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19 DE JANEIRO DE 1967 1043

Sr Presidente e Srs. Deputados Peço licença a VV. Ex.ª para referir aqui com certo pormenor o trabalho de algumas instituições que sob diversas formas e objectivos ou visam à formação e educação das juventudes do meio rural ou apenas estendem a sua acção até junto delas.
Desejo esclarecer que num país como o nosso, em vias de desenvolvimento, o conceito de meio rural vai muito para além dos limites da aldeia.
Se analisarmos os estratos da população activa do continente e ilhas adjacentes, fácil é de concluir que cerca de dois terços do País, pequenas cidades, vilas e aldeias, se enquadram perfeitamente no meio rural, dada a fraca expressão económico-social de outras actividades não relacionadas com a actividade agrícola.

aqui a razão da importância -pelo número e qualidade- que se deve atribuir às gentes do meio rural.
Como ia dizendo, irei destacar instituições que, apesar do seu trabalho específico, não deixam de executar uma acção educativa do maior interesse.
Temos já exemplo, o Ministério da Economia, através da Secretaria de Estado da Agricultura, e o Ministério das Corporações, este através das Casas do Povo, com as suas actividades destinadas à formação profissional e elevação do nível cultural dos jovens através de cursos e outras manifestações com igual objectivo.
Justo é destacar o nome do Eng.º Quartin Graça, que, quando Secretário de Estado da Agricultura, criou um serviço destinado à educação familiar rural.
O pós-guerra, além de muitas consequências - boas e más -, trouxe um despertar do mundo rural que os responsáveis dos respectivos países tomaram na devida conta, estudando e deliberando da maneira considerada mais adequada.
Todos desejavam que fosse próspera a agricultura do seu país, porque todos tinham consciência de que dessa prosperidade dependeria a economia e o engrandecimento da Nação. Mas não era actuando exclusivamente junto do agricultor que se atingiria esse objectivo.
E então, por toda a parte, surgiram iniciativas destinada; ao ensino, formação profissional, humana, moral e sociológica, não só do agricultor, mas de toda a sua família, com especial incidência junto dos jovens de ambos os sexos.
Os Estados Unidos da América foi dos países que primeiro se lançaram nessa campanha de elevação dos meios rurais pela educação e valorização das respectivas populações.
Desse trabalho de formação e educação realizado em conjunto e sempre por técnicos com espírito de colaboração e entreajuda, para maior rendimento desse trabalho, resultou uma agricultura extraordinariamente bem organizada, próspera e feliz.
Em Portugal, as coisas, neste campo, nem sempre são vistas com a preocupação de servir preparando o futuro, e limitamo-nos a uns ensaios levados a cabo com receio, talvez do ridículo.
Com inexcedível dedicação e espírito de sacrifício, um reduzido número de técnicos -na maioria senhoras-, superando um mundo de dificuldades, incompreensões conceitos antiquados, passividade, ideias feitas -género «não vale a pena», «não interessa», «dá muito trabalho», «para que serve isso», etc. -, etc., fundaram 32 centros fixos e 46 centros móveis. A ritmo cada vez maior estão sendo solicitados novos centros, apesar de as perspectivas, em relação ao ano de 1967, serem francamente desoladoras Para o nosso país, o que internacionalmente se designa por economia doméstica rural toma a designação de
extensão agrícola familiar, é considerada como um serviço de educação extra-escolar, não formal, destinada a preparar as famílias para a adopção de técnicas aperfeiçoadas Dentro deste prisma, a economia doméstica rural situa-se no âmbito da formação profissional.
Pelo conhecimento que tenho do grande atraso em que se encontram os nossos meios rurais e do que isso reflecte no panorama económico e social do País, pode-se afirmar, sem receio de ser considerado exagero, que Portugal necessita, com a maior urgência, de um serviço de extensão agrícola familiar devidamente estruturado e utilizando métodos evoluídos dentro de novas perspectivas que se destine não apenas às raparigas com mais de 14 anos, filhas de agricultores, mas também aos rapazes filhos de agricultores, porém, neste último caso, orientado nos moldes convenientes.
A aceitação deste serviço excede todas as expectativas, mesmo as mais optimistas, graças à compreensão das populações atingidas e, sobretudo, ao desejo de se elevarem e de se realizarem Apesar do êxito alcançado e da expansão que lhe foi dada, o número de raparigas contempladas é da ordem das 10000 - sendo alguma coisa, pouco é para o imenso que falta realizar.
Um apelo faço a S. Ex.ª o Ministro da Economia, que em seu elevado critério de estadista eminente não deixe de dar o apoio necessário que permita uma maior projecção do serviço de extensão agrícola familiar, pois é necessário andar mais depressa, com realismo, actualidade e nível que satisfaça as realidades de um mundo rural em rápida evolução e exigente de técnica aperfeiçoada, não vá acontecer que, a curto prazo, quando se realizam novos cursos, já nada restem senão «cadáveres» de aldeias, quais fantasmas acusando-nos de pouco termos lutado pela sobrevivência de um mundo rural menos duro e mais humano
Aliás, nestes últimos vinte anos da revolução nacional, não foi propriamente a falta de dinheiro que travou o desenvolvimento do sector agrícola. Foi, sem dúvida, a falta de instrução e educação insuficiente nos diversos estratos da população activa agrícola, que descurámos e que, desprevenidos como estávamos, não temos podido acompanhar no mesmo ritmo verificado noutros países. O que, porém, me parece de maior gravidade é de neste sector não estarmos preparados, nem em legislação, nem em medidas adequadas, às tarefas do mundo que se avizinha.
Na sequência da problemática que tenho estado a analisar, impõe-se uma palavra de justo reconhecimento para os movimentos de juventude que se encontram sob a vigilância atenta, carinhosa e experiente da Igreja - a Acção Católica-, cuja actividade dedicada à formação e educação dos jovens não podemos coarctar.
Estes movimentos, orientados para os diversos meios, desde o rural ao universitário, que os despertam para uma tomada de consciência, têm uma actividade vivificante na medida em que, para além da formação cristã dos membros, lhes disciplinam a vontade, formam o carácter e despertam o culto das virtudes. Além das finalidades específicas, inerentes ao meio e destinada à formação dos seus membros, leva-os, por dever de caridade e pela exigência da natural inserção na vida social, a colaborarem na construção de um mundo melhor. É, além de um movimento apostólico, um movimento vincadamente educativo.
Pelo aperfeiçoamento pessoal das elites atinge a massa e assim pode operar a transformação dos ambientes, leva a massa a reflectir sobre as realidades que a cercam