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650 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 208

e altivamente a conjura internacional, ameaçadora da sua independência, desprezando ou negando a verdade da nossa obra em favor da civilização, em favor da humanidade, obra que abraçamos e defendemos desde os alvores da nacionalidade, nesta hora, há que prosseguir serenamente, resolutamente, com firmeza, na rota do caminho traçado e seguido durante oito séculos da nossa existência, vivida como Nação livre e soberana.
Não transigiremos nem abdicaremos perante a desordem e a vassalagem em que pretendem lançar-nos aquele; a quem falta autoridade para o fazer, e falta ainda o conselho e o juízo sábio da História que nós escrevemos, fundamentada na epopeia gloriosa de factos, que enchem e iluminam as suas numerosas páginas, nas quais vive e palpita o heroísmo e a glória de um povo educado no respeito pelo direito que governa o Mundo, de respeito pela humanidade, nas suas conquistas e nas suas liberdades, conscientemente, e através de tudo, definidas por nós.
Saberemos resistir firmemente a todos os ataques, repelir todas as afrontas, responder a todas as violências, afirmando os nossos direitos de Nação una, independei te, soberana, que através de gerações e de séculos desempenhou uma missão civilizadora, isenta de racismos, mas sublimada em sentimentos de fraternidade, agora esquecida por muitos, que não possuem espírito para a compreender, fingindo ignorá-la.
Há que agir dentro dos princípios fiéis à nossa tradição, dentro da dignidade e da honra, a que sempre rendemos culto, defendendo-nos das injustiças que nunca praticamos, e, sem trair nem mentir, levamos a a todos os continentes, sob a protecção divina, a seiva criadora e redentora de uma doutrina, com todos os seus princípios de tolerância, de bondade, de protecção, de caridade e de assistência, prestada e realizada devotadamente, não contando os sacrifícios, num desprendimento total da própria vida, salvando a do semelhante.
Hoje e sempre, neste capítulo como em tantos outros, demos lições de magnífico exemplo, lutando pela conservação da saúde humana, através de uma acção sanitária de grande alcance, fosse qual fosse a raça, adoptando perante o indivíduo branco, negro ou amarelo o cuidado e o rigor que a medicina e a assistência impõem aos seus praticantes.
É sobre este aspecto médico-sanitário que pretendemos, na hora em que campeia a mentira e o ódio, pervertendo caracteres, demonstrar o muito que se tem realizado em favor do nativo africano, assegurando-lhe a saúda na luta contra a doença, proporcionando-lhe, através dos meios rigorosamente científicos, as condições de robustez e resistência orgânica compatíveis com o exercício do trabalho, fonte resolutiva de dificuldades que o agregado familiar acusa em toda a parte.
Sr. Presidente: desde os tempos longínquos das descobertos e das conquistas que os Portugueses, sob a bênção da cruz, símbolo da fé emancipadora do espírito cristão, não esqueceram, como exemplar manifestação de fraternidade humana, o estabelecimento de hospitais e postos de assistência, numa demonstração de amor ao semelhante, actividade sanitária e acção espiritual, elementos perfeitamente identificados com a doutrina e a missão que a Providência nos outorgou.
A nossa acção sanitária no ultramar não se mede pela grandeza das suas instalações, já hoje em franco desenvolvimento. Mede-se, sim, pelo valor pessoal, pelo valor humano, daqueles que a praticam, numa acção protectora, orientadora e educativa, que desde remotas eras soubemos realizar.
E dentro de relevantes conceitos morais sempre seguidos, o conceito moderno da luta pela saúde contra a doença vem sendo promovido e traduzido em resultados de alta valorização individual e social.
Sr. Presidente: a criação, no alvorecer deste século, do Instituto de Medicina Tropical, inicialmente chamado Escola de Medicina Tropical, é facto que muito nos honra e enobrece, marcando na vida médico-sanitária das nossas províncias africanas acontecimento digno de ser lembrado no seu verdadeiro significado de manifesto interesse pelos problemas de saúde das populações indígenas africanas. Grande, notável, generosa, tem sido a actividade desse Instituto de alta e especializada cultura médica, por onde passaram mestres ilustres, que, na investigação e no ensino das matérias indispensáveis ao exercício da actividade médica ultramarina, souberam granjear respeito e admiração bem merecidos.
E hoje, como no passado, os eminentes cientistas que ali exercem o alto encargo da investigação e do ensino, obreiros de uma tão grande como nobilitante causa, continuam honrando a nossa actividade em terras distantes, prestigiando a escola onde proficientemente se estudam todas as matérias inerentes ao conhecimento especializado das doenças específicas dos indígenas, doenças próprias dos países quentes.
Depois de haver cursado as Faculdades de Medicina e Cirurgia e completado a especialização no Instituto de Medicina Tropical, ingressa nos quadros dos serviços do ultramar essa plêiade admirável de rapazes que, inteligente e conscientemente, de olhos postos no futuro da Pátria, no desenvolvimento do nosso ultramar, deixam a metrópole e vão fazer a ocupação sanitária das nossas províncias, dando ao serviço de assistência médica o desenvolvimento compatível com as necessidades requeridas pelo indígena africano, a quem nunca faltou a protecção que bem merece.
Pode afirmar-se que todos os médicos que ali se destinam souberam sempre cumprir, obedecendo escrupulosamente à doutrina em que se fundamenta o exercício da profissão, e perante a Assembleia Nacional lhes queremos manifestar o preito de justa gratidão que bem merecem.
As circunstâncias especiais em que presentemente vivemos impõem-nos o grato dever de envolver a todos no mesmo sentimento, mas seja-nos permitido destacar quem, mercê de qualidades e virtudes demonstradas como homem e como médico, atingiu, por direito de conquista, a mais elevada posição na hierarquia dos serviços de saúde ultramarina.
Quero, Sr. Presidente, pôr em destaque nesta hora, em que a gratidão é palavra vã e a razão e a justiça sentimentos perdidos e até escarnecidos no convívio das sociedades novas, a afirmação de que tais virtudes, com seu cortejo de predicados morais, viveram e continuarão vivendo no espírito dos que, como o médico Aires Pinto Ribeiro, atravessaram a existência fazendo larga sementeira de caridade e de bondade, no exercício da sua profissão, que aceita e pratica o nivelamento espiritual do homem, não atendendo à cor, à raça ou à riqueza.
Meia dúzia de palavras vamos proferir, lembrando essa figura insigne de médico que, em período que ultrapassou 35 anos, fez em terras de África, que tanto amou, uma obra de assistência de alta finalidade, onde o espírito científico vivia em plano de igualdade com o apostolado humano, a que ele se entregou generosamente, numa actividade onde brilhava a sua formação espiritual, que a técnica profissional jamais deformou.
Hoje, mais que nunca, homens de tão alta envergadura, como foi o Dr. Aires Pinto Ribeiro, que soube mandar, sabendo obedecer aos princípios em que fomos educados e pelos quais tanto nos empenhamos, lutando