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12 DE JANEIRO DE 1963 1817

E termino, aproveitando um comentário de Paul Valéry, formulado a propósito da guerra de 1914, que ele vivera e observara com autenticidade:

Nunca se havia lido tanto nem tão profundamente como durante a guerra: perguntai aos livreiros. Nunca se havia rezado tanto nem tão profundamente como durante a guerra: perguntai aos sacerdotes.

Aproveito, parafraseando, e sem prejuízo de ulterior desenvolvimento do tema, que desde já fica enunciado:

Nunca se havia beneficiado tanto e tão profundamente de um regime político como durante o actual regime: perguntai às nossas consciências.

Tenho dito.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua o debate sobre o aviso prévio do Sr. Deputado Nunes Barata acerca do aproveitamento das potencinlidades económicas do Mondego.

Tem a palavra o Sr. Deputado Àbranches de Soveral.

O Sr. Abranches de Soveral: - Sr. Presidente: não podia assistir indiferente à discussão de um aviso prévio que toca tão de perto a região a que pertenço. E embora nesta altura já tudo esteja dito e' redito, não será despiciendo juntar a minha, voz ao clamor que se ergue a solicitar n atenção do Governo para a premência e magnitude do problema que constitui objecto deste aviso prévio.

O Sr. Dr. Nunes Barata e os ilustres Deputados que se lhe seguiram traçaram com invulgar nitidez e realismo o quadro da economia regional pertinente, quer considerada por si mesma no seu valor intrínseco, quer situada no conjunto da economia nacional, em confrangedor contraste com as restantes regiões do País.

Não é agradável nem alegre o esquiço esboçado, e a sua indiscutível verdade é tão sombria que por si basta a dar relevo ú imperiosa necessidade de transplantar com urgência para o mundo das realidades imediatas os estudos tão laboriosamente realizados desde há longos anos.

Se temos de atender ú dura realidade dos factos, não devemos também perder de vista o momento histórico em que temos de os enfrentar.

Vivemos em guerra; guerra que não provocámos, mas em que temos de lutar e vencer. Inimigos sem escrúpulos enleiam-nos por tal forma que não sei bem se o lugar mais perigoso da batalha será no Norte de Angola ou aqui.

O Sr. José Manuel Pires: - Muito bem!

O Orador: - O facto de termos vencido até agora não nos permite descansar na convicção de que venceremos sempre. Será de todo ponto útil nunca perder de vista a realidade desta guerra total, para se não concederem facilidades levianas, nem desgastarem em comezinhas lutas de vaidades, de despeites, ou de inconfessáveis e ilegítimos interesses, energias preciosas e tão necessárias ao triunfo da suprema luta nacional; há sobretudo necessidade de não se continuar a viver como até aqui no pressuposto asfixiante de que o continente é Lisboa e Porto e os arrabaldes que lhe servem de logradouro.

O Sr. Engrácia Carrilho: - Muito bem!

O Orador: - Tudo isto pode parecer deslocado neste local e neste momento, mas realmente não o é. Porque será neste ambiente económico-social e político que terá de equacionar-se o problema, cuja solução não pode moldar-se ao sabor dos interesses ou vaidades de quaisquer pessoas ou grupos, por mais poderosos que sejam, mas terá de librar-se ao nível mais alto do interesse dos povos, que só esse é o verdadeiro interesse nacional.

Quando há que mobilizar todos os recursos nacionais, seria esbanjamento imperdoável deixar perder no mar as riquezas irrecuperáveis que descem das safaras terras da Beira.

O Mondego é, por essência, um rio beirão; nasce e cresce nas Beiras e é já adulto quando se perde nos campos de Coimbra para ir morrer na Figueira da Foz.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A água que assim se escoa pelos veios da sua bacia hidrográfica é como sangue que escorre do corpo ciclópico da maior das serras portuguesas ...

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - ... cujo húmus e vigor (como muito bem salientou o Sr. Deputado Mário Galo) é furtado pelo impiedoso rio em benefício dos felizes campos do Mondego que ele enriquece e fecunda.

Não cabe na solução deste magno problema n consabida fórmula protelatória "vai-se estudar o problema", porque há largos anos que esse estudo está feito por forma tão completa que a supomos inultrapassável.

Apurou-se que o útil aproveitamento desta riqueza se escalonará por oito grandes albufeiras, das quais seis se' inserirão no próprio leito do Mondego, desde a origem em Asse Dasse até ao ponto final do Caneiro, com duas outras barragens nos afluentes principais: Dão à direita e Alva na esquerda.

As múltiplas facetas do gigantesco plano são já conhecidas desta Assembleia através das magistrais orações dos Srs. Dr. Nunes Barata e Dr. Santos Bessa, que o abarcaram no seu conjunto e o esmiuçaram nos seus múltiplos aspectos, na sua essência, nas suas utilidades, nas suas causas e nos seus efeitos, por forma tal que quase se lhes podia atribuir o maligno propósito de nada deixarem para os outros dizerem.

Isto quanto h planificação global do projecto, porque quanto ao escalonamento das suas múltiplas utilidades o problema foi por igual esfibrilado, desde os aspectos puramente técnicos da erosão, da florestação da hidráulica agrícola, das comunicações e do incomportável custo da energia eléctrica - os quais foram magistralmente focados pelos ilustres Deputados Mário Galo, Augusto Simões, Engrácia Carrilho e Virgílio Cruz -, até ao aspecto da beleza, do desporto e do turismo que advirá desta obra admirável, em que o útil se casa assim com o agradável. Neste ponto o ilustre Deputado Dr. Finto Carneiro fez-nos entrever, com a sua palavra colorida, o paraíso terreal que será Coimbra depois de devidamente aproveitadas as riquezas que a Beira lhe oferta.

Se, por outro lado, quisermos seccionar o tema consoante as províncias em que o aproveitamento se planifica, também não nos resta muito para dizer. Das albufeiras Asse Dasse e do Caldeirão e dos inerentes aproveitamentos hídricos e eléctricos falou com inexcedível autoridade o ilustre Deputado Dr. Marques Fernandes. E dos méritos e vantagens das albufeiras de Girabolhos, Ervedal, Ázere, Caneiro e Duo, que marginam a Beira