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19 DE JANEIRO DE 1967 1031

de incenso. O que ela quer e exige é verdade e lealdade. Só por isso, e sem me conformar com desmandos de uns e a indiferença de outros - que se observam pelo Mundo, especialmente além-fronteiras -, recuso incriminá-la.
A culpa é Aos adultos, dos mixordeiros da cultura, de quantos no livro, revista ou jornal, no cinema ou televisão, palestra ou colóquio, na rua e na cátedra, bombardeiam constantemente a cidadela da juventude com fogos cruzados, que lançam na atmosfera cortinas de fumo e virulentas tos nas de embalagens sedutoras.
Começo por lembrar, com Frantz, que os povos europeus nunca devem esquecer que, antes de franceses ou alemães, foram cristãos, e que foi pelo cristianismo que vieram a ser o que são e constitui motivo de glória para a Europa e fonte de proveito para todos os homens. Se a generalidade dos Europeus ascendeu à e cidadania civil, graças ao sangue dos mártires e ao sacrifício dos missionários - monges, clérigos e bispos -, como S Patrício, Columbano, S Bonifácio, S Martinho e Alcuíno, se a Europa for colonizada pelos mosteiros, como consta das fontes mediais e foi magistral e oportunamente sublinhado pelo Prof. Doutor Leite Pinto, todavia, as palavras de Frantz assumem pertinência especial quando aplicadas ao nosso país.
Sr. Presidente Portugal nasceu cruzado das Cruzadas e da alma do nosso povo, baptizado no próprio sangue, treinado soldado e missionário desde o berço As raízes que seguraram a sua independência fincam-se no chão da fé, como já assinalou nesta Assembleia o Sr Presidente do Conselho

Nascemos já como Nação independente no seio do catolicismo, acolher-se a protecção da Igreja foi sem dúvida acto de alcance político, mas alicerçado no sentimento popular.
E, com efeito, a fé cristã foi a grande mola dos movimentos da reconquista. Foi ela que trouxe à Península os cavaleiros franceses. Do cristianismo procede Cluny, de Cluny, o estreitamento das relações com Roma, o auxíl o da França e da Igreja contra os invasores ocupantes, o casamento de Afonso VI com D Constança e a vinda de D Raimundo e D Henrique, pai do futuro fundador.
Em D Geraldo, bispo de Braga, em S Teotónio, prior da Sé de Viseu, e em D João Peculiar, antigo estudante em Pai is, fundador do Comento de Lafões e arcebispo de Braga, encontrou D Afonso Henriques excelentes amigos e conselheiros e fortes apoios diplomáticos e até militares.
Se não fora Afonso Henriques as Cruzadas, os cavaleiros cristãos, a consquência custa oprimida, mas não submetida, as ordens religiosas militares reconquistadoras, os conventos e bispados povoadores e arroteadores de campos, de florestas e de inteligências virgens, se não fora, sobretudo, a sombra protectora da Santa Sé, Portugal seria hoje uma província espanhola, à face da geopolítica, em que pese o fatalismo económico.
Não é irrelevante acentuá-lo no abordar o problema da juventude, pois uma das tarefas do educador é conhecer o sujeito da educação. E pretender sacudir uma herança milenária seria erro imperdoável e monstruoso constituiria uma espécie de sismo ou terramoto psicológico.
Sr. Presidente. O homem não é um produto de cosmos, nem sai em série das retortas de um laboratório Obra de Deus, entidade de raízes metafísicas e de estrutura essencialmente igual mas com notas individuais inconfundíveis e inserida num contexto familiar, sociológico e histórico. O homem português tem de ser considerado no contexto português Fora desse contexto, a educação defrontaria barreiras intransponíveis, ressentir-se-ia sempre como a criança removida do seio materno para uma incubadora A verdadeira educação tem de ser «eminentemente nacional», como frisou um dos grandes desta Casa, Almeida Garrett. Estamos saturados e os jovens desiludidos com uma pedagoga abstracta, de rebanho, impessoal, unilateral desnacionalizante e desumanizada, tão experimental como inexperiente, muito mais sectária que científica.
Muitos dos chamados modernos tecem teorias com bolas de sabão cor-de-rosa ou alicerçam sobre a dúvida movediça como areia, ou em cima do lodo do materialismo Travejam com borne e cobrem com palha.
Tudo se desmorona e submerge, ou queima com a primeira faúlha da paixão. A realidade é que toda a educação supõe uma filosofia, que uma pedagogia completa supõe uma filosofia completa, como advertiu Spalding, que as correntes pedagógicas reflectem os fluxos e refluxos das doutrinas filosóficas, que o valor de uma doutrina sobre educação depende do valor da sua concepção do homem e da vida, como lembrou M. Butler, e que todos os problemas capitais de filosofia podem reduzir-se a um só que é o homem e qual o seu destino?
Por isso lamentava-se um dos mais destacados pedagogos recentes.
Falamos muito do século da criança porque temos muitos métodos novos, porém os séculos passados foram mais fortes e mais sólidos em pedagogia, porque o centro da educação não está tanto no homem mortal como na verdade imortal. Em muitos do pais modernos há falta completa de verdades certas e não se atrevem a proceder, a sua própria convicção é demasiado vacilante para convencer uma criança.
Sr. Presidente. Não se pode educar na duvida. E o relativismo de todos os matizes, sempre inconsistente, em que se distingue do cepticismo? Fichte desorientou o génio de Herbart, quando este era estudante de 20 anos. E a tal ponto que o jovem Herbart, nas margens do Saal chegou a pensar em atirar-se ao no, para se libertar do espínto de dúvida que tiranizava a sua inteligência e enchia de terror a sua alma.
Foi a dúvida a traça que se infiltrou no cérebro de Antero e o transformou em farinha, mais para queimar que para pensar, empurrando-o para o desespero. Não obstante, ainda num recente ponto de exame de Filosofia parecia sugerir-se, com autoridades estranhas, que a filosofia está mais em fazer perguntas que em dar respostas? Então que valem perguntas sem resposta? E até quando andará à deriva a nossa juventude, enleada num rosário de opiniões, em vez de apoiada nas grandes certezas da vida?
Toda a educação autêntica tem de assentar nesta realidades o homem, é um ser moral. Esta verdade não se cala, manifesta-se na filosofia e na história, nos códigos e nas instituições no instinto e na razão. Fala e grita, dentro da nossa consciência. Foi, efectivamente, na consciência e na vida que Saint-Exupéry descobriu a fronteira entre o bem e o mal, no que alguém tem de fazer nu não fazer, sob pena de ser um homem ou ser um porco.
Um dos maiores génios pedagógicos dos últimos tempos observou que a pedagogia tem vivido na grande ilusão do século XVIII supondo que basta a instrução para os homens se conduzirem dignamente Esta pedagogia.