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27 DE ABRIL DE 1961 851

Ainda outro sector da actividade agrícola - a. pecuária - exige igualmente a desvelada atenção do Governo. Não abordarei agora mais detidamente o complexo e há muito arrastado problema da criação de gados e do abastecimento de carne. Mas verifico que esse assunto exige um vasto estudo, extensivo e generalizado a todos os seus aspectos, tanto locais como no que respeita a cada uma das espécies normalmente entregues pelos criadores para abate.

Não é segredo para ninguém que, por insuficiência geral das tabelas, ao passo que na capital, onde elas se aplicam com rigor, se come a pior carne do País, há carne de óptima qualidade à venda em numerosas localidades, assim como se encontra também carne excelente nos hotéis e restaurantes das grandes cidades, paga, certamente, por preço superior aos tabelados. De igual modo é conhecido de todos nós o enorme ónus que nos acarretam, ora as exportações, ora as importações, que, alternadamente e não sabemos porquê, complicadas e flutuantes causas o País se vê forçado a praticar, sempre exportando por preços inferiores aos de compra e também sempre importando a preços superiores aos de venda.

Evidentemente, todos estes difíceis problemas apenas podem ser aflorados nesta breve intervenção, em que sómente me propus solicitar para eles a atenção de quem pode e tem certamente o desejo de os resolver.
Dentro desta ordem de ideias e de acordo com o princípio da justa retribuição das "actividades, penso que devemos começar por salvar a lavoura da crise que lhe ronda a porta, consequência tanto dos maus anos agrícolas últimos como da desactualização dos preços de venda dos produtos, que não acompanharam a maior parte deles nem se aproximaram do nível de aumento dos custos reais de produção.

É isto o que me parece prático, realista e conveniente ao conjunto da nossa economia.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem !

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Ramanata Quenin: - Sr. Presidente: não desejo iniciar estas breves considerações que vou fazer sem testemunhar a V. Ex.ª, Sr. Presidente, a minha maior consideração pela forma elevada como tem presidido aos trabalhos desta Assembleia e os meus agradecimentos pelo acolhimento que sempre me tem dispensado, facilitando a minha missão. Aqui reitero as minhas homenagens a V. Ex.ª, como também aos ilustres Deputados.

De regresso da nossa tranquila Goa, a fim de acompanhar os trabalhos em curso nesta Assembleia, eu, ao mesmo tempo que vos trago as saudações de um povo que, indiferente às mil pressões, inspiradas em ocultos propósitos, continua firme e inabalável no seu trabalho de dia a dia, contribuindo com o seu esforço construtivo para um Portugal sempre maior e melhor, trago-vos também o seu repúdio contra as tentativas de destruir a nossa unidade plurissecular.

Permite-me a educação oriental com que formei o meu espírito, no seu aspecto religioso, contactar de perto com a classe a que pertenço e dela conhecer os seus anseios, que, na minha qualidade de Deputado, a levam a comunicar-me e. quantas vezes, comigo, a aconselhar-se-me numa crescente confiança que a minha permanência nesta Assembleia lhe inspira.

E estes anseios, Sr. Presidente e ilustres Deputados, circunscrevem-se mais no campo espiritual, sobrepondo-se, assim, a quaisquer benefícios de ordem privada e material que, por qualquer fornia, possam diminuir aqueles.

Têm sido trabalhosos, sem dúvida, estes anos em que, .mês a mês e dia " dia,, quando em contacto com os que, por afastados, muitas vezes, não estão dentro da realidade e se vêem malèvolamente orientados, foi necessário demonstrar-lhes a Jogar da verdade.

Os últimos meses da minha presença em Goa permitiram-me sentir e observar de perto o seu meio e dizer a VV. Ex.ªs que não temos no Estado da Índia problemas que possam suscitar quaisquer preocupações.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Se, por vezes, no exterior se levantam, eles são inspirados na fantasia de quem não quer ver u realidade das coisas e procura a todo o momento deturpar os factos.

Sr. Presidente: nesta tranquilidade, porém, do ambiente oficial e social de Goa tenho sentido e vivido os acontecimentos de Angola, porque os sinto e vivo como português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Atravessa essa nossa grande província do ultramar horas amargas de provações pelas vidas já sacrificadas, vítimas de turbas selvagens manobradas e orientadas do exterior.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Afirmo aqui a minha solidariedade -minha e do povo da minha terra - para com os. nossos irmãos de Angola e afirmo também a minha grande fé de que a ordem voltará e o progresso daquela parcela do território nacional continuará a fazer-se com a indispensável tranquilidade de espírito, no mesmo ritmo acelerado registado nos últimos anos, fé esta, ainda mais fortalecida pela decisão tomada pelo grande português que, como em tantos graves momentos da nossa história dos a 1 a mós anos, mais uma vez nos deu o alto exemplo de sacrifício, fazendo recair directamente sobre si as responsabilidades da decisão para pôr termo à. selvajaria e à crueldade de que Angola tem sido alvo.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Goa, Sr. Presidente, está confiada na firmeza do seu Governo Central e no equilibrado senso e patriotismo do seu actual governador-geral.
A seu lado acompanhei e senti o entusiasmo da população aquando da inauguração da estátua de Camões erigida na velha cidade. Compreendeu bem ela que se. prestava homenagem àquele que é o símbolo de um Portugal eterno, do Portugal histórico, do Portugal universalista e supremo intérprete da poesia da navegação da raça lusa.

A seu lado apreciei também o quase milagre de uma paz e compreensão mútua dos três diferentes credos existentes em Goa, Damão e Diu católico, muçulmano e hindu- quando foi da recepção dos venerandos meamis (prelados) de Partagale e Quénia e de Sua Alteza o Príncipe Karim Aga Khan. Mais uma vez, em tantas da sua história, Portugal demonstrou ter sido o precursor da política de aglutinação de comunidades distintas, de roças e credos em diferentes níveis de civilização.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E das crianças hindus, que aos milhares frequentam as escolas de marata, seculares no tempo