborados os competentes projectos dos novos arruamentos que farão desaparecer aquela vergonhosa azinhaga, que, como diria o afinado espírito crítico de Leitão de Barros, através dos seus bem humorados «Corvos», consegue ser mais estreita do que as camionetas que por ela têm de passar.
Sr. Presidente: ao versar problemas relacionados com o urbanismo, não quero terminar sem fazer uma referência, ainda que resumida, ao Colóquio sobre Urbanismo, recentemente realizado no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, por feliz iniciativa da Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização.
Não me permite o tempo regimental de que disponho fazer uma análise circunstanciada do que foi esse valioso certame, que reuniu para cima de 350 personalidades ligadas à técnica da construção e do qual saíram trabalhos de reconhecido mérito, que, em elevada escala, poderão contribuir para disciplinar e valorizar os métodos da urbanização.
A realização de colóquios desta natureza reveste-se de grande interesse, pelo que devem promover-se com maior assiduidade, procurando-se, ao mesmo tempo, dar a maior difusão às teses apresentadas.
Temos de criar uma mentalidade urbanística verdadeiramente nacional.
Com base neste princípio, impõe-se que se estabeleçam planos gerais de urbanização extensivos, com apurado sentido de unidade, a todas as zonas do País.
Os nossos aglomerados populacionais não podem continuar a ser concebidos ao acaso, mas, antes, têm de ser ordenados em obediência a regras de estética urbanística que lhes imprimam melhores condições de vivência e mais atraente aspecto de concepção e arranjo.
Deste modo, torna-se necessário organizar com a maior celeridade planos de urbanização que abranjam não apenas cidades, mas se tornem extensivos às vilas, às aldeias e ao próprio campo, mormente no que se refere, neste último caso, à fixação e ordenação de zonas industriais, por forma que se torne cada vez mais apetecível e fascinante o solo de Portugal.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Silva Mendes: - Sr. Presidente: S. Ex.ª o Ministro das Obras Públicas tem sido tantas vezes elogiado que se torna impossível dizer alguma coisa de novo a respeito das superiores qualidades de inteligência e carácter do Sr. Engenheiro Arantes e Oliveira.