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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 124 3090

Efectivamente, porque se. não conferiu ao ensino primário, que é o básico; a missão de estimular a cultura física e desportiva, perdeu-se ou malbaratou-se uma das suas mais importantes virtualidades.

É que a arte difícil de aprender a ler, a escrever e a contar, se fosse ministrada com a prática desportiva, racionalmente estruturada em ajustada formação ginástica, além de se tornar muito mais fácil, teria criado na mocidade o gosto pela cultura física, predispondo-a para a continuar mesmo depois de abandonada a escola primaria.

Por outro lado - que não é o- menos importante -, a prática generalizada e programada do desporto nestas escolas básicas é de transcendente importância na formação cívica da mocidade.
Tem o desporto a sua ética, composta de nobilíssimos princípios em que se afirma o respeito pela dignidade alheia e pela própria, como meios de se alcançar a verdadeira grandeza da vida.

Conhecendo-os em todas as grandes linhas dos seus mandamentos e habituando-se a praticá-los, a criança recebe uma educação muito mais completa e mais profícua.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não se compreende, por isso, que tanto se tenha vivido e se teime em viver num sistema de quase total menosprezo pelas culturas física e desportiva nas escolas primárias ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E não se compreende igualmente que nos outros graus de ensino se não reconheça a tais culturas o seu altíssimo Valor formativo e não se encaminhe a juventude no sentido do desporto, sem qualquer subterfúgio.

Mas o desporto tem um cunho universalista no sentido de que a sua prática disciplinada apresenta um amplo interesse nacional.

E que o capital humano de um país não se compõe somente das suas mocidade e juventude estudantis.

Esse capital forma-se com a integralidade da população, quê, por isso, cumpre valorizar tanto quanto possível.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quando tal valorização se faça por intermédio do desporto, que é um dos seus mais valiosos; e importantes factores, como está reconhecido em todo o inundo civilizado, importa que em nome deste se não processem discriminações nem se malbaratem as possibilidades de o incentivar uniformemente em qualquer das suas muitas modalidades.

Ora isso não se tem feito, entre nós.

A cobertura desportiva do País não tem merecido as atenções que de direito lhe pertenciam.

Temos vivido, bastante da improvisação ou do esforço isolado de alguns - principalmente integrados nos clubes - que têm actuado mais nos centros, urbanos onde existem maiores facilidades.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Desta sorte, os meios rurais permanecem confrangedoramente atrasados na sua valorização desportiva. A mocidade e a juventude que ainda por lá se conservam não se tem dado grandes possibilidades ou nenhumas de se lhe dedicarem. Por lá falta tudo, ou quase tudo, neste capitulo.

Estabelecidos os grandes planos para a construção das escolas primárias, em nenhum deles se previu que junto a cada edifício ou grupo de edifícios havia de funcionar um parque de jogos devidamente equipado para a prática racional do desporto. Construíram-se, é certo, recintos para recreio dos alunos, mas deixaram-se estes tão desnudos que não fornecem possibilidade de serem aproveitados para mais do que para as correrias desordenadas da garotada entregue a si própria!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ora as escolas primárias poderiam e deveriam ser os centros ideais para o início da actividade desportiva, dada a sua disseminação por todo o território nacional.

Acompanhando este aspecto puramente negativo do desporto escolar, as autarquias locais não se têm também mostrado interessadas no fomento da actividade desportiva.

Vergadas ao peso de incontáveis obrigações e apertadas em sufocante regime financeiro, as câmaras municipais alhearam-se de uma das suas missões mais importantes, sem se darem conta de que, propiciando à mocidade e à juventude das suas circunscrições a ocupação das suas horas de lazer na sua valorização física pelo desporto, trabalhavam na sua própria valorização política, económica e social.

E que o desporto educa mais do que a taberna ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Daqui que na maioria dos concelhos se não encontrem parques de jogos, nem clubes ou agremiações desportivas de sólida estrutura funcional, mas agrupamentos de vida permanentemente deficitária em que as boas vontades vão fenecendo ingloriamente.

E quando tais agremiações dão algum ténue sinal de vida nos domínios da cultura física e desportiva, fazem-no desordenadamente ao sabor das conveniências momentâneas e sempre com arrepiante sinal de carência.

Desta sorte, ainda mais se comprometem os grandes mandamentos da ética desportiva, sem ganho para ninguém..

De todas as grandes incompreensões do muito valor da educação física e da prática racional do desporto resulta que, em tais capítulos, o nosso atraso é, na verdade, impressionante.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É o que se tem de concluir dos conscienciosos estudos a que a Direcçao-Geral dos Desportos está a proceder com operoso cuidado.

Tive oportunidade da observar esses notáveis estudos e através dos grandes mapas já elaborados pude verificar que a cobertura desportiva do País apenas atinge as grandes cidades e uma mancha do litoral de pequena profundidade.

Tomei ao mesmo tempo conhecimento de que o número total de praticantes--desportivos no ano de 1962-1963 não ultrapassou a cifra de 114 295 em todas as modalidades, que se elevam a 38, desde a aeronáutica ao ténis de mesa e do judo ao xadrez.

Neste número se incluem 45 172 desportistas de Lisboa (cidade e distrito) e 21146 do Porto, o que significa que a estes dois distritos pertencem mais dê metade dos praticantes de todo o nosso desporto.