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4274 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 174

distrito de Braga, um problema de ordem social tão grave que não se vislumbraria solução de não fora a absorção dessa mesma mão-de-obra pelas obras dos aproveitamentos hidroeléctricos estabelecidos no Norte do País, utilização em vias de findar.
Quando da discussão do aviso prévio sobre turismo nacional, apresentado nesta Assembleia pelo ilustre Deputado Nunes Barata, o nosso preclaro colega Nunes de Oliveira referiu-se, com pormenor e larga elevação, ao aspecto da incidência da sua racional exploração sobre a indústria turística, agora tão do agrado de todas as economias nacionais.

O Sr. Nunes de Oliveira: - Muito obrigado pelas palavras de V. Exa.

O Orador: - É um aspecto positivo do problema, que agora quero reforçar com uma palavra de apoio.
Foi pródiga a Natureza para com Portugal dando-lhe tantas e tão importantes fontes hidrotermas, que colocam o nosso país ao nível dos miais ricos do Mundo neste aspecto. De norte a sul do País, de oriente a ocidente, multiplicam-se as fontes como mais uma maravilhosa dádiva do Criador para utilização dos homens na oura dos seus males físicos e até das suas doenças-morais. Corrigindo defeitos de funcionamento de órgãos vitais, que tanto se verificam na juventude como na senilidade, doenças derivadas de intoxicações orgânicas ou doenças mais próprias de idades mais provectas, a multiplicidade e variedade nas suas composições permitem uma gama de utilização que vai desde a completa paralisação do indivíduo nos ataques de reumatismo agudo até à cura das mais estranhas doenças do aparelho circulatório, passando, por assim dizer, por todos os males físicos que atormentam o homem.
Desta tribuna, mais usada para chamar a atenção do Governo para os problemas de ordem nacional que se apresentam aos nossos olhos de representantes do povo, não fica mal chamar-se a atenção de todos, e sobretudo da classe médica, para o valor terapêutico que representam as águas mineromedicinais e ainda para o seu valor económico e social. Â hidrologia médica rumo científico que a classe médica portuguesa tem necessidade de conhecer com profundidade e consciência, pois que só consciencializando o seu estudo e crendo na utilidade das águas medicinais como elemento terapêutico de valor e prescrevendo n sua utilização como remédio há possibilidade de pôr ao serviço da saúde pública este eficaz meio de regeneração e robustecimento da raça e contribuir para um notável aumento da riqueza nacional.
A terapêutica científica actual, nas suas mais modernas tendências, considera que a terapêutica clínica tem como missão colocar ao serviço do homem que padece todos os conhecimentos e meios capazes de devolver-lhe a saúde sem exclusivismos e sem limitações.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Como adjuvante dos tratamentos clínicos, apresenta-se a utilização das águas medicinais no tratamento de doentes como elemento de primeira grandeza, quer pela sua acção imediata e directa sobre a doença em si, como também pela acção indirecta do período de repouso a que obriga sobre o estado psíquico do enfermo, que é a maior parte das vezes um elemento que escapa ao tratamento directo das drogas que os grandes laboratórios apresentam para cura de quase todos os males.
As nossas águas mineromedicinais aí estão espalhadas por todo o País, com uma exuberância que é benesse de Deus e com uma composição tão variada que poucos males haverá que não possam ser atenuados ou minorados com uma ou com outra. Do Minho ao Algarve elas multiplicam-se com abundância e generosidade: Monte Real, Vimeiro, Caldas da Rainha, Monfortinho - onde um esforço tenaz está valorizando, assim, a região -, Aregos, Vidago, Pedras Salgadas, Carvalhelhos, Chaves, Canaveses, Entre-os-Rios e, no Minho, Melgaço, Monção, Vizela, Taipas, Caldelas, Eirogo e Geres. Todas elas são mãos ou menos conhecidas de doentes a quem prestaram os serviços melhores que se podem prestar a qualquer homem: a restauração da saúde ou a melhoria do estado geral do doente.
Vistas à luz do facto económico, a importância da diminuição dos dias de baixa por doença ou invalidez e a diminuição de reformas por invalidez constituem um caso de tal grandeza ou valor que a utilização de todos os recursos disponíveis se torna indispensável para a sua efectivação.
Países como a Itália, a Alemanha e a frança criaram nas suas escolas médicas cátedras especiais de hidrologia, institutos e centros de hidrologia e multiplicaram a instalação de balneários para tratamento de doentes e para completa recuperação de enfermos, pondo ao serviço da sociedade os ensinamentos, e os meios da moderna hidrologia médica.
A incidência da utilização das águas mineromedicinais no aspecto turístico nacional, como o notou o Deputado Nunes de Oliveira, é de tal importância que, por si só, justificaria um investimento importante da parte do Estado para a melhoria de acomodações e sistemas de tratamento tal que permitisse uma propaganda, séria e honesta, no estrangeiro do verdadeiro valor das nossas águas termais. Como elemento de informação, dizemos que ainda há poucos anos um quinto por cento dos turistas estrangeiros que entravam na Alemanha utilizavam as suas férias nos tratamentos termais naquele país; há estâncias termais alemãs com uma frequência anual de cerca de 1 milhão de aquistas.
Acrescente-se, como nota de valor, que cada doente se encontra imobilizado na região de tratamento ou seus termos pelo menos quinze dias, e imagine-se o que isso representa como unidades de trabalho para a população local, desenvolvendo a indústria da região, o artesanato e a agricultura, favorecendo assim as forças centrípetas que impedem as acumulações de pessoas nos centros urbanos, que é causa de um dos desequilíbrios de povos, consequências suciais e morais dos nossos tempos.
Paradoxalmente, Portugal, sendo a nação mais rica em qualidade e quantidade - relativa - das suas águas mineromedicinais, é aquela que menos frequência apresenta nas suas termas.
A totalidade dos aquistas de todas as estâncias termais portuguesas é inferior a de uma estância mediana da França, da Alemanha ou da Itália.
Não existe qualquer estímulo ou auxílio oficial, vive-se em regime deficitário, não temos balneários, nem hotéis, o que temos é pobre e pouco vale, nem hospitais, nem centros de recuperação, nem institutos anexos às estâncias que possibilitem o estudo das nossas águas e das tuas reais qualidades terapêuticas. E contudo, dadas as principais características da nossa riqueza hidrológica
- possuímos no Geres, no Eirogo, etc., as águas mais ricas, no género, de todo o Mundo -, mercê da prodigalidade da Natureza, podemos afirmar, sem receio de desmentidos, que quase todos os nossos doentes crónicos beneficiam ou curam em contacto com as nossas águas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!