24 DE NOVEMBRO DE 1967 1841
da metrópole, não sendo mencionados elementos estatísticos quanto ao que se realizou entre esta e o ultramar.
Parece-me de insistir, em apoio do que se diz neste capítulo - que uma forte actuação fomentadora incida nos próximos anos sobre o turismo interno, porque ele é o grande e eficaz antídoto para a perda de divisas, atribuível ao chamado turismo negativo-, aquele que os portugueses vão fazer ao estrangeiro, o qual tende a aumentar à medida que sobe o nosso nível de vida.
Como já uma vez aqui salientei, nos países para além da «cortina de ferro», a proibição de saídas para o estrangeiro, além de razões de ordem política, corresponde à anulação deste factor negativo da balança turística.
Desviar uma parte importante da corrente turística portuguesa do estrangeiro para as ilhas adjacentes e o ultramar constitui política a prosseguir com insistente firmeza e que deve merecer a maior compreensão e apoio das entidades transportadoras, hoteleiras e agências de viagens nacionais.
A planificação económica do nosso turismo interno pressupõe uma política favorável de preços de viagens marítimas e, sobretudo, aéreas, de voos fretados com tudo incluído, para viagens individuais e de grupo, de preços hoteleiros de propaganda e de uma racional ocupação dos hotéis de média categoria.
Oferece-nos o ultramar português espantosa beleza de paisagens, costumes, folclore, actividades industriais, agrícolas e desportivas, centros de interesse capazes de fixar importantes correntes turísticas.
As ilhas adjacentes, pela sua proximidade do continente, podem ser a base de turismo interno, económico, de curta duração, repousante e acolhedor, se idênticas facilidades puderem ser reunidas, já que o custo das viagens nas carreiras regulares de ligação com a metrópole é bastante elevado.
Permito-me destacar o meu arquipélago da Madeira, a pouco mais de uma hora de voo de Lisboa, desde que a T. A. P. introduziu aviões Boeing 727. O seu clima ameno, suas paisagens maravilhosas, o mar calmo, cuja temperatura é no Inverno superior à da atmosfera e oscila pelos 17ºC, os seus hotéis e residenciais confortáveis, as suas piscinas, a sua larga tradição e experiência turística fizeram dela uma das zonas prioritárias do turismo nacional. Com a alta rentabilidade do seu turismo, que apresenta elevada taxa de ocupação hoteleira durante todos os meses do ano, a Madeira, segundo um aforismo turístico, «é o lugar onde o Verão vai passar o Inverno».
A importância da Madeira para este tipo de turismo foi salientada em recente discurso pelo Sr. Subsecretário de Estado da Presidência do Conselho:
Também o turismo interno português - disse este membro do Governo - pode e deve crescer rumo à Madeira, promovendo-se a vinda a esta ilha de muitos portugueses do continente e do ultramar que fazem férias no estrangeiro sem conhecerem (direi melhor, apenas porque não conhecem) a Madeira.
Viu a Madeira, com efeito, recentemente inaugurada a sua Escola Hoteleira, cuja organização se me afigura modelar e a terceira que se abre no País.
Nessa inauguração ouvimos a este Subsecretário de Estado as seguintes palavras:
Quando, em 1963, se começou a dispor dos primeiros estudos de base sobre o turismo, encomendados a peritos de reputação internacional, foi possível verificar que as grandes linhas das recomendações preconizadas nos conduziram a uma política de turismo conforme à tradição turística que, na Madeira, há muito se instituíra.
A Escola Hoteleira do Funchal, que hoje inauguramos, insere-se, como um simples marco, na constante linha de rumo desta tradição.
Mas a Madeira, com um século de turismo, em que foi única pioneira no nosso país, a sua fama mundial, a vocação turística da sua gente, zona prioritária de turismo por definição estatal, vê o seu desenvolvimento turístico efectivar-se com desoladora lentidão.
Em cinco anos o aumento de capacidade hoteleira nem atingiu 1000 camas, menos do que o Algarve conseguiu em cada um dos últimos anos, e o aceleramento e expansão da construção hoteleira constitui actualmente o seu problema crucial.
O incremento deste sector constitui o mais urgente pressuposto para que então possa reivindicar-se um alargamento da política de tráfego aéreo em relação à nossa ilha.
Do projecto do Plano de Fomento deduz-se que, em 1966, em relação ao total do País, a zona de turismo da Madeira registou apenas 10 por cento das dormidas em hotelaria, enquanto o Algarve, com meia dúzia de anos de promoção turística, registou já 13 por cento.
É grave erro pensar-se que há na Madeira capitais, portugueses ou não, de volume suficiente para base de expansão hoteleira. Têm os investimentos de ser procurados no estrangeiro e na metrópole. Fomentar esses investimentos, facilitar a entrada de capitais mediante uma propaganda bem dirigida da alta rentabilidade da indústria hoteleira na Madeira, é o primeiro passo a dar nesta estagnante fase por que passa o turismo madeirense.
E seja-me permitido, nesta tribuna, apelar para os núcleos de capital do País, alguns dos quais já contribuíram para o desenvolvimento turístico do Algarve, no sentido de se interessarem por este investimento, não só pela alta rentabilidade mencionada, mas pela fonte de divisas que constitui para o País.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Simplificar e reduzir o tempo e as formalidades, que vão desde a apresentação do anteprojecto e entrada de capitais e materiais de construção até à abertura dos hotéis ao público, eis o segundo aspecto na corrida que se impõe neste domínio da construção hoteleira, a fim de que a Madeira não passe de moda - o grande perigo das estâncias turísticas em face de uma procura que nunca mais encontre oferta suficiente.
Prevê o Plano que seja de dois anos o período médio para construção e apetrechamento de uma unidade hoteleira. Em relação à Madeira pode considerar-se vantajoso o dobro desta previsão, e isto se decisões favoráveis forem tomadas quanto ao que venho dizendo.
Depois da construção hoteleira, impõe-se, como segunda prioridade, a revisão da política de tráfego aéreo em relação à Madeira, que se aproxime daquela que outros países têm em relação às suas ilhas turísticas.
Aproveito a oportunidade para prestar justiça ao esforço realizado pela T. A. P. com o aumento de frequência de viagens aéreas, a entrada ao serviço de aviões a jacto na carreira da Madeira, o número crescente de passageiros, carga e correio que vem transportando, a comodidade das viagens e a amabilidade e experiência do seu pessoal.
Esta revisão inclui, em relação aos voos irregulares fretados (chaters), uma larga propaganda das facilidades concedidas pelo Ministério das Comunicações, que permitem a qualquer empresa realizá-los regularmente durante