19 DE JANEIRO DE 1967 1029
e espera dois anos pelo pagamento dos produtos, paga maiores contribuições, mais caro o vestuário, o calçado, os telefones os transporte, tudo quanto, enfim, o constante aumento de custo de vida ocasiona e lhe toma a vida mais difícil e angustiosa.
E os produtos da teu a dessa terra tão onerada?
Esses permanecem para defesa dos consumidores. Enriquecem os que fabricam os, adubos, os que vendem os vinhos e as fintas os que fabricam o pão, etc. , mias o que produz o que investe e se sacrifica no contacto com os problemas e rudeza dos campos, que sofre as intempéries, que tem de paga semanalmente as férias ao pessoal, aos fornecedores, as contribuições e tudo o mais, para esse que e rico e próspero possui, tem «bens ao luar», a esse de vá-se-lhes o encargo de sobreviver sem que se promovam medulas capazes de auxiliá-la no seu inglório esforço.
Com mão-de-obra cada dia mais escaca o má a lavoura paga em salário o que não pode e, numa luta pela sobrevivência, sem se dar conta de que está a suicidai-se, deixou de sei solidária, corrente entre si, disputa ao vizinho o rural de que carece para não desviar atrasar os seus trabalhos, paga em canseiras e sangue essa concorrência que a não compensa num estrebuchar de desoladora agonia.
No entanto a verificada falta de braços para a terra não origina medidas drásticas que a impeçam.
Pelo contrário. O urbanismo fomenta-se e favorece-se com a concentração das indústrias nas periferias dos grandes centros urbanos, e quanto à emigração, até se negoceiam contratos colectivos de trabalho, numa iniciativa exportação da maior riqueza nacional, o potencial humano, que em torrentes legal e ilegalmente, se desenraíza, e o que ainda- é por se deseduca, se desnacionalizada e se, perde irrecuperavelmente.
Vão para França para a Espanha para a Alemanha e para o Brasil trabalhadores nossos. Vêm até nós negociar obtenção de mão-de-obra aqueles que dela carecem, pois se sabe que é boa e barata. Nos despojamo-nos e deixamo-los partir. A marca não volta, muitos nem sequer se lembram da família a que deixam em dificuldades, vendido o pouco de que dispunham com a promessa de que em breve voltavam. Partem aos milhares. Em 1965 emigraram legalmente 89 636 portugueses dos quais apenas regressaram 1368. Desde 1886 incluindo os anos de emigração maciça de 1912 e 1913 que tal facto se não verificava?
Mas quantos emigraram ilegalmente? Destes não falam as estatísticas porém mais eloquentemente falam as povoações abandonadas e os lares sem chefes de família, os campos sem braços.
A maioria não volta mas se adrega que uma escassa meia dúzia aqui e alem traga um «calhambeque» qualquer uma motorizada ou um rádio portátil os que ficaram, sem se lembraram do nada que isso significa nem dos muito outros que por lá vivem vida miserável, começam desde logo a acalentar o sonho de ir atrás de riqueza fácil.
No tocante, que útil e benéfico serra que a televisão portuguesa se deslocasse até junto daqueles nossos que lá fora trabalham, os surpreendesse e fizesse reportagem do modo miserável como a maioria vive dentro de carcaças de automóveis e vagões abandonados em arrepiante promiscuidade, sem assistência moral, a cozinharem magro caldo para dois ou três dias e a viverem. Longe da família e da Pátria autentica vida de escravos. Talvez que isso pela divulgação que se verifica com tão trágicas consequências para a Nação e a muitos convencesse que se aqui trabalhassem como lá, como lá se privassem e poupassem também enriqueceriam e simultaneamente a sua própria Pátria. Que bela e útil tarefa para a televisão portuguesa.
Mas não é somente a emigração, com todos os males apontados, que está na base do êxodo rural que se verifica, pois o urbanismo é, como aquela, causa directa do fenómeno. A evolução desceu te da actividade industrial, que o Governo estimula e protege através de uma política em que se incluem isenções físicas e a sua concentração junto dos grandes centros fornece, por seu turno largo contributo para o desguarnecimento dos campos sendo certo que tal como acontece no estrangeiro é ilusório o maior salário recebido pelo trabalhador, pois a vida se lhe torna mais cara e a habitação decente inacessível, como o atestam as barracas que se implantam à margem das cidades a criar problemas cada vez mais prementes no que respeita ao alojamento desses deslocados.
O problema reverte-se de uma gravidade que não pode ser menosprezada, nem ditada a sua resolução, e parece dever impor a revisão das razões que estão determinado o estabelecimento das indústrias junto dos grandes aglomerados urbanos, já que, se assim não fosse, natural serra que o operário fabril fosse simultaneamente lavrador, através de famílias seus e em consequência da possibilidade de ter onde a buscar os meios que por amor à terra seria levado a poupar para nesta investi como tantos outros, alias, fazem obrigados pelas imposições do seu tradicional domínio. A terra não ficaria, assim abandonada e inculta, e a cidade, além disso, com todos os seus inconvenientes e exigências não corromper e o seu carácter formado no apego e devoção àquela. Não abandonariam a terra encontrariam razões para ficar.
E que as indústrias se devei iam repartir para obstar a tamanho mal pelas zonas rurais não é ideia que apenas assalte aqueles que nestes meios, sofrem as graves consequências do entendimento contrário. Ainda recentemente, creio que foi em Abril do ano passado, me dei conta, através da imprensa diária, da reunião da assembleia geral da Siderurgia Nacional, em que o presidente do seu conselho administração, Sr. António Champlimaud, brilhante e fundamentada exposição no que concerne à vida de tão grandiosa empreendimento. A designação de «nacional» adoptada por aquela empresa por si só justificaria o interesse que o relato nos mereceu, porém, o particularismo das considerações feitas, no tocante ao possível estabelecimento de um eixo de desenvolvimento com um dos pólos em Trás-os-Montes, não poderia deixar indiferente o transmontano nem o Deputado um e outro obrigados a dai atenção a tudo quanto se prenda com a economia regional das teu as que lhes cumpre servir, amar e defender.
As reflexões do responsável pela administração da realidade empresa trouxeram à primeira plana toda a problemática da industrialização nacional, considerada esta sob o aspecto do seu estabelecimento, de molde a poder contribuir para o enriquecimento de zonas economicamente pobres e simultâneo descongestionamento dos meios urbanos como se disse a braços com problemas de habitação e outros ocasionais pela excessiva densidade demográfica que neles se verifica.
De facto, a relevância dos benefícios que a concretização do relevo propósito pode trazer às regiões de feição caracteristicamente agrícola, nomeadamente à «depauperada região transmontana» é de tal forma evidente que o seu prenúncio não poderá deixai de alvoroçar quantia andam atentos ao sensível desmoronamento das estruturas que têm tomado possível a resistência dos muitos para quem a terra era razão e fonte de vida