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1036 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 58

propriamente num elevado apetrechamento intelectual e formação técnica da nossa juventude. Procura-se mais a valorização do ser do que do sabor do «ser homem», integralmente homem, cristão e português, acima do meio «saber qualquer coisa» ou «saber muita coisa»
Pareceu-me que esta era a conclusão natural de uma tessitura que mo deixara no ouvido o notas de um tema melódico de crise a crise da juventude. Já antes havia lido juízos convergentes. Mas depois, o já aqui, durante o debate do aviso prévio que nos ocupa, fui surpreendido por opiniões, certamente bem fundadas e autorizadas, que contraditavam aquelas primeiras.
Agora pergunto existo ou não uma crise da juventude em Portugal?

A resposta depende da definição que se tiver de dar no termo «crise» em função do valor - juventude portuguesa. Só por «crise da juventude» se pretender definir uma- juventude viciada, turbulenta perturbadora da ordem, rebelde a toda a autoridade- doméstica, pública religiosa-,vazia do sentido de responsabilidade, despersonalizada, pervertida, precocemente envelhecida, julgo poder e dever animar-se, louvado Deus, que o nosso panorama juvenil e bastante mais- tranquilizadora do que muitas situações congéneres revelada e agravadas lá fora.

orém se por «crise da juventude» se entendei apenas uma nefasta convergência de factores corrosivos que insensivelmente, traiçoeiramente, vão desgastando, destruindo, nos nossos jovens, o que neles há de bom e de esperançoso para o futuro da Pátria, e tudo isto paralelamente a uma certa apatia nos sectores donde deve a costuma partir a palavra ou a atitude e a acção de Informação, de disciplina, de repressão - quantas vezes necessária, paralelamente ainda a determinadas hesitações coincidentes com a pusilanimidade, a vaidade pessoal ou o comodismo individual, que teme comprometer-se e ainda a um especioso [...] de pensamento e de conduta retrato daquela prudência que começa sempre por ser muita, depois e demasiado e no fim é só prudência, se é assim que se pretende definir a afirmada crise da juventude, então penso que será honesto quem confessai que existe uma crise da juventude em Portugal.
Afigura-se-me ser neste sentido que porventura se de vera interpretar a oportunidade do aviso prévio em debate, sob pena de o mesmo redundar em mero pleonasmo de outro aviso prévio sobre a educação, discutido nesta Câmara na sua última legislatura, ou de se desvirtuar em fastidiosa redundância e deselegante antecipação a medidas já oportunamente anunciadas e estudadas pelo Governo e prestes a entrarem em vigor.
Partindo deste statu quaestronis, teremos de convir que está em jogo uma causa sagrada, em que a Pátria de todos nós reclama de cada português o que cada um «pode», cada um «sabe» cada um, «tem» poder dos que mandam, dos que legislam, dos que governam, dos que administram dos que controlam, saber dos que ensinam e educam inteligência e vontades novas, dos que pastoreiam almas, dos que formam e informam a opinião pública e a cultura nacional, ter dos que acumulam e informam fortuna que o suor dos maiores legou ou o solo pátrio oferece.
Mas, senhores sem invencionarmos tecer panegíricos a ninguém, teremos, contudo, por simples imperativo de justiça e dever de gratidão teremos de reconhecer que neste grave empreendimento de salvaguardar, através de uma conveniente educação, a nossa juventude, nem tudo ficou por fazer. Bem ao contrário, já muito se tem feito. Mas, se assim é, porque então um aviso prévio sobre a educação, um alarme?
É porque a hora é grave. E quando se trata de mo mentos da história como este, que nos desafia, e ao mesmo tempo se entra em problemáticas de tamanha vastidão e tanta complexidade como a de formar gerações paia o futuro, por muito que se tenha feito sempre pouco parecerá, sobretudo se se partiu do zero ou se veio de um deficitismo educacional comprometedor como aquela a que aludia Salazar naquelas palavras pronunciadas em Viseu, numa conferencia em de Dezembro de 1909.

Extraordinária obra - dizia o Prof. Doutor Salazar - é formar um caracter, um indivíduo - um corpo, uma inteligência e uma vontade - como os precisa para ser grade este pobre país de Portugal. São as ideias que governam e dirigem os povos e são os grandes homens que têm as grandes ideias. E nos não temos homens, e não tomos homens porque e não formamos, porque não nos importaram nunca métodos de educação.

Além de tudo, meus senhores, teremos ainda que admita que também aqui acontece como na parábola evangélica do joio que «um homem inimigo semeou no meio do trigo» e que com este cresceu, sempre com ele misturado e roubando-lhe pujança até ao tempo da colheita! E tudo pôde acontecer, enquanto os operários da parábola dormiam o sou necessário e merecido sono nocturno!
Mas não é com negativismo objurgatório que se prepara e se constrói o futuro da nossa juventude, alma da Pátria de amanhã. É preciso algo de mais positivo.
Sr Presidente, Srs Deputados. No processo da educação a primeira realidade a considerar no jovem é o valor «homem». Isto quer sobretudo dizer que toda a obra educativa partir desta linha e desenvolver-se dentro das exigências da definição integral do homem. Este e corpo o espírito. É inteligência e vontade livre. É, coração e pessoa. Inteligência e, orientada para, a verdade, como seu elemento e objecto próprio. Vontade livre, gravitando e movimentando-se no espaço de tudo o que se identifica com o bem como sua meta natural Coração feito para lhe dar capacidade de amar e ser amado Pessoa, porque é sur piris, capaz de direitos e de deveres.
Há em tudo isto uma integridade de natureza e de estrutura a respeita. Uma hierarquia não só das peças da estrutura, mais também das suas respectivas, funções específicas exclusivas, como ainda uma inata correspondência a entre cada faculdade e o seu objecto próprio, uma força de correspondência que a impulsiona nesse sentido. Deste modo o corpo não podo sobrepor-se ao espírito. O sensorial não terá mais que o significado de preciosa instrumentalidade subsidiária a do espiritual. E no âmbito do espiritual, o efectivo e o volitivo subordinados ou consequentes ao intelectivo. Precisamente porque o coração e a vontade são cosas cegas que só poderão atingir o seu objecto quando este tiver sido detectado e iluminado pela faculdade intelectiva, segundo velha máxima filosófica tantas vezes invocada.
Tudo isto nos conduz à afirmação de que qualquer experiência ou acção educativa que ignorasse e violasse os termos da definição do homem distorcer a inevitavelmente a coisa definida. É que na vida - actividade de ser- se pode corresponder definir o homem aquilo que correctamente o define do ser. Por outro lado, não se poderia nem tão-pouco violar a integridade de natureza e de estrutura no jovem nem perturbar ou subverter a hierarquia e correspondência de valores que o in-