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8 DE JANEIRO DE 1963 1701

Há que cuidar também dos estudantes e crianças nas escolas, seja qual for o grau de ensino, há que educar os educadores, há mesmo que ter em conta o valor de factores culturais e sociais e apreciar a sua influência sobre a sanidade mental, utilizando a acção combinada do psiquiatra, do psicólogo e do antropólogo.

Não esqueçamos que do valor e da natureza dos cuidados prestados pelos pais nos primeiros anos depende, em grande escala, a saúde mental dos filhos, como o tem demonstrado o tratamento psicanalítico dos adultos, a psicanálise das crianças, e como é de concluir ainda dos trabalhos de psicólogos e psiquiatras especializados na protecção à infância.

A criança, desde os primeiros tempos, tem de viver e crescer numa atmosfera amorosa, e ligada à mãe por laços afectivos, íntimos e constantes, motivo de grande satisfação e alegria para os dois.

Graças a esse sentimento afectivo, os estados de angústia e culpabilidade, cujo desenvolvimento exagerado caracteriza a perturbação da saúde mental, serão disciplinados e ordenados. Da mesma maneira, as exigências características e contraditórias da criança - desejo de amor ilimitado da parte dos pais e desejo de vingança quando tem a impressão de que os pais não a amam bastante - manifestar-se-ão sob uma forma moderada e serão mais fàcilmente submetidas ao controle da personalidade que desperta.

A complexidade, a riqueza e os benefícios destes laços afectivos entre a mãe e o filho durante os primeiros anos presidem, segundo os psicólogos, ao desenvolvimento do carácter e da saúde mental.

A carência dos cuidados da mãe tem pois uma perigosa repercussão, criando perturbações da estrutura psíquica da criança, e mais tarde sobre o desenvolvimento do carácter.

E necessário, pois, sair do campo doutrinário e entrar activamente no campo das realizações. A palavra de ordem tem de ser acção; fala-se muito e faz-se pouco. Precisamos, como nunca, da acção dos higienistas da mente (psiquiatras, assistentes sociais e psicólogos) sobre os pais, as famílias, os professores, as escolas, os médicos escolares, os chefes das oficinas e escritórios, no sentido de melhoria das relações humanas, da compreensão da personalidade, da adaptação à vida e da harmonia interna do próprio e de cada qual em relação aos outros.

«Criem-se centros de saúde, centros médicos, pedagógicos nas escolas, liceus e Universidades. Multipliquem-se os dispensários de higiene mental com a finalidade de dar consultas psicológicas e promulgar medidas profilácticas (do alcoólico, toxicomaníaco e outras) e do cultivo da saúde mental» (Prof. Baraona Fernandes).

Verificada a impossibilidade de conceder ao homem de hoje o bem-estar que deseja e para o qual lhe não foi dada formação bastante, há que orientar para a criança toda a actividade no sentido de a tornarmos feliz, com mens sana incorpore sano. É obra que pode começar, e deve começar, na primeira infância, continuar na adolescência e seguir através de uma rede de meios de acção e de prevenção durante toda a vida escolar, de modo a serem assistidos os próprios adolescentes em centros universitários e em centros das escolas técnicas, onde nada - nem instrumentos, nem especialistas - deverá faltar, de maneira a ser possível determinar até - com relativa exactidão - a orientação profissional, a vocação de cada um ...

É preciso, por consequência, adquirir um equipamento eficiente que cuide e acompanhe, o mais cedo possível, a criança, observando e interpretando todas as suas manifestações, acompanhando a evolução da sua personalidade.

Sabe-se que, em higiene mental infantil, interessa sobretudo a despistagem precoce dos casos, indo ao seu encontro, e não aguardando que os casos vão ao encontro do médico ...

Hoje, entre nós, este problema é de quase impossível solução; semelhante tarefa era, até há pouco tempo, como diz o Prof. Vítor Fontes, desempenhada pelo médico da família, personalidade que, infelizmente, tende a desaparecer ...

« Conhecedor do organismo de todos os membros da família, dos seus factores hereditários, das condições e do ambiente da vida familiar, do passado psíquico, das reacções de cada um perante as próprias doenças e em face uns dos outros, o médico de família era o primeiro a surpreender as alterações psicológicas no comportamento da criança e era o primeiro a fazer a sua despistagem precoce». É bem que acabará em breve ... A satisfação das necessidades médicas elementares de uma família exige hoje os serviços de nada menos de seis médicos: um obstetra, um pediatra, um otorrinolaringologista, um cirurgião, um psiquiatra e um internista!

A doutrina em voga de que um mesmo médico não tem competência para tratar filhos, pais e avós dos dois sexos é inteiramente falsa e faz perder as vantagens que resultavam de o mesmo clínico conhecer e seguir, durante gerações, todos os membros do mesmo grupo familiar.

Daí a necessidade de o fazer substituir no futuro, sob o ponto de vista de higiene mental da criança, por pediatras ... que ainda não existem, e cuja especialização terá de ser fortemente vincada por largos conhecimentos de neuropsiquiatria infantil, conhecimentos que os habilitem à descoberta precoce de todas as anomalias de ordem mental e ao seu envio imediato para os dispensários de higiene mental infantil, cuja criação se reputa da maior importância. Nada mais urgente que a campanha vigorosa a instituir a favor do futuro mental do nosso povo - começando pela despistagem precoce das crianças suspeitas de alteração mental. É pois por aqui que se tem de começar.

O rendimento previsto para já desta lei de promoção da saúde mental será bastante reduzido quando aplicada aos adultos; evidentemente, haverá doentes que hão-de melhorar, doentes que hão-de curar-se, doentes que hão-de reabilitar-se ... mas a grande finalidade esperada e desejada - evitar a doença, evitar os doentes, enfim obra grande de profilaxia e de prevenção - só se obterá aquando da sua aplicação à criança.

Como proceder então?

No caminho da multiespecialização, que a medicina de hoje desorientadamente segue, constitui programa mínimo ter pediatras com uma boa formação neuropsiquiatra e encarregá-los de despistar as crianças anormais, embora semelhante função devesse pertencer verdadeiramente ao pedopsiquiatra.

Pretende-se por isso chamar a atenção, muito especial, para a instalação, sempre que possível, de dispensários de higiene mental infantil, destinados a essa profilaxia e despistagem precoce das perturbações mentais nas crianças durante todo o crescimento, indo ao encontro - repetimos, porque é fundamental- das crianças, e não esperando que elas lhe sejam entregues pelos