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1590 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 85

aproveitamento da sua força criadora e pode esperar da mera transformação das matérias acrescentadas, quanto nele é energia própria, insubstituível e requerente de cuidado conservador, ou até onde funcionará como mero suporte de capacidades externas Tenho reflectido sobre o conflito entre as imposições da biologia e os gostos dos homens, sobre a maneira de atender a estes sem desservir aquelas, em suma, sobre o problema de tornar a terra agradável num mundo que propõe outros modos de tiver.
E através do próprio desapontamento e da dúvida, batido como todos pelos sarcasmos e ferido pelas incompreensões que têm desabado sobre a lavoura, não obstante, acabo por crer que ela pode continuar e prosperar, crescer em produto e em satisfação dos produtores se continuar a sua própria revolução, que há-de incluir a conquista da estima e a reconquista do respeito dos demais sectores, mas terá de se fazer sob o signo da economia, e não da política.
E sob o signo da economia será necessário que a empresa agrícola intensifique produções e poupe despesas, mas será também indispensável que lhe seja reconhecido, assegurado, o direito de ganhar dinheiro, para se precatar contra os anos de piores colheitas, que são fatais, para renovar e ampliar o alfaiamento, mantendo-se a par do progresso e da produtividade, para melhorar os salários, retendo, contentes, trabalhadores na terra, enfim, para remunerar o capital, dando ao empresário satisfação e incentivo para prosseguir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ganhar dinheiro, realizar lucro, o primeiro imperativo da empresa económica moderna, condição inelutável da sua utilidade social, prova da criação de riqueza, é um direito que tem de passar a sei reconhecido à empresa agrícola também, mesmo antes de se transformar e para que se transforme, certo sendo que a concorrência dos outros sectores a obrigará a essa transformação
Não podemos mais conceber, sequer admitir, que os estudos dos custos de produção sejam fechados nas gavetas quando concluam pela insuficiência dos preços de garantia, não poderíamos continuar a suportar que tais preços só garantam não sofrer prejuízos em anos pelo menos médios e em condições de exploração progressiva, como ainda em meados de 1962 era solenemente assegurado quanto ao mais notório e discutido deles. E não, porque, pelo processo inevitável das actividades sem lucro, as reservas sumiram-se e os capitais das explorações, as próprias terras, vão em bom caminho de serem liquidados.
Também, por outro lado, não é fácil continuar a aceitar que, por inércia ou miséria, muitos terrenos ainda andem explorados abaixo da sua normal rentabilidade, importando proceder de modo a vencer aquela e suprir a segunda no sentido de aproveitar os progressos de resultado já certo.
Vejamos o caso do milho, que tomo para exemplo por ser a mais difundida das nossas culturas arvenses - nas das regiões agrícolas, as áreas relativas variam entre l p 10, enquanto para o trigo diferem de l até mais de 100 -, a segunda em superfície ocupada e, por vezes, a primeira em quantidade de grão colhido, base de importante reconversão ainda não demasiado recuada nos tempos e especulação talvez primacial das zonas campesinas que no nosso país - e assim também nesta Assembleia suscitam mais simpatias, talvez por serem das mais atrasadas.
A nossa estatística - e eu devo dizer a V.Ex.ª, Sr. Presidente, que creio nas estatísticas continuadas, se não como verdades absolutas, ao menos como reveladoras de tendências -, a nossa estatística atribui à cultura do milho superfícies quase constantes de ano para ano de 1954 a 1963, anota o mínimo de 468 000 ha semeados e o máximo de 498 000 ha e produções que tão-pouco, em igual período de tempo, variaram significativamente, pois oscilaram, na média geral, entre 918 kg/ha em 1954 e 948 kg/ha em 1965, com pontas de 1281 kg e 1282 kg nos anos particularmente favoráveis de 1961 e 1964 Neste último, encontra-se que, por regiões agrícolas, as médias foram de 2100 kg em Tavira, 1780 kg em Braga e no Porto, 1000 kg em Viseu, descendo até 420 kg na região da Guarda, o declínio acusando, suponho, a preponderância do sequeiro, que joga o sucesso do milho numa chuvada de Verão.
É tudo muito curioso, mas ainda mais parecerá se atentarmos nas outras médias europeias de produção, segundo a F A O , entre os anos de 1964 e 1965:
Quilograma
Hectare
Albânia ........................... 1 230
Áustria ........................... 4 240
Bélgica ........................... 4 710
Bulgária .......................... 3 130
Checoslováquia .................... 2 650
França ............................ 4 060
República Federal Alemã ........... 3 460
Grécia ............................ 1 860
Hungria ........................... 2 900
Itália ............................ 3 660
Holanda ........................... 4 260
Polónia ........................... 2 250
Roménia ........................... 2 020
Espanha ........................... 2 340
Suíça ............................. 4 930
Jugoslávia ........................ 2 860
Média geral ...... 2 510

O milho é seara de Verão, requer sol e água e, para produzir abundantemente, também adubo e sacha ou monda química Água, a muitos desses países citados dá-a a Providência bastante e gratuita, pelas virtudes do clima atlântico, farto e igual em chuvas, mas sol temo-lo como poucos, a água, de nascente, regato ou albufeira, sempre chega a muitíssimas das nossas terras de milho, decerto o que lhes tem faltado têm sido os cuidados, a boa semente e o bastante adubo.
Ainda há dez anos, poderíamos congratular-nos por não haver muito milho e a população continuar distraída no engano da sua má cultura Foram então grandes as preocupações com a colocação deste cereal, que se tornou mister exportar com prejuízo, no total de 106 000 t para os dois anos de 1955 e 1956. Mas logo declinaram, e a pouco e pouco, depois mais depressa, o sentido do problema foi-se submetendo. Em toda a parte, o milho ganhou novas procuras e despertou novos interesses, primeira e principalmente para as rações industrializadas do gado, depois para os amidos, os açúcares especiais, o óleo, toda uma série de aproveitamentos novos ou acrescidos no domínio do que os Americanos chamam a quimurgia, ou