10 DE FEVEREIRO DE 1967 1181
tivos, hoje tão em voga, possa vir a resultar na génese do cancro Na verdade, as tais pílulas contraceptivas contêm normalmente como princípios activos derivados de hormonas esteróidicas do tipo da progesterona, testosterona, estradiol, etc. , preparados por síntese química.
Ora, há fortes suspeitas, que de dia a dia se vão cada vez mais acentuando, de que a existência no organismo humano de doses excessivas de compostos desta natureza possa constituir, em vários casos, a causa determinante do desenvolvimento de tumores malignos. Só o futuro nos dirá até que ponto tão generalizado receio é fundado.
Estou de inteiro acordo com V. Ex.ª. Tal género de medicamentos deverá merecer a devida atenção do Ministério da Saúde e Assistência, por forma que não possam ser facultados ao público sem receita médica.
O Orador: - O relatório dos cientistas franceses, os simpósios e as conferências realizadas em Portugal e noutros países e os múltiplos artigos publicados em revistas médicas justificam amplamente estas medidas e a urgência da sua aplicação.
E não estou sozinho nesta atitude, já que a France Presse difundiu pelo Mundo, há três dias, a notícia de que a minha colega médica Shirley Summerskill vai até mais além, porque vai pedir ao Governo de Sua Majestade Britânica que retire do circuito comercial as pílulas anticoncepcionais, fundada na morte por embolia de uma jovem de 25 anos, morte que foi atribuída ao uso da "pílula" durante dois anos. À isso a obriga a sua tripla condição de médica, de mulher e de Deputada e Deputada Trabalhista!
A tanto não chego eu, porque as drogas têm potencialidades fármaco- dinâmicas de indiscutível benefício para a humanidade. E nas mãos dos obstetras e dos ginecologistas pode mesmo resolver casos clínicos e até alguns de esterilidade feminina.
Mas só o médico tem competência para as pôr ao serviço da humanidade - só ele sabe quando e como deve fazê-lo.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Amaral Neto: - Sr. Presidente- Pedi a palavra para um daqueles assuntos pequeninos que gosto de tratar, lembrado, como sempre, do conselho do pintor ao sapateiro. Queria, com efeito, pedir a V. Ex.ª que recebesse, para daqui chegar aos ouvidos do Sr Ministro do Exército e de quem mais tenha a possibilidade de superintender na decisão, um pedido dos corpos de bombeiros da minha região, que será sentido, perfilhado e apoiado por todos quantos têm a administração e cuidado desses prestimosos organismos. O pedido é simples. Está estabelecido serem os corpos de bombeiros abastecidos de combustíveis líquidos para as suas viaturas através dos serviços especializados do Exército, que, para o caso, creio serem os da Manutenção Militar. Foi escrito numa circular de 1960, a informar as corporações interessadas, que as condições de fornecimento seriam iguais às que se praticassem, nos mesmos locais de entrega, para os serviços da defesa civil do território exercida pela Legião Portuguesa e para os serviços do Exército. Essa circular foi expedida a informar os corpos dos bombeiros da regalia que lhes era dada. Os preços para a gasolina avariam, conforme os distritos, quanto à gasolina normal, entre 3$65 e 4$ por litro, e, quanto ao gasóleo, entre l$25 a 1$60 por litro, o mais barato em Lisboa e o mais caro em Faro.
Sucede, porém, que os preços foram alterados Segundo as últimas comunicações, estão presentemente a vigorar, para a gasolina, preços que vão de 5$ a 5$20, conforme seja no distrito de Lisboa ou nos outros distritos da área da Inspecção de Incêndios da Zona Sul, e, para o gasóleo, preços que vão de l$45 a l$65. O reparo, a queixa, o pedido dos corpos de bombeiros, é que lhes seja mantida a equiparação com os preços feitos para o Exército e para a Legião Portuguesa, os quais estão a ser cerca de $40 mais baratos dos que actualmente estabelecidos para os corpos de bombeiros.
Como V. Ex.ª e a Assembleia vêem, é um pedido bem miúdo e que, por isso, parecerá a alguns observadores superficiais indigno do tempo que com ele ocupo a atenção de VV Ex.ª. Porém, nenhum de nós ignora com certeza quanto entusiasmo e dedicação são necessários para sustentar os corpos de bombeiros, sobretudo os de voluntários Perante o incêndio que tudo destrói, que fere e magoa como nenhuma outra calamidade, parece que, por um desígnio da Providência, os sentimentos de altruísmo e dedicação levam precisamente os mais humildes, os menos interessados na salvaguarda dos riscos do fogo, a sacrificar o seu descanso, a suportar incómodos e a arriscar a vida para combaterem, em comum ou suprindo os corpos de bombeiros profissionais, as chamas devastadoras.
Por essas aldeias e vilas do País não é raro encontrar homens alheados, em regra, da vida colectiva, aparentemente absorvidos no seu egoísmo, introversos no mais alto grau, que, ao toque da campainha de alarme, aparecem espontaneamente a cooperar na luta contra o flagelo do fogo. Não há dúvida de que, dos quatro elementos que os Antigos consideravam como dominadores do meio físico, o ar, a terra, a água e o fogo, é este último o que ainda hoje mais assusta e mais prejuízos causa à humanidade. Daí que seja também o que mais incita os homens a unirem-se na luta contra ele. Mas não é só no domínio da luta contra o fogo que os corpos de bombeiros são úteis. VV. Ex.ª sabem bem que os corpos de bombeiros vão pelo País fora, organizando serviços de transporte de doentes, que têm um carácter auxiliar precioso na luta contra a doença, quer seja para levar o inválido ou leso aos serviços de agentes físicos, quer para o transportar ao hospital central ou trazê-lo, em estado de convalescença, na auto-maca dos bombeiros. Ora, é no funcionamento dessas auto-macas que se faz mais despesa dos combustíveis líquidos cujo barateamento estou pedindo.
Em Agosto do ano passado, morreram em Sintra alguns militares num acidente que demonstrou claramente como um incêndio pode destruir vidas. Ao lado desses militares bem podiam ter perecido quaisquer outros de centenas de voluntários que com eles combatiam as chamas. Há poucas semanas ainda, em Lisboa, um voluntário, um burguês com a sua vida organizada, sucumbiu por acudir a um fogo, em consequência do qual acabou por perder a vida. As associações de bombeiros ainda hoje são pólos de vida associativa. Precisamente na mesma semana em que os jornais nos deram notícia dessa desgraçada morte, veio uma entrevista num dos diários da tarde que usa questionar o público sobre matérias avulsas e então se perguntava a alguém "Onde costuma encontrar-se com os seus amigos?" A resposta foi "Tenho a minha vida de trabalho, quando esta acaba, vou para a associação de bombeiros de que sou sócio, à espera de ser chamado para algum serviço. Por isso, hoje em dia não encontro os meus amigos noutro sítio".
É preciso que se tenha a noção bem clara de que os corpos de bombeiros polarizam muitas energias, dedicação e boa vontade. São merecedores, portanto, de todo o ca-