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12 DE JANEIRO DE 1963 1823

Litoral; o Vouga, nascido não muito longe, na serra da Lapa, por assim dizer no mesmo contraforte central das Beiras, torneia e como que abraça as mesmas regiões pelo norte. Ambos rios de planalto e do montanha, o seu curso desenvolve-se nas regiões montanhosas, por forma viva e acelerada, curso rápido, para, ao atingir a planície, ambos se espreguiçarem e alargarem em seu leito por forma tão semelhante que a geografia dos campos do Mondego se pode confundir com a dos campos do Vouga e por forma que, sobretudo na zona do litoral, não se sabe ao certo se os últimos terrenos aráveis do distrito de Aveiro já serão, ocaso, os primeiros do distrito de Coimbra.

Se me fosse permitida uma imagem que pode ser algum tanto esclarecedora, eu diria que a vasta região da Beira Alta e da Beira Marítima formam um gigante colossal, e se lhe pusermos a cabeça na Guarda o coração estará em Viseu; e os dois rios, o Mondego e o Vouga, serão os dois grandes braços aquáticos deste gigante ou então, se se quiser, as suas artérias radiais.

Promanam os dois rios, pois, do mesmo corpo, são verdadeiramente irmãos na sua fisionomia e muitu na sim origem.

Mas sobretudo suo irmãos no seu comportamento. Na verdade, Sr. Presidente, o trabalho de destruição que o Ímpeto das duas correntes pertinazmente opera pela sua acção erosiva, sobretudo nas suas cheias desordenadas e actualmente intraváveis, é perfeitamente semelhante e suscita problemas que importa não só equacionar, mas sobretudo resolver.

O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Ex.ª deu-me licença?

O Orador: - Faz favor.

O Sr. Pinto de Mesquita: - Nesta discussão tão interessante a que temos assistido há um ponto de actualidade, que é exactamente aquele u que V. Ex.ª se referiu: a erosão, por um lado, e a descarga de aluviões, por outro. Se estes factos suo catastróficos, em todo o caso temos de pensar que a grande parte dos campos da região ribeirinha da ria de Aveiro e dos campos do Tejo não existiria se não tivesse havido essas aluviões. Não se pode desprezar este trabalho dos rios.

O Orador: - Com certeza que V. Ex.ª tem toda a razão, mas não está nas minhas palavras, nem nos minhas intenções, nem muito menos nas intenções do autor do aviso prévio ou dou oradores que aqui vieram, menosprezar esse trabalho. O que se deseja é dominar a corrente dos rios para, por um lodo, aproveitar as suas potencial idades e, por outro, precisamente, defender melhor os campos e preservá-los dos malefícios da erosão.

Sr. Presidente: como se sabe, o rio Vouga interessa a uma vasta e importante região. A sua bacia hidrográfica pode medir-se à vontade por 4000 km2, estendendo-se na ária marítima desde Espinho, por assim dizer, até à serra de Buarcos, junto da Figueira, e na sua zona serrana? Confiando-se a norte pelo maciço da Gralheira, a sul pela serra do Buçaco, altos de Cantanhede e serra da Boa Viagem e a nascente pelas serras da Lapa e do Caramulo.

De formação geológica extremamente idêntica à da Bacia hidrográfica do Mondego, sobretudo nos distritos de Coimbra e de Aveiro, onde predominam os terrenos plioénicos e modernos, é também semelhante nos dois distritos, como já frisei além, a sua própria geografia, a sua paisagem, assim como são semelhantes os costumes, as radiações e até o modo de vida das populações dessas duas circunscrições administrativas, que formam a região ainda até há pouco conhecida pela designação de Beira Litoral.

Vindo das alturas da serra da Lapa, a cerca de 1000 m de altitude, o rio Vouga desce rápido no seu escalão de planalto, até S. Pedro do Sul, e desde aí toma, verdadeiramente, a sua feição de rio de montanha, até mais ou menos ao lugar de Pessegueiro da Vouga, para, nesta sua parte inferior, dai para baixo, se espraiar preguiçosamente pela planície, até desaguar na chamada ria de Aveiro, acidente geográfico da nossa orla marítima da maior importância para a região onde se integra e de que importa extrair e aproveitar todas as suas virtualidades, desde as de natureza económica e social até às de feição turística, a que o lugar admiravelmente se presta.

Voltarei um dia a este tema. Por agora o que mais interessa pôr em relevo é precisamente o aspecto do aproveitamento hidroeléctrico do rio Vouga e dos seus tributários, nomeadamente o Clima, em conjunto e na mesma medida, guardadas as condições de relatividade que se justifiquem, em que se venha a fazer o aproveitamento do Mondego, em execução de um conveniente plano regional.

O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Pinto de Mesquita: - V. Ex.ª ao considerar a vantagem e a economia resultante das despesas do transporte de energia formulou uma consideração justa e que eu teria, também perfilhado se tivesse usado da palavra no debate. Os consumidores muitas vezes nos casos em que a energia é transportada do Sul para o Norte e depois em sentido inverso, pagam muito mais, o que é um prejuízo para a economia nacional. Ora isso é que é preciso corrigir e V. Ex.ª teve inteira razão ao considerar esse aspecto. Mas essa mesma ordem de considerações mo levaria n dar predominância ao aproveitamento hidroeléctrico do Mondego sobre o do Vouga, por aquele se situar mais a sul e assim se fazer economia no transporte.

O Orador: - V. Ex.ª sabe que se situam hoje o distrito de Aveiro grandes unidades industriais, como o Amoníaco e a Celulose, que, só por si, consomem tanta energia como possivelmente toda a região. De forma que o argumento de V. Ex.º também serve à defesa da minha tese.

Sr. Presidente: é o distrito de Aveiro um dos mais importantes do País. A sua população já excede o meio milhão de habitantes e apresenta-se, no seu desenvolvimento, em linha de franco crescimento.

Neste aspecto a sua importância populacional corre parelhas com o distrito de Braga, de idêntica intensa densidade, e situa-se num nível logo imediatamente inferior ao de Lisboa e do Porto.

Vive esta enorme população muito das possibilidades do seu rio e especialmente da sua ria e do seu porto.

A ria de Aveiro, acidente hidrográfico da mais alta importância para a região, como já disse, é o produto, por assim dizer, de duas forças naturais, ou seja, pelo lado do mar, o produto da erosão marítima e aérea pela fixação na costa das dunas e medos e, pelo lado de terra, pelo depósito pertinaz das torrentes e materiais sólidos que o rio Vouga, no seu dobar contínuo sobretudo nas suas grandes cheias, vai carreando para ela. Pela construção da barra nova, a que se procedeu no século passado, pôde abrir-se a ria para o mar e ao mesmo tempo pôr-se em acção o primeiro elemento fundamental para a formação