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25 DE JANEIRO DE 1967 1099

(...) enumerar, o certo é que a juventude toma cada vez mais consciência de si mesma e tende a funcionar nas sociedades modernas, como uma verdadeira «classe», uma classe à parte, a que não falta o espírito fechado, o intuito de reivindicação e de oposição a outras classes, a supervalorização de si mesma, e até por vezes certa mística própria.
O jovem que atingiu razoável nível cultural não deixaria- podemos estar certos- de nos atirar em (...) os nossos erros, as virtudes dos seus coetâneos, as incompreensões e injustiças de que são vitimas.
Ser jovem- coisa que ai de nós sempre foi maravilhosa e invejável em todos os tempos- e hoje, além do mais, ocupar uma posição de combate que pode tomar depois formas diversas ao sabor dos ideais das ideologias ou da simples moda mas que, em qualquer caso, sempre será «combate» luta pelos direitos dessa nova classe- a juventude.
E é este um aspecto do problema que convém Ter bem presente quando hoje se assume a grave tarefa de orientar os novos.
Convém tê-lo bem presente primeiro para ir ao encontro desse espírito e dar a possível satisfação às reivindicações que sejam de atender, depois- ou talvez antes -, para tentar imprimir a essa agitação juvenil, a esse impulso de associação e de luta, que não podemos iludir nem abafar um sentido recto, oportuno e, como hoje dizemos tanto construtivo.
Ora bem, é neste ponto que se insere a questão das organizações de juventude.
Ser-me-ia grato poder contribuir para esclarecer um equívoco que me parece ter-se gerado em muitos espíritos e que, se não for a tempo desfeito, pode correr o risco de azedar cada vez mais a questão e cavar cada vez mais o fosso que já separa a juventude portuguesa dos que pretendam trabalhar por ele e por ela.
Equívoco é etimologicamente questão de palavras, e também neste caso a etimologia bate certa.
Que se entende, na realidade, por organização de juventude?
É a associação espontânea dos jovens nascida de actividades comuns e de comuns aspirações?
É, antes, a associação criada pelos adultos responsáveis pela educação- pais, pedagogos, hierarquias religiosas ou estaduais- e destinada a enquadrar e organizar em actividades afins os jovens de um país, de um meio profissional, de uma paróquia ou de uma escola?
Os jovens, naturalmente, interpretarão sem hesitar no primeiro destes sentidos a expressão «organização de juventude».
Quanto aos adultos: Os adultos hesitam. Hesitam entre organizações de juventude e organizações para a juventude. Estabelecem distinções subtis que nem em si mesmos satisfazem. E é aí que se gera o equívoco.
Os adultos hesitam. Querem mas em teoria. Na prática, reconhecem os desvios e desmandos a que está sujeita a pura organização de juventude numa época de libertinagem do espírito e de relaxamento dos costumes, sabem os perigos a que se expõem os incautos generosos, apaixonados, membros da associação nascida assim de um movimento espontâneo. E aí temos o caso ainda pendente das associações académicas das nossas Universidades.
Consentidas por lei, mas esperando muitas delas há dezenas de anos a aprovação dos respectivos estatutos, funcionando algumas numa semiclandestinidade que as torna mais atraentes, sofrendo outras limitações e sanções que geram ou aficam o carácter de oposicionismo consciente ou de natural rebeldia que as domina.
Mas os adultos continuam a hesitar. Até que um dia as forças ocultas do comunismo (as únicas eficazmente activas) trabalhando a favor desse clima de meias concessões e meias proibições, levam a massa académica desprevenida e leviana às vezes, mas nem sempre destruída de boas razões aos actos extremos de protesto e arruaça. Então os adultos assustam-se e cercam de cordões de polícia a cidade dos rapazes.
Triste solução para a polícia e para os adultos!

Vozes:- Muito bem!

A Oradora:- Aparentemente só os rapazes ganham porque, sem grande mérito próprio, se vêem de repente promovidos a heróis e a vítimas.
Na realidade porem os mais prejudicados são eles. Não tanto os que pagam com a expulsão ou a suspensão os actos condenáveis contra a lealdade devida aos camaradas e o respeito devido aos mestres ao meio- não tanto esses até porque muitos deles nem são rapazes, mas elementos activos de um movimento internacional que só por oportunismo se torna juvenil e académico, mas os outros os que fizeram a exaltante e desoladora experiência da revolta sem sentido claro de repressão pela força e, sobretudo, das hesitações subtis e capciosas dos adultos, esses podem ficar marcados para sempre.
Mas os adultos hesitam ainda. Se querem e não querem que os jovens se organizem, também querem e não querem organizá-los.
Dispondo como dispomos, de uma organização nacional criada há 30 anos para a formação da juventude deixámo-la pouco a pouco enfraquecer e deslustrar, afrouxámos-lhe o ímpeto inicial, e- caso estranho- foi justamente nos últimos anos nos liceus e nas Universidades que ela sobretudo perdeu terreno até ser uma pálida forma vazia, pouco mais que um emblema decorativo. E isso justamente repito na fase em que a juventude toma consciência de si e tende naturalmente a unir-se em grupo e a impor-se com o vigor dos que chegam à vida.
Dar-se-á o caso de os adultos terem revisto completamente as suas posições, de se terem convertido à mística juvenil a ponto de estarem hoje tão convencidos como os próprios jovens da capacidade destes para se organizarem sozinhos?
Parece que não- e se o caso das associações académicas não bastasse, lá teríamos o facto de se manter ainda com existência legal a Organização Mocidade Portuguesa essa, de origens e fins fixados por adultos responsáveis.
Simplesmente, os adultos hesitam. Ante o clamor e a turbulência dos jovens de hoje, ante a auto-suficiência, às vezes insolente, com que eles renegam a autoridade dos maiores e se propõem reformar ou escaqueirar sozinhos o mundo, os adultos encheram-se de uma timidez, de um escrúpulo, de uma má consciência que os leva a querer camuflar toda a aparência de imposição e autoridade e até de simples orientação.
É um erro de táctica, porque nada desilude e afasta tanto os jovens como descobrirem a fraqueza e a indecisão dos seus mentores.

Vozes:- Muito bem!

A Oradora:- Os adultos hesitam, hesitam em impor- pelo menos com carácter de preferência sobre as organizações juvenis espontâneas- uma obra que foi pensada e estruturada por eles e que, portanto, lhes parece não corresponder aos anseios dos novos tempos, isto é (...)