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25 DE JANEIRO DE 1967 1097

É aos Poderes Públicos que temos de nos dirigir a família que faça o que puder e couber, é com ela e com Deus, que tudo julga. Mas os Poderes Públicos têm de a ajudar a «poder» e a «saber», e nos casos em que é urgente e se não pode esperar até que ela reaprenda a cumprir a sua tarefa têm de a substituir e deitar mão aos valores que ela estiver em risco de deixai perder.
Urge que, através da escola e das organizações juvenis onde isso for possível, se trabalhe com toda a seriedade e profundidade na formação feminina das nossas raparigas.
Haverá por certo quem considere inútil, nesta época do «pronto a vestir» e do
self-service, iniciar as meninas nos segredos da costura e nas artes da culinária.
Mas já não é disso que se trata, embora, diga-se entre parênteses, o aprendizado das pequenas tarefas caseiras tenha um valor pedagógico que subsiste, mesmo quando os fins práticos foram ultrapassados. Trata-se, antes, de levar as adolescentes a compreenderem que, no futuro, as espera não apenas nem sobretudo uma carreira profissional, mas uma complexa e difícil missão junto do marido e dos filhos. É necessário, pelo menos em função das condições actuais da família portuguesa - e nada ganhávamos em pretender trabalhar para um estado de coisas que ainda só existe como hipótese -, é necessário desenvolver e cultivar nelas um escrupuloso e recto sentido do seu dever específico de mulheres uma capacidade de renúncia e uma vontade forte que lhes permitam - porque é essa a única solução que se apresenta agora - limitar-se e conter-se, aceitar um estilo de vida mais modesto, sacrificar alguns divertimentos e alguns triunfos mundanos ou profissionais. E, como seria utópico imaginar um plano educativo que contasse exclusivamente com a perfeição moral só concedida a raras, é necessário que esta educação feminina, procure interessar, entusiasmar as futuras mulheres pelos aspectos mais nobres, mais belos e mais apaixonantes de uma vida que, para ser hoje bem vivida, há-de forçosamente ser dura e difícil.
Entre esses aspectos mais nobres e belos da missão da mulher mãe de família conta-se, acima de todos, o da educação dos filhos. Só poderemos contribuir para a valorização pessoal das nossas raparigas, e através dela para o progresso moral das gerações futuras se começarmos, a despertar-lhes desde cedo o interesse e o amor pelos problemas da infância, e mais tarde da própria adolescência. Longe de nós a ideia absurda de sobrecarregar os programas do ensino secundário ou superior com disciplinas perfeitamente descabidas de pedagogia ou de psicologia aplicada, não é de um modo prático e vivo que esta iniciação tem de se fazer - por meios variados como visitas de estudo a estabelecimentos de ensino infantil modelares, divulgação de boas publicações acessíveis sobre temas de educação e outros que interessem especialmente à formação feminina, frequência facultativa de cursos elementares e sugestivos e todos os outros recursos que a nossa época oferece à informação.
Mas tudo isto que tem inegável interesse, só pode servir-nos se vier enquadrado, integrado por uma formação moral e religiosa conveniente. De outro modo, a divulgação de progressos técnicos no sector da educação, a discussão aberta dos delicadíssimos pontos controversos que nele subsistem, podem ser contraproducentes em relação a espíritos jovens, mal prevenidos, indecisos na vontade e precipitados nos julgamentos.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - A formação feminina é, pois, acima de tudo, formação moral mais do que grandes senhoras perfeitas nos requintes da arte de receber- numa época em que já poucos recebem, mais do que exemplares donas de casa, hábeis na arte de poupar e aproveitar - numa época em que a economia do pé-de-meia entrou em franca decadência, mais, até, do que mestras em ciências pedagógicas, informadas dos últimos testes, e jogos educativos, alimentadas de lugares-comuns pedantes sobre complexos e inibições - interessa-nos como portugueses, para sermos fiéis a nós próprios formar verdadeiras mulheres conscientes da missão a que na grande maioria dos casos se destinam e dispostas por isso a sacrificar o acessório ao essencial, sensatas e realistas, capazes de aceitar de frente o condicionalismo da sua época e de tentar superá-lo com bom senso, generosidade na renúncia, activa coragem e alegria interior.
Destas virtudes morais deriva aquilo que chamarei «artes menores» da vida familiar, e a mulher que for sensata, enérgica, generosa e alegre saberá desembaraçar-se sozinha nos problemas de economia domestica e de puericultura que a vida da casa puser diante da sua inexperiência.
Resumindo para acudir à, necessidade de valorizar a grave influência da mulher na educação da juventude, parece, pois, que a acção dos responsáveis oficiais terá de desenvolver-se principalmente em dois sentidos.
Um, que diz respeito à situação presente, consiste na mais perfeita realista e humana regulamentação do trabalho da mulher casada e com filhos.
O objectivo fundamental deve ser colocá-la em situação de prestar, com o mínimo de prejuízo para a profissão, o máximo de assistência à casa.
A melhoria do salário do chefe de família, o estudo atento dos horários do trabalho feminino, a busca de uma solução mais ampla e rápida para o problema da habitação das classes menos favorecidas- são tarefas que não podem descurar-se, e não tanto por corresponderem a exigências elementares de justiça social, mas por serem a estrutura material que, nas condições presentes, possibilita a defesa da posição-chave que é na família a posição da mulher, e contribuírem, desse modo, para ajudar a manter o nível educacional do País.
O outro sentido em que terá de exercer-se a acção dos responsáveis tem mais amplo alcance futuro e respeita mais directamente aos serviços afectos à educação, consiste no esforço para intensificar a activa, prática e sobretudo profunda e sólida formação moral e, implicitamente, feminina das mossas adolescentes.
Cumpre lembrar que neste domínio o caminho está traçado. As actividades da Mocidade Portuguesa Feminina - para o sector da juventude escolar - e os cursos mantidos pela Obra das Mães pela Educação Nacional - nos meios rurais e também em alguns centros urbanos não escolares - representam o único esforço oficial - meritório e persistente, mas de âmbito restrito e de recursos pobres - que se tem feito no sentido de uma recta e sã formação feminina.
Esperemos que, na vasta, reorganização que se projecta, da educação nacional, não se perca de vista o sentido espiritual em que deve sobretudo entender-se a preparação das jovens portuguesas para a sua missão de educadoras.
Há outro ponto que não desejo passar em claro ao abordar o tema deste aviso prévio.
Disse no início da minha exposição (e não disse nada de novo, nem mesmo em relação às intervenções dos ilustres colegas que me antecederam) que ao falarmos de juventude devíamos pensar em toda a juventude portu-(...)