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19 DE JANEIRO DE 1967 1037

tegram sem que de todos os esforços e tentativa saísse diminuído ou deformado o «homem» que se pretendia plasmar.
Pelo contrário quando por estas coisas se guarda o respeito decido, então na mesma definição do homem se descobrem forças capazes de formar uma personalidade no jovem de qualquer época e de edificar e consolidar uma soledade, pequena ou grande.
Quanta força se oculta na lógica do intelecto que reflecte e se firma em princípios imutáveis, fixando coerência ao pensamento e entre este e a conduta do indivíduo! É neste terreno que germina, se desenvolve e se robustece o espírito de justiça, floração natural do espírito de verdade. Verdade e justiça! Eis o binómio, principal força estabilizadora de qualquer sociedade. É por isso que em todos os tempos e em qualquer latitude os pais, mesmo os mais rudes e selvagens, levados por um instinto de defesa da própria sociedade, sempre castigaram severamente a mentira dos filhos.
Com efeito, ninguém, quer na vida públ.ca, quer na vida privada, quer na actividade oficial, quer na particular, quer nas funções profanas, quer nas religiosas, ninguém pode enfraquecer ou desvirtuar a força da verdade, que informa o princípio da coerência e o espírito de justiça, sem ao mesmo tempo comprometer igualmente a formação autêntica da juventude que o presenceia.
Seria bom que neste ponto se examinassem detidamente, honestamente muitas consciências numa hora de solidão.
A quebra desta lógica de pensamento e desta coerência de atitudes pode representar no ultramar até perigo político, na mesma medida em que se provoca necessariamente uma grave diminuição na confiança do nativo no homem europeu, no português metropolitano, levando-o a evitá-lo ou mesmo a odiá-lo.
Outra força a respeitar na definição do homem, e, portanto, na personalidade do jovem, é o princípio da liberdade, que, por assim dizer, essencializa a sua vontade e a sua própria personalidade. É força tão explosiva, tão profunda no homem, que quanto mas se comprime mais perigosa se torna. Dir-se-ia quase da mesma natureza das grandes forças que a Natureza esconde nas entranhas profundas da terra e que nau têm outra boca para falar senão a boca de um vulcão se a ciência e a técnica dos homens não lograrem compreendê-las e aproveitá-las. Mas se o homem guarda tão ciosamente a sua liberdade e a defende com tanta tenacidade, e até com violência muitas vezes demoníaca, é porque o instinto da vida - que tem por um dos principais atributos a liberdade de decisão e de movimentos- o levou a descobrir aí algo de muito sagrado, qualquer coisa que o define como pessoa humana! Pois não é aí que radica toda a sua capacidade de mérito e demento? De direitos e de deveres?
Como podei á, pois, o jovem formar-se no verdadeiro conceito e plena consciência de responsabilidade sem que parta da base de uma legítima expressão de iniciativa e de personalidade?
Quando isto não é respeitado, sabemos quanta engrenagem se monta, não se sabe paia quê, difícil de definir difícil de detectar e mais difícil ainda de destruir!
Mas entendamo-nos. Liberdade, no sentido positivo, no sentido que constrói, é liberdade ao serviço da vida, não contra ela. Não para a desvirtuar, para a desviar do seu fim lógico, natural Portanto, a sua zona de decisão e de movimentos é só a zona do bem. É por isso que a liberdade tem de estar condicionada à verdade e à justiça. É por isso que ela tem de admitir o princípio de obediência à legítima autoridade. Mas não nos recusemos a ver, muitas vezes nos nossos próprios erros, o verdadeiro motivo do inconformismo e até de certas revoltas dos jovens.
Prosseguindo na definição do homem, descobrimo-lhe no coração -símbolo e sede tradicional do amor-, descobrimos-lhe aí esse mistério insondável imensurável potencial afectivo, enorme força vital, ínsita na natureza humana, para garantir a propagação da espécie e a sua conservação e aperfeiçoamento no tempo e no espaço. Essa mesma força misteriosa é princípio de vida, porque a transmite de geração para geração. Princípio de coesão da família, porque lhe confere estabilidade harmonia, paz e felicidade. Também é força aglutinadora de qualquer corpo social, precisamente porque aproxima e une entre si os seus membros e lhes incute o instinto colectivo da defesa do património comum.
Mas, acima de tudo, é aquela foiça indefinível que irrompe do mais fundo do homem e o projecta no Infinito, ao encontro de Deus, na trajectória de uma felicidade infinita!
Porém, o amor, do mesmo modo que a liberdade, carece, paia não se tornar perigoso e destrutivo, de constante subordinação à verdade. Aquela verdade serena, luminosa, que lhe aponta o rumo exacto e o seu objecto próprio e condigno e lhe dá a devida altura. Quando, pois esta misteriosa força afectiva errando a trajectória apontada pelo Criador, se alia a uma outra força incontrolada - a liberdade sem limites -, tudo se pode temer dessa nefasta aliança. É que o amor é força que opera a grande profundidade. E, quando nessas profundezas se apaga a luz da verdade, que dá as perspectivas exactas da situação, tudo pode acontecer nesse mundo subterrâneo, onde se malbarata a saúde e se consome a fortuna, se conspurca o nome próprio e o da família onde se «mata o tempo» - o presente e o futuro - e se mata igualmente o gosto do trabalho e o sentido da honra e da dignidade.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: -É um mundo onde se evitam testemunhas, porque estas só a verdade e a luz as desejam! Mente-se por instinto de defesa, por hábito, substitui-se a franqueza a abertura da alma, pelo refolhamento; a lealdade e a dedicação pela astúcia e por um egoísmo feroz que mordo, mesmo quando beija, a amizade serena e sã pelo interesso vil e por um intercâmbio inconfessável, eriçado de pequenos ciúmes, despeites, desconfianças e traições mútuas.
Daqui se podei á conjecturar toda a extensão da catástrofe que preparam e fomentam todos aqueles que através do negativismo amoral de certa literatura, do despudor atrevido da pornografia que se expõe nas livrarias e tabacarias, através do cinema e certas cenas do palco da promiscuidade procurada na praia, de certas ousadias em lugares públicos ou através da quase ubiquidade da rádio e da televisão, esterilizam a pouco e pouco esta pobre patim das suas melhores virtualidades e do seu próprio futuro de que é portadora a juventude de hoje.

Vozes: -Muito bem!

O Orador:-Num momento considerado grave da nossa história, em que se apela para o patriotismo e o sacrifício de todos os portugueses para a defesa da integridade do território nacional, não será por certo menos legítimo esperarmos que igual atenção venha a merecer