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8 DE NOVEMBRO DE 1967 1669

que a liga à metrópole, mas nos meios postos à disposição de quem siga essa rota aérea de Portugal.
Em toda a parte, desde Lourenço Marques à longínqua fronteira do Rovuma, não poderíamos ser acolhidos com mais carinho, com mais entusiasmo e com mais franca e generosa hospitalidade.
Foram quinze maravilhosos dias, vividos na terra e nos céus de Moçambique, que nos permitiram percorrer toda a província, conhecer in loco os seus problemas, auscultar as necessidades das populações e verificar que, mercê da nossa secular política de assimilação dos povos, integrando-os no nosso sistema de direitos e obrigações, sem discriminações raciais ou religiosas, impregnando-os de um espiritualismo cristão que reflecte a nossa missão secular, Moçambique tem a marca da civilização ocidental.
Situada a sul do equador, tendo por limites a oriente o misterioso Indico e em todas as outras fronteiras territórios de forte influência britânica, Moçambique, é bem o exemplo da nossa política do unidade em que os interesses espirituais sobrelevam os materiais, província em cuja alma se reflecte a alma de Portugal, nos seus anseios e esperanças, na sua tradição, na sua fé e no seu patriotismo.
Daí resulta que nem as correntes de raiz asiática, desde há séculos ligadas a povos maometanos que as naus do Gama encontraram nessas paragens, nem as correntes europeias de raiz nórdica que em volta de Moçambique se estabeleceram desde o século passado, nenhuma delas influenciou decisivamente a formação moçambicana, que é, cultural e sociològicamente portuguesa, ocidental e latina.
Da nossa política de viver em comum, que resultou da descoberta e ocupação de tão vasto território e da aplicação de métodos de assimilação cristã, nasceu na costa oriental africana uma larga zona de paz e de convivência humana.
É que a nossa presença em Moçambique não é de ontem, remonta ao descobrimento do caminho marítimo para a Índia por, durante a viagem, Vasco da Gama se ter demorado nos portos de Inhambane. Quelimane e Moçambique, que nós tivemos a fortuna de visitar. E que recordações trouxemos dessas paragens! ... Em Inhambane, onde passámos o dia da Baça por motivo de alteração do apertado programa da nossa visita, assistimos a uma maravilhosa festa da juventude local, que. nos fez recordar com saudades o tempo já distante da nossa mocidade.
Linda festa, que muito nos comoveu e sensibilizou! ...
Na ilha de Moçambique vivemos alguns dos momentos mais altos da nossa viagem. É que a ilha é um autêntico documento histórico, no qual avultam a fortaleza de S. Sebastião e as suas igrejas e palácios dos séculos XVI, XVII e XVIII. A multidão autóctone, que superpovoa a ilha e que tão carinhosamente nos recebeu, forma de igual modo um colorido espectáculo de difícil comparação. A ilha é, em suma, um verdadeiro museu, uma recordação de tempos idos, passado projectado no presente.
Estivemos ainda em Vila Trigo de Morais, João Belo, Zavala, onde assistimos a um espectáculo de folclore chope num cenário deslumbrante, Beira, Gorongosa, onde visitámos o formoso Parque, com a sua rica reserva de caça, Vila Pery, Tete, Quelimane, Vila Junqueiro, Vila Cabral, onde vivemos os momentos mais emocionantes da nossa viagem, Nampula, Porto Amélia e António Enes.
Em todas estas terras pudemos apreciar, mesmo no quadro de uma visita rápida, estações agrárias, estabelecimentos de ensino primário, secundário e superior, instalações portuárias, estabelecimentos hospitalares, empresas industriais, que nos deixaram uma ideia, da dimensão dos campos abertos às actividades mais diversas.
Pela minha parte, Sr. Presidente, na linha dos interesses a que mais estou ligado, até por formação, deixei-me prender especialmente pelas perspectivas do desenvolvimento industrial que, nos últimos anos. tem sido já de considerar.
As indústrias de alimentação com base na produção agrícola local são as predominantes. Sobressai o açúcar, cuja produção, em 1965, atingiu o montante de 165 000 t, com o valor de 575 000 contos, e que nos próximos anos se espera cresça espectacularmente, em virtude da entrada em laboração de uma nova unidade fabril e ainda pelo aumento das actuais. Impressionou-nos a moderna terminal do açúcar no porto de Lourenço Marques, que visitámos demoradamente, e que permite o manuseamento, a armazenagem e o carregamento do açúcar a granel, justificando-se o seu elevado custo inicial pela redução das demoras de carregamento nos navios e eliminação das embalagens, permitindo, assim, a colocação do produto nos mercados internacionais em condições mais vantajosas de concorrência.
Ocupam ainda lugar de relevo a preparação do chá, moagem de trigo, descasque do arroz, descasque da castanha de caju, fabrico de massas alimentícias e de bolachas. A indústria mecânica de descasque de caju em grande desenvolvimento, deve atingir, nos próximos anos um extraordinário incremento, tornando-se, provavelmente, num dos principais produtos de exportação.
De entre as bebidas avultam a cerveja, já hoje com quatro fábricas em exploração, e os refrigerantes. A fabricação de sumos e concentrados de frutos, bem como as compotas e conservas, têm também largo futuro.
Seguem-se, em ordem de grandeza de valor de produção, os têxteis, as fábricas de óleos vegetais e de saboaria, os tabacos, a refinação de petróleos e o cimento. De menor importância, mas ainda de considerar, são as indústrias do vidro estando presentemente em montagem uma fábrica automática para a produção de garrafas, as de tintas e vernizes, fibrocimento, louças de alumínio, condutores eléctricos, artigos de borracha, pregos e parafusos, mobiliário metálico, bicicletas e cordoaria de sisal.
A indústria transformadora, que, em 1963, atingiu um valor de produção de 4,6 milhões de contos, ou seja, aproximadamente 9 por cento do produto interno bruto de Moçambique, dava ocupação a 64 500 operários, excluindo o pessoal empregado no sector agrícola das empresas que exploram a fabricação do açúcar
Os distritos de Lourenço Marques, Manica e Sofala, Zambézia e Moçambique contribuem com mais de .92 por cento do valor da produção total.
Isto quer dizer que a indústria transformadora, além de não se encontrar geogràficamente muito bem repartida, tem ainda um papel secundário na formação do produto interno bruto. Mas o progresso já obtido deve constituir estímulo para que se continue a trabalhar em ritmo crescente na melhoria das condições de vida dos portugueses que aí vivem. E se a elevação do nível do vida da população da província não é possível sem o desenvolvimento industrial, também é certo que não se obterá um crescimento económico harmonioso se, a par do progresso da industrialização não se alimentar a produtividade da agricultura.
Mas ao lado deste binómio indústria-agricultura, a desenvolver em proporções convenientes de acordo com as condições locais, existem outros factores que se deverão considerar simultaneamente para que o crescimento se faça sem atritos. De entre esses factores salientarei as