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22 DE MARÇO DE 1967 1591

seja a transformação industrial de matérias-primas orgânicas.
E assim importamos - com produções inteiras aumentadas - 70 000 t de milho em 1963, outras tantas em 1964, 135 000 t em 1965 e parece que muito mais de 200 000 t em 1966, porque a fome é universal, a produção ultramarina já não tem a mesma necessidade de vir à metrópole, e de qualquer modo não lhe basta - muitíssimo deste milho é pago com divisas, e das fortes.
Peço a V.Ex.ª, Sr. Presidente, que autorize a inclusão na nossa acta de um pequeno quadro que compus com estes e outros números, porventura de interesse para algum dos seus leitores.
Mas bastam os que citei para se podei concluir isto a elevação da produtividade somente da cultura do milho no nosso território metropolitano, apenas para meio caminho do nível que já atinge na Grécia, pois parelho do nosso em desfavores naturais, se não ainda mais mal dotado, bastaria para aliviar em 5 por cento a balança do comércio.
Por outro lado pela diferença dos preços nacionais e dos internacionais, teria onerado em algumas dezenas de milhares de contos a preparação industrial de alimentos para gados - 100 000 t de cereais consumidos em 1965 -, cabendo então discernir qual dos termos do dilema conviria melhor ao País. Com efeito, podemos formar alguns sonhos mas nunca o de equiparar na cerealicultura os custos dos grandes produtores, para já não falar nos pregos de desbarato com que vêm ao mercado internacional. Os lavradores da América, do Norte e do Sul produzem milho - como noutras zonas trigo e quejandos - em áreas de milhões de hectares - contínuas e assaz uniformes, por searas de dezenas, centenas ou milhares - de cultura especializada. Sonhar igualar os seus custos pela via apenas do aperfeiçoamento técnico seria inteiramente vão, pois de todos os mesmos requintes da técnica dispõem eles e fica-lhes sempre a vantagem da dimensão.
Recorra a um longo exemplo, Sr Presidente, para justificar estas preposições que creio válidas

1ª Encontramo-nos colectivamente tão atrasados que um substancial aumento da produção agrícola é possível em muitos ramos da actividade,
2ª Para tanto, é necessário melhorar técnicas e assegurar rentabilidade,
3ª Mas a rentabilidade não pode ser somente fruto da técnica - para a concorrência a dimensão conta, assim como o custo de suprir artificialmente deficiências naturais, como é o caso da rega,
4ª Temos pois de aceitar e fazer incutir nos espíritos que muitos dos produtos primordiais ficam necessariamente mais caros criados cá, mas desta criação depende podermos adquirir ao estrangeiro outros bens.

Detenho-me um instante e penso que estou a fazer perder tempo com truísmos.

Vozes: - Não apoiado!

O Orador: - mas estas verdades vejo-as a cada passo tão esquecidas, quando não negadas, já nem sei se de boa se de má fé, que não me arrependo de as proclamar, uma vez mais, e quantas e onde puder.
Produzir aos preços internacionais é um escopo ainda correntemente recomendado à agricultura, nos mesmíssimos lugares, onde se cala a distância a que deles anda tanta industria - e da mais moderna e bem equipada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Apesar de dolorosa e não fomentadora, foi provavelmente justificada, no sentido do equilibro interno, a política de manter a agricultura tantos anos constrangida a preços insuficientes e fazê-la entreter mal paga e mal comida a maioria da população, designada a matar os corpos nos campos onde nascera por não saber de mais para onde ir. O mesmo circulo vicioso gerava os baixos consumos e as parcas remunerações, tomando sobremodo temidos os excessos invendáveis da produção.
Mas ultimamente tudo mudou. Sob a influência dos factores bem conhecidos, a terra e o País foram aliviados de gente, o nível de vida subiu de facto a população quer comer mais e melhor, escasseiam os géneros- e relativamente mais os outrora quase superabundantes. Aumentou o mercado dos produtos agrícolas, mormente o dos mais rendosos. Como lucidamente observa o Sr. Dr. João Cruzeiro que não tenho a honra de conhecer, mas com quem grandemente me encontrei de acordo em artigo recente da revista Análise Social lançando ideias que ainda não vi muito seguidas, mas me parecem aceitadas e oportunas, há agora lugar para uma política activa no domínio alimentar, porque o volume e o ritmo de acréscimo do rendimento nacional constituem um potencial de solução do problema da sua melhoria que se não deve ignorar e manter desaproveitado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E de tal política resultará a melhor via para uma expansão satisfatória do volume e dos rendimentos da produção agrícola, que se pode encaminhar para os ramos mais lucrativos. Considero internamente de subscrever e apoiai esta frase do mesmo autor.
a expansão do consumo interno de produtos agrícolas constitui a única determinante significativa para se poderem alcançar, a curto e médio prazos, ritmos de acréscimo no rendimento que satisfaçam os agricultores nacionais.
Assim se satisfarão também acrescento eu ao mesmo tempo as donas de casa e os políticos, preocupados com a escassez de matéria tributável e o desequilíbrio da balança comercial.
Aliás, é bem sabido que pela Europa fora os agricultores têm crescido tanto mais quanto mais se têm podido dedicar as produções ricas da pecuária e da horto-fruticultura. E se sobre a primeira ainda se projectam quanto a nós, algumas sombras, sobre as segundas brilha o sol a que todos Os países meridionais procuram aquecer os seus rendimentos.
É, pois tempo sobejo de instaurarmos nova política agrícola, sacudindo critérios já excedidos e respondendo aos novos apetites para servir as necessidades de sempre. E esta tem de ser uma verdadeira política alimentar, preparada para encontrar os modernos equilíbrios e até para os provocar. Basta olharmos para toda essa tragi-comédia do bacalhau, alimento gostoso mas fraco, desprezo dos países mais prósperos, para perguntarmos se não seria grande ensejo para lançar uma hábil campanha