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8 DE JANEIRO DE 1963 1697

lhadores rurais, o que mais interessa é que o centro de recuperação assim organizado fique instalado fora dos meios citadinos, numa grande área agrícola, que irá absorvendo a actividade dos doentes.

Prevê-se, pois, que é possível criar instalações para muitos centos de doentes, instalações simples, modestas, com higiene e limpeza, por baixo preço, e cuja manutenção -muito, de atender- ficaria por baixo preço também.

For outro lado, é de supor que o Hospital Sobral Cid, Lorvão, o Hospital Júlio de Matos, o Hospital Miguel Bombarda, o Hospital Conde de Ferreira e o futuro Hospital Magalhães Lemos, transformados em verdadeiros hospitais psiquiátricos, desembaraçados de crónicos, com apoio das clínicas psiquiátricas das Faculdades de Medicina e das formações neuropsiquiátricas dos hospitais regionais, permitam rapidamente uma cobertura do País sob o ponto de vista de assistência aos doentes mentais agudos.

Semelhante solução, a realizar em poucos anos, será bastante económica, visto as instalações caras na organização e manutenção já existirem em condições suficientes para bem cumprirem.

Mas há outro aspecto do problema a considerar.

O sucesso terapêutico, que geralmente se consegue nas formações psiquiátricas, constitui a principal razão do crédito e da confiança que o público tem na psiquiatria. Ora esse êxito depende, em grande parte, da qualidade e do número de elementos de trabalho. O pessoal tem de ser numeroso e bem categorizado, tanto sob o ponto de vista profissional como sob o ponto de vista de qualidades e de vocação.

Em nenhum outro ramo de medicina o problema da preparação do pessoal técnico tem tanta importância e influência como no caso da psiquiatria.

Fundamentalmente, é às Universidades que compete fazer o ensino da psiquiatria clínica e da psiquiatria social, da psicologia médica e da psicoterapia.

Fundamentalmente, á às Universidades que compete despertar o interesse pelas doenças mentais nos médicos novos; atraí-los, e não aterrorizá-los. Às escolas de enfermagem especializadas compete a preparação conveniente das enfermeiras, auxiliares e do próprio pessoal auxiliar e pessoal menor, que precisa de ter uma formação e preparação bem especializada, tão grande e decisiva é a convivência deste pessoal com os enfermos agudos e crónicos e tão necessária é a organização de cursos de aperfeiçoamento e actualização dos conhecimentos do que este pessoal necessita.

A importância que desempenha na acção curativa e preventiva o trabalho do pessoal colaborante em toda a organização, a dificuldade em se encontrar pessoal de todos os graus com o conjunto de qualidades físicas e espirituais bastantes para um grande rendimento da sua acção, constitui, a nosso ver, o obstáculo maior à realização do plano que deixamos esboçado.

Ora, é precisamente naqueles hospitais psiquiátricos que se hão-de criar centros de ensino, centros de aprendizagem e centros de investigação que permitam resolver o nosso problema da assistência psiquiátrica e de higiene mental, dando assim satisfação à finalidade da lei sobre promoção da saúde mental.

12. Aprecie-se agora o problema das brigadas.

E bem fácil de compreender a pouca utilidade do estudo dos doentes feito pelas brigadas, em cujas consultas aparecem por vezes dúzias de doentes, muitos para primeiras consultas ...

O estudo consciente e completo de um enfermo desta natureza pode levar horas ...

O simples diagnóstico tem de assentar em causas físicas, psicológicas e sociais ou na combinação delas; terá de ser sujeito a uma minuciosa observação e a um estudo metódico em ambiente próprio; a decisão sobre a necessidade de internamento exige um estudo sobre o meio e as condições em que vive, como vive e com quem vive.

No diálogo, bem orientado, está muitas vezes a chave do diagnóstico.

Para eficiência do tratamento há que criar uma perfeita confiança e compreensão entre o médico e o doente; em muitos doentes não bastam os medicamentos e as boas palavras, mas é sempre necessário ter calma, afabilidade, serenidade, e não se impacientar mesmo perante grandes dificuldades; saber despertar no espírito do doente um optimismo fundamentado, como meio terapêutico. Ouvir o que o doente diz e como diz, inquirir das suas doenças, informar-se com os parentes, inquirir com habilidade; levá-lo a falar com sinceridade, averiguando com detalhe o que se passa no exercício da sua função, saber das suas relações e completar o exame com informações de outras pessoas, averiguar do que se passa com a família.

Depois ... tem de se saber das preocupações que o atormentam, das dificuldades que o preocupam, das causas que o não deixam descansar, das esperanças que povoam a sua imaginação, dos factos da vida que mais decepções lhe causam ...

Se o doente se defende e não está sendo sincero, há que chegar a conclusões fundamentadas com factos observados no mundo exterior.

Se o doente divaga e se afasta do assunto, há que pôr fim ao monólogo.

O médico da brigada não deve contentar-se em fazer o diagnóstico clínico: tem que fazer o diagnóstico etiológico. Não basta pois a exploração clínica, mesmo h custa dos novos métodos de investigação; o diagnóstico dado pelo laboratório, diagnóstico desumanizado, sem o estudo da personalidade do doente, nas doenças do espírito mais do que nas outras, não nos conduz a nina terapêutica adequada e eficiente. Há que voltar ao velho critério humanista, tomando em consideração, e em grande consideração; todos os factores que dizem respeito ao indivíduo, à família, actual e passada, ao meio e às condições em que o doente desenvolve a sua actividade.

E quantas vezes depois de um minucioso exame não se descobre causa agressiva que justifique o estado do doente ... £ que a causa está na própria vida, e contra a vida dura e má não há remédios nas farmácias!

Ora, toda esta conversa médico-doente tem de ser necessariamente demorada, sem pressas nem precipitações, de modo que o doente se abra perante o médico, sinta que ele está interessado e que com paciência procura conhecer a doença e o doente. O exame exige pois um ambiente próprio de calma e tranquilidade que permita criar confiança.. Mas a verdade é que não é principalmente perante doentes
Às dúzias, que aguardam a brigada, que muitas vezes chega tarde e em suspense perante tão elevado número de doentes, que se cria o clima indispensável a um bom exame, a uma boa terapêutica ...

Pelo contrário, estes factos agravam o estado de espírito dos doentes, pois poucas horas podem demorar a consulta porque outras consultas esperam noutra localidade, onde outros doentes já esperam ...