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1672 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 89

3. E por que esta, febre de planeamentos à escala mundial?
Jugo que estarei com a verdade respondendo, apenas e só ser o receio de um fantasma que ontem o era, mas que hoje é uma realidade, é um facto - a fome da maioria dos actuais viventes.
E será então esse estado febril um sintoma- favorável para uma possível cura, base de uma nova terapêutica à escala internacional, ou apenas a consequência do medo dos que pensam, que havendo fome em 2/3 da humanidade o restante 1/3 não possa, vir a comer ainda mais?
Julgo que a acção motora terá nascido, de facto, deste último receio!
E, se não, vejamos.
Mitiga-se, por exemplo, a debilidade dos milhões de famintos indianos apenas para estes sobreviverem, isto com cereal russo ou americano, e só para que o apetite chinês não se vá aguçar, prejudicando os dois parceiros desta cruzada de bem-fazer! Mas ao mesmo tempo vão faltando os meios materiais e técnicos que um planeamento racional das bacias hidrográficas do Indos e do Oanges permitiria realizar, e então em condições seguras regular a vivência humana nessa desgraçada e extensa península do Índico. Mas, há sempre um mas, e a verdadeira recuperação para uma vida sã dessas muitas dezenas de milhões poderia constituir, na realidade, na escalada em alto nível para lugar cimeiro, dificuldade grande, quer para russo, quer para americano, não se sabendo à priori para onde penderiam, no fim, os gostos dos milhões de súbditos engordados do pândita do Indostão. Assim é, assim foi e julgo que assim continuará a ser.
Por idênticas razões, e isto sem, quaisquer razões morais válidas, nas assembleias internacionais olha-se, sob a mesma óptica, para a melhoria das condições do vida dos povos bantos sul-africanos, quando eles não a reclamam, e isto só para diminuir a forca da África austral - apoio indispensável desta desnorteada Europa, pois, segundo se diz, não negritícando todo o Sul do continente negro perigará - a paz internacional, como se despreza a situação dos negros que vegetam nos ghettos das cidades americanas do Norte, e estes protestando, e justamente, contra a sua indiscutível, por negra ser, material e moral situação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E também é para- bem da paz mundial, segundo se diz. que moralistas e imperialistas da American Comitee on África e da Ford Foundation continuam a planear e a subsidiar guerrilhas negras na África Portuguesa, quando, nos mesmos sectores ou em outros, paredes meias desse avançado país, se protesta contra os que alimentam as guerrilhas que, no Sul do Vietname, matam milhares de. jovens americanos que lutam, nessa península indochinesa, pela manutenção dos primores da civilização ocidental.
A explicação de todas estas incongruências mais ou menos planeadas: é porém, fácil. É que a África ao sul do equador ú fatia muito desejada, pelo que representa de excepcional riqueza, quer pelos mentores do socialismo internacional - Russos e Chineses -, quer pelos do capitalismo americano-israelita. Uns e outros não vêem com simpatia o aparecimento de uma terceira força que viesse a ser árbitro da escalada - e essa força seria, digo, só puderia ser, neste momento histórico, o bloco europeu.
Não serão assim precisos mais exemplos para mostrar que os extremos até se tocam quando os apetites coincidem, neste mundo esfomeado e que não procura, de facto, debelar, como vemos, verdadeiramente, a fome.
Deixemos assim de falar então destes apetites internacionais, que são insaciáveis, e procuremos, friamente, analisar quais as perspectivas, quanto a este aspecto fundamental, da vida do homem sobre a Terra, neste mundo, que não se pode hoje ignorar em toda a sua extensão, quando se deseja planear a economia de um vasto espaço económico, como é o grande espaço português.
4. Aponta-se a parcela de um terço dos viventes como a fracção que recebe, por via alimentar, as calorias necessárias para um equilíbrio fisiológico satisfatório. Os outros dois terços, digamos o Terceiro Mundo, ou se encontram mesmo numa situação faminta e morrem, hoje, aos milhões à míngua de sustento, ou apenas já muito debilitados, e esses são, também, muitos milhões, quer por deficiências no equilíbrio da dieta, quer por faltas significantes no seu conteúdo, nomeadamente no sector das proteínas animais.
E a problemática desta crise torna-se ainda mais complexa, quanto ao encontro de soluções inteiramente válidas, quando se tiver em linha de conta que o total da superfície cultivável no espaço dos quatro continentes não se coinputa, já hoje, nos 3 biliões de hectares, que daria uma capitação ínfima, mas ainda aceitável, tornada, porém, mais negra se tivermos em linha de conta que largo tracto de espaço agricultável se destina ainda a dar alimento a uma pecuária em que por circunstâncias religiosas, por vezes, não é permitido tocar.
Ficam assim como territórios ainda capazes de melhorar tão baixa capitação apenas as superfícies desérticas com larga coincidência com as linhas dos trópicos, isto nos dois hemisférios, e pouco mais, e este pouco mais à custa ainda de uma desarborização que não é de aconselhar, pelo menos em vastas zonas hoje cobertas de florestas, mas em que a harmonia da natureza já está profundamente periclitante.
A dessalificação das águas dos mares e o seu uso no benefício das extensas superfícies de areais hoje desérticos, quando muitas delas já foram férteis territórios e como tal sustentáculo de civilizações, eis, julgo, o mais importante filão a beneficiar, mundialmente, após larga projectação planeada.
Outro caminho se poderá trilhar, a também igualmente valioso, o do aproveitamento de escórias vulcânicas, para substrato inerte de uma extensificação, em superfície e em altura, das culturas vegetais pelo moderno sistema hidropónico, sistema que já deu resultados práticos animadores durante a última guerra, quando foi necessário, em situações isoladas, no Pacífico, realizar, in loco. a alimentação das tropas americanas à base de produtos hortícolas de elevado teor vitamínico. E este sistema poderá permitir, de facto, realizar, com excepcional rentabilidade, o aproveitamento do território, inclusivamente no seio dos aglomerados urbanos, e isto para a produção de géneros fundamentais para a vida das populações citadinas, especialmente daquelas onde imperam, muitas vezes por alimentação desequilibrada, situações de avitaminose.
Fora estas soluções, a planear à. escala mundial, a acrescer ao que se puder ainda pedir à intensificação cultural restará, para minorar deficiências do alimento - e será muito o que se pode esperar, digamos, mas ainda hoje incomensurável -, a massa vegetal que pulula nas águas oceânicas, marinhas e fluviais, e que revela grandes possibilidades de aproveitamento nas dietas humanas p dos animais doméstico?