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1592 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 85

de propaganda da carne que se afirma querer fazer produzir e que quando vier requererá mercado.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Temos de ter uma política agrícola que seja política alimentar com vista à alimentação abundante, gostosa e sadia de toda a população e à rentabilidade das produções assente no que convém produzir e fazendo por que seja produzido.
Mas então teremos de ser decididos. Teremos de aceitar os preços que as coisas custam - embora não os que lhes acrescentem no caminho -, e não os que agradaria que custassem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E quando nos determinamos a uma produção, teremos de não desorientar a cada momento com importações intempestivas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Teremos realmente, de ter muito cuidado com os preços. Quando se reconhecer que devem ser corrigidos, sejam-no logo, enquanto vale a pena e surte efeito, resistir meses, ou anos tem-se visto ser a maneira de desanimar a produção enquanto espera e já a não satisfazer quando chega o aumento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E verdade, verdade, que sentido tem pôr em risco a criação leiteira para defender o leite a 3$, quando toda a população consome alegremente o vinho a 4$50, a cerveja a 8$ ou a 10$, as gasosas sei lá como? Ou fazer negócio de Estado de uma diferença de $20 em quilo de arroz mais barato, quando ricos e pobres -e mais ainda os pobres- lhe voltam as costas e só pedem do mais caro.
Também há que ter o máximo cuidado com a alavanca cómoda - e rendosa para grupos de interesses sempre prontos a ajudar a empurrá-la-, com a cómoda alavanca das importações. Importa-se algumas vezes sem real necessidade - o exemplo que há dias aqui der num aparte, das maçãs do último Natal parece-me elucidativo-, muitíssimas vezes fora de tempo com o efeito de o artigo estrangeiro chegar à colheita do nacional e assim prejudicar a produção interna por duas vias porque dá pretexto a- especulações baixistas e porque esvazia os cofres dos comerciantes, obrigados a pagá-lo logo. Uma escassez animadora de preços e, assim, convidativa à produção pode acabar por resultar benéfica à economia geral. À Importação que desnorteia mata a confiança e fica como ameaça sempre pendente de se repetir, desencoraja iniciativas e levanta sempre o risco de resultar, por fim contraproducente. Acaso não foi ao abrigo de importações que a nossa indústria, tão louvada pelo seu dinamismo, pôde firmar-se o crescer.
A fuga da gente já desvia de amanhar as terras fracas ou difíceis de fazer - e este não será o grande mal se elas pagaram pouco - mas uma concentração de esforços, - sobre as que, bem tratadas, possam render bem, ainda oferece esperanças à agricultura e, por via dela, ao enriquecimento da Nação.
A conjuntura ainda vai propícia a uma política alimentar que bem também política de desenvolvida produção agrícola - mais do que isso, exige-a! E, porque tenho confiança no sentido de oportunidade e na habilidade do Governo para a estabelecer, espero-a para breve.
Quando venha como tem de vir, ficarão ampliadas as condições de crescimento do produto nacional, de atenuação ao das diferenças da balança comercial, e assim se satisfazem as necessidades que mais ressaltaram do estudo das contas publicas da metrópole.
E não só por aí. Ao nosso descimento industrial não pode ser indiferente - já está reconhecido que não é - o poder de compra de ainda 30 a 40 por cento da população. Ele não parece estar a seguir inteiramente tranquilo o ramo ascendente da sua trajectória, ainda há dois dias nos disseram da surpresa de se ter quebrado para metade o ritmo de crescimento dos consumos permanentes da energia eléctrica e não faltarão no exterior concorrentes apostados em o perturbar por exemplo nos ramos da indústria têxtil. Podem amanhã bater à porta da indústria retornados do estrangeiro - igualmente há dois dias os jornais nos deram conta de preocupações do Governo Francês ante despedimentos maciços nos estabelecimentos fabris do seu país. A nossa industria tem de se fortalecer para estes e outros embates.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Maior produção, maior poder de compra não podem ser-lhe indiferentes, repito e insisto. Não me atrevo a dizer que só por isto não serão indiferentes ao Governo, mas certamente também por isto lhe não serão!
Chamada a lavoura a produzir mais, ainda resta ver como o conseguirá.
Técnica e capital, é a resposta. Já está dada de há muito, em palavras tais e tantas que não carecem de ser mais esclarecidas ou justificadas.
Em palavras, sim. Mas em factos?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não falarei hoje da técnica, é história longa e triste, que por minha parte há dezasseis anos venho desenrolando perante a Assembleia. Se as contasse outra vez, do princípio, tem quase a mesma actualidade e decerto não maior utilidade. Deixemo-la e esperemos que os lavradores multiplicando os meios técnicos nacionais pela abundante literatura estrangeira, com jeito para traduzir desta tanto as premissas como a linguagem, lá se consigam desembaraçar.
Mas julgo urgente falar do capital.
A agricultura moderna sem homens, relativamente pouca terra -porque cada vez mais procura aumentar os rendimentos unitários - muitas máquinas e muito consumo de adubos e sementes apuradas é grande consumidora de e capitais de estabelecimento e maneio. Ainda não haverá números portugueses, mas em França, nossa tradicional informadora, calcula-se que uma exploração verdadeiramente de ponta carecerá de 100 000 francos novos (600 contos) de investimento por trabalhador, contando a terra, calculam mesmo poder ir de 2 000 a 4 000 contos, quantas só excedidas na hidroelectricidade pelo custo das grandes barragens. Tal o preço de uma verdadeira agricultura industrial. Lá mal começada, muito menos entre nós.