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1666 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 89

incremento aos portos, de Moçambique, sobretudo, provavelmente, ao porto de Nacala.
A agricultura e a indústria, nos seus múltiplos aspectos possíveis, têm também vastíssimas possibilidades de desenvolvimento, a avaliar pelas experiências já feitas, algumas das quais consolidadas por vários anos de produção e progresso.
Durante, a nossa visita vimos, num sector e noutro, alguns exemplos elucidativos e estimulantes, que não tenho tempo para analisar aqui em pormenor.
Mas para atingir, no futuro o que se espera e deseja importa não esquecer as lições do passado (boas e más) e viver intensamente a hora presente, sem desperdiçar uma só oportunidade, energia ou valor.
A firme determinação de manter, custe o que custar, a soberania portuguesa em Moçambique, e a fé sem reservas no desenvolvimento futuro daquela província ultramarina são dois valores constantes, revelados não apenas por palavras, mas sobretudo por actos, em todos os locais percorridos, em todos os contactos pessoais havidos.
Que melhor ou maior fonte de energia poderia existir para impulsionar a obra que tem de prosseguir e elevar-se? A nossa visita proporcionou-nos, é de justiça dize-lo, colher livremente por todas as formas viáveis os elementos de que necessitávamos para nos inteirarmos, quanto possível, dos problemas que numa visita deste tipo podiam pedir mais directamente a nossa atenção.
Contudo, nem sempre encontrei, nos elementos obtidos, explicação concreta e satisfatória para certas observações que colhi no meu pequeno livro de viagem.
Apresentarei algumas e apenas na esperança e desejo de vir a ser oportunamente elucidado.
1.º Moçambique não tem uma rede rodoviária compatível com as dimensões da província e com as exigências do tráfego moderno.
É evidente, aos olhos de todos, que tal facto afecta extraordinariamente desenvolvimento económico da província. Já não ponho a questão de como foi possível descurar-se durante tantos anos um problema de tão primordial importância, aliás em contraste à muita atenção que sempre mereceram em Moçambique os problemas do tráfego por caminho de ferro e pelo mar.
Mas, uma vez que foi já traçado o plano rodoviário, que o mesmo mereceu aprovação e que foi possível obter verba para o realizar, porque se não actua com a urgência que o caso requer, tentando a todo o transe recuperar algum do muito tempo perdido?
2.º O colonato do Limpopo foi uma experiência muito interessante, mas resultou manifestamente caro e enferma hoje de alguns erros que certamente poderiam ter sido evitados se, em vez da vida autónoma que lhe foi fixada, estivesse directamente submetido à orientação geral do Governo da província para os assuntos do povoamento.
Outras experiências já feitas sob esta orientação revelam processos mais adequados e resultados mais tranquilizadores.
Porque se não fez ainda a integração do Limpopo no sistema, geral da administração da província?
Não deve ver-se nesta observação qualquer crítica menos justa ou respeitosa aos construtores e actuais orientadores do colonato em causa, alguns dos quais, e em primeira posição o Eng.º Trigo de Morais, ali enterraram anos de trabalho, dedicação e sofrimento ao serviço de um ideal a todos os títulos louvável.
Pretende-se, sim e apenas, que com o saber da experiência feita se salvaguarde precisamente o capital de trabalhos ali aplicados.
3.º Em Vila Pery assistimos ao início dos trabalhos para a construção do uma escola de regentes agrícolas c fui informado de que aquela escola tinha sido doada, há dez anos, por um português radicado há muito tempo em Moçambique e criada no Boletim Oficial da província há cinco anos.
Naquela vastíssima região há uma enorme necessidade de técnicos agrícolas, pelo que o início da construção da escola trouxe a todos natural alegria.
Contudo, não fui esclarecido sobre os motivos que fizeram protelar durante dez anos uma realização tão necessária.
E a propósito desta escola, que ficará, e bem, implantada numa vasta área cultivável, também doada, penso eu, indispensável para a preparação de futuros regentes agrícolas, recordo, por contraste, ter o Limpopo uma escola prática de agricultura, que não dispõe de quaisquer terras anexas.
Parece que o erro não é, aliás, do origem, pois o edifício em causa, que foi construído para escola primária, surge de repente, por novo dístico implantado na fachada, transformado num estabelecimento de ensino que não pode, pelas razões indicadas, cumprir integralmente a sua missão. Porquê? Como? Não sei. Mas está lá.
Estes casos o alguns mais que poderia mencionar, se não desejasse encurtar as minhas considerações. Vieram à luz do diálogo daqueles que, por amor à terra onde trabalham, manifestam o seu compreensível inconformismo com aquilo que no seu entender constitui um erro, demora ou dificuldade para o processo construtivo em que se empenharam.
Já lhes é bastante penoso terem de suportar outros casos em que o entrave ao progresso de Moçambique não tem origem em erros de planeamento ou execução da administração portuguesa, nem sequer nas deficiências históricas da nossa burocracia. Dou para exemplo a substancial redução no tráfego do porto da Beira e a paralisação total do pipe-line que nasce naquela cidade. Nota desoladora que. sem surpresa, mas com mágoa, nos foi dado apreciar e me trouxe ao pensamento uma frase que o conde do Lavradio, ao tempo nosso embaixador em Londres, escreveu no seu relatório de Fevereiro de 1862: "Se um dia a Europa conhecer a história da aliança de Portugal com Inglaterra, há-de ficar admirada da paciência daquele e do abuso desta."
Incluíram-se no programa da nossa visita de estudo e trabalho alguns intervalos turísticos, sobre os quais, e pelo interesse de que se revestiram, e não apenas turístico, não quero deixar de dizer uma curta palavra.
A exibição "chope" em Zavala, pelo cenário em que se desenrolou e pelas danças e cantares do grupo, constituiu um espectáculo de rara beleza e sabor local, que fica na memória. Como grande cartaz folclórico que é, com fama para além das fronteiras moçambicanas, não conseguiu também, e é pena, imunizar-se dos atentados estilísticos que sofrem habitualmente este tipo de vedetas internacionais.
Efectivamente, nascido de uma tribo, que nunca foi por tradição caçadora, apresenta-se o conjunto vestido de peles, ao que consta, por se ter entendido há anos, quando convidado a exibir-se num dos territórios vizinhos para a sua soberana inglesa, que esse traje lhe ficava melhor.
O Parque Nacional da Gorongosa foi o segundo e o maior dos intervalos turísticos. Deslumbrante em todos os seus aspectos, extremamente difícil de descrever, impulsionou-me a aconselhar a sua visita a todos os que não tiveram até agora oportunidade de a fazer.