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4634 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 19

O Sr Marques Fernandes: - Sr. Presidente, Srs Deputados Desde há muito se vem dizendo que o Mundo está a atravessar uma crise mais que grave, porque gravíssima
Os interesses económicos, eivados de um espírito materialista, a roubarem o lugar aos princípios espirituais do reinado da justiça e da equidade
Creio que esta afirmação não está sujeita a contestação
Ë aquilo a que pode chamar-se uma verdade axiomática, fora do âmbito da discussão
No fundo desta crise, como única causa perturbadora das sociedades em que vivemos, aparece o homem, deformado pelos vícios, pelas paixões, pelos interesses e pelas conveniências
O homem não se realiza na plenitude do fim pana que foi criado, e daí as injustiças e os desmandos, numa palavra, a crise dos males que sofre e que transmite às sociedades e ao Mundo
O homem, ma grande generalidade, a não vivei como pensa e, porque assim é - como diz o filosofo -, em breve a pensar como vive
O amor a Deus, à Pátria e à Família, à santa teologia dos valores eternos, afasta-se decididamente dos princípios comunistas Não deixo, no entanto, de ser grande admirador dos comunistas, pela segura convicção de que são eles os que melhor vivem e melhor servem o ideal que professam
Dizem que são poucos Talvez não sejam tão poucos como se diz Em todo o caso, a sua dedicação e valentia, que o mesmo é que dizer a sua qualidade, supre de forma inimitável a quantidade. De modo inconfundível, sujeitam-se aos maiores riscos, ao risco da perda da própria liberdade - o maior dom que Deus concedeu ao homem - e que a cada passo põem em jogo, comprometendo-se e comprometendo-a
Apesar de à frente da sua imaginação, como espectro fixo, aparecer sempre o aljube, e dentro dele a solidão, sem vacilar, sem hesitações, avançam firmes e fortes para o desempenho da missão que lhes foi confiada. Até mesmo nos próprios tribunais, encarando de frente os seus julgadores, proclamam os ideais que servem, como que a pretenderem conquistar adeptos que engrossem as suas fileiras
Fazem lembrar os católicos dos primeiros tempos - do tempo das perseguições-, que, ao serem lançados às f eras, sem medo de nada, nem da própria morte que se avizinhava, cantavam as glórias do Senhor que serviam
Uns e outros, embora com ideais opostos, verdadeiros homens em todo o significado do teimo Trabalham e servem os ideais que professam, com tal desinteresse e dedicação que nos envergonham e esmagam ao estabelecermos termo de comparação entre as nossas e as suas actuações
Um ideal, a meu ver, sem atractivos de espiritualidade e de amor No entanto, servem-no com denodada devoção a intransigentemente por ele se batem Se invejo os comunistas como nacionalista, não menos inveja me fazem como católico
£ nós, militantes em campo oposto ao deles, como nos batemos pelos ideais que dizemos professar?
Se falo dos ideais de ordem temporal, que a morte apaga, não devo, nem quero, esquecer os ideais de ordem sobrenatural, que se perpetuam por toda a eternidade
A resposta à pergunta formulada é dada pelo grande bispo americano Fulton Sheen ao afirmar que o Padre Eterno deu-nos um Cristo com uma cruz Nós pegamos no Cristo e largamos a cruz Os comunistas, ao contrário agarraram a cruz e abandonaram Cristo

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Confesso que, apesar de católico, não s quem ficaria com o melhor quinhão E que se não fosse a cruz não haveria Cristo O que equivale a dizer que só na cruz Cristo se realizou em plenitude
Nós somos, na verdade, os fomentadores da crise que o Mundo atravessa e que tem por base a falta de carácter e de dignidade. É o sair dos caminhos direitos e passar a maior parte da vida por atalhos e veredas escusas
Não se vive em estrita obediência com os princípios que informam as nossas personalidades, e daí depararem-se-nos a cada passo personalidades sem personalidade, despersonalizadas
Este o motivo determinante da falta de coincidência do dever ser forte e alinhado com o ser anémico e sem destino marcado
A procura de um viver fácil - como seria a de um Custo sem cruz -, para que os prazeres e os interesses aliciantemente arrastam, faz do homem, qual catavento, determinar-se por um móbil que nem sempre cabe dentro do ideal que procura atingir e alcançar. Falta-nos virilidade nas atitudes tomadas, e por isso deixamo-nos arrastar por sentimentalismos a maior parte das vezes doentios Se, por exemplo, nos pedem informações de um amigo ou de alguém com quem simpatizamos, esquecemos os seus defeitos, para o encararmos apenas através das suas virtudes
Se as referências respeitam a um inimigo ou a alguém com quem antipatizamos, encaramo-lo só através dos seus defeitos, esquecendo as virtudes que em maior ou menor grau também possui
Isto não é sério, isto não é honesto, isto não é digno
Todos nós temos o nosso ideal de justiça, mas [...] procurarmos alcançar qualquer posição que melhore situações, quem se atreve a fazê-lo sem ir à frente a velha recomendação, vulgo cunha?
E deste modo se procura tornar realidade as aspirações que idealizamos.
E tudo isto porque a confiança no espírito de justiça dos homens se encontra deveras abalada
Não quero referir-me a nenhum acto de injustiça que a mim ou aos meus nos tenha atingido
Não tenho queixas a fazer de ninguém, por pessoal mente, ou como chefe de família, me sentir prejudicado nisto ou naquilo
Apenas me queixo de me terem aproveitado para representante da Nação nesta Assembleia
Desta única razão de queixa, de que a consciência me dá nota, já perdoei Assim W Ex.ª, Sr Presidente e Srs. Deputados, me perdoem pelo tempo que lhes venha roubando com tanta benignidade como eu o fiz
Não apoiados

As sociedades são constituídas por homens de que todos fazemos pai te
Mas quando actuamos determinados pelo vício daí paixões e dos interesses pessoais, em prejuízo da colectividade, quando agimos ao sabor dos ventos e das mo das, sem um rumo fixo, sem um ideal superior, come havemos de pisar forte na vida em perfeito equilíbrio moral e intelectual?
As nossas fraquezas, contaminam, contagiam, de ta modo, que as sociedades se ressentem, adoecendo e inferiorizando-se, criando um mau ambiente que envenena quem o respira, transmitindo-se ao campo internacional
Os tempos em que os bons exemplos proliferavam parece terem passado, deixando de actuar como meio d apostolado. Hoje só os maus exemplos proliferam e se propagam a velocidades supersónicas