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6 DE DEZEMBRO DE 1967 1971

crescendo, multiplicada como cada dia mais pode ser pela ajuda dos maquinismos e pelas melhorias de organização dos processos. Há-de corresponder a cada trabalhador cada vez maior produção, para que a sua parte nela possa crescer, descontados os custos. E, pois que esta parte se exprime no salário, segue-se que o salário só pode realmente crescer na medida em que o próprio trabalhador produza mais, ou melhor.
De outro modo, ou o salário não sobe, ou sobe o preço da produção, e com ele o custo dos consumos, ou seja o da vida.
E o trabalhador que não faz melhorar o rendimento do seu trabalho engana-se a si mesmo, quando julga estar sòmente a enganar o patrão.
Ponto é - e este ponto é tão essencial como a condição anterior - que ao trabalhador seja efectivamente proporcionada a participação nessa melhoria do rendimento.
Tal não sucedeu em longos períodos históricos, e designadamente nos começos da Era Industrial, como demais se sabe. Elemento debilitado por toda a casta de sujeições, que acabaram por a fazer erguer-se irreprimivelmente na reivindicação de melhor sorte, e lhe asseguraram convictos (se nem sempre desinteressados) aliados para a luta, a mão-de-obra era até recentemente a parente pobre, no figurado como no real, da família produtiva. Aliás, aí temos ainda o relatório do Plano a demonstrar-nos que mesmo nos períodos mais recentes, e quanto a algumas das actividades mais festejadas por progressivas e rendosas, a evolução da produtividade das empresas foi superior à dos salários que pagaram.
Quer-me mesmo parecer, a mim, que a subida de salários e índices de. vida dos últimos anos, nos meios industriais que de outro modo se contentariam com aproveitar da força de trabalho atraída de outros sectores, se devem mais propriamente aos crescimentos da produção estrangeira, pelos efeitos da emigração, do que às melhorias da nossa interna.
Mas estas foram doenças de crescimento, e já não há que duvidar de que o trabalho, pela rarefacção, se tornou entre nós também factor apreciado e de que,, salvos desastres, deixou de ser o elemento mais débil dos processos produtivos.
Porém, se os trabalhadores se convenceram já bastante deste último facto, ainda falta educá-los para o outro que atrás apontei: que é do seu interesse, e do interesse nacional no sentido do desenvolvimento económico, passarem a trabalhar mais aplicadamente e com melhor consciência do seu dever, e proveito, de imprimirem maior rendimento ao próprio esforço. Paralelamente, há que manter o patronamento consciente de que é também do seu interesse, e do interesse nacional no mesmo sentido, cuidar de assegurar aquele proveito do trabalhador no melhor rendimento do trabalho.
Nem altos salários sem trabalhar mais e melhor, nem maior rendimento do trabalho sem participação proporcionada do trabalhador!
À política governamental do trabalho incumbe providenciar para que se vão satisfazendo estes objectivos, e providenciar mais pela lição - que o operariado poderá nem sempre tomar para o bem, mas pouco esquece para o mal - do que pela constrição.
Muitos sinais há, demasiados sinais, porém, desde textos no Diário do Governo a atitudes das pessoas, de que os departamentos competentes da administração pública ainda não se livraram de complexos da era de trabalhador oprimido, e andam muito alheios aos modernos conceitos da função do trabalho na economia.
Dir-se-ia que essas autoridades procedem, demasiadas vezes, repito, como se entendessem que a maneira por que lhes cabe protegerem o trabalhador é ... livrá-lo de trabalhar, em vez de se dedicarem a encaminhá-lo para a eficiência e para a melhoria da sua condição por esta via, a única segura e duradoura.
Procurar a melhor retribuição do trabalho, a máxima dignificação do operário, o aumento do seu quinhão no valor do produto, é uma coisa e a coisa necessária; não o esclarecer, activa e passivamente, de que é do seu próprio interesse trabalhar muito e bem, é desservir o desenvolvimento da Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Neste sentido, importa que sejam reconsiderados critérios e actos. Tornado, como está, elemento raro o trabalhador, o bom trabalhador, perdeu primazia o dever de suprir a sua debilidade contratual; quanto ao trabalhador deficiente, o que importa é ajudá-lo a melhorar-se, não a iludir-se na conta que faça de si próprio.
Há bastantes vozes concordes para que pudesse faltar o eco delas no nosso debate; porque actualmente, neste nosso querido Portugal, cada vez se trabalha menos e pior!
Na presente conjuntura, que acastela nuvens de preocupação sobre as economias ocidentais, quando não se podem, nem devem, ocultar as sombras que essas produzem sobre a nossa própria economia, como não se pode, nem deve, por um momento esquecer as contingências susceptíveis de a embaraçarem e contrariarem as esperanças do Plano, a palavra de ordem superior, o exemplo da Administração, o firme e forte propósito de cada qual de nós deve ser o de retesar até ao último extremo as fibras activas, de modo a intensificar a produção com que nos bastemos, para consumo interno e trocas com o exterior.
Levar ao mais alto ponto o rendimento de todo o trabalho e o prémio de todo o trabalhador é, pois, insistirei ainda, a necessidade primordial a servir pelo preceito e pelo exemplo; e nesta ordem de ideias não há senão que aprovar e aplaudir que a reforma da administração do Estado tenha sido também examinada no Plano, com substancial descrição dos seus problemas, animadora exposição das medidas já tomadas e dos projectos em vista, plausível definição de objectivos.
Prendeu-me entre estes, por mais fácil de sintonizar nas ondas da minha curiosidade, justamente o primeiro, que visa a insuflar à Administração um espírito empresarial harmónico com as características e exigências do nosso tempo.
Ora a primeira exigência do nosso tempo, dentro do espírito empresarial, é a da boa gestão ou habilidade de tirar dos meios disponíveis os melhores efeitos no sentido dos objectivos próprios e em harmonia com as circunstâncias. E, como sob o intenso fluir dos requisitos e das condições da acção, na nossa sociedade em desenvolvimento, meios e objectivos imediatos se modificam sucessivamente, a gestão não tem de cuidar só de manter o sistema em movimento: pertence-lhe ser dinâmica, capaz de atender às novas correntes que se formem e aproveitá-las para os fins do seu mandato.
Não se aceita, pois, que os responsáveis de gestão, ao nível directivo, repousem sobre sucessos passados, serenando no entorpecimento do expediente corrente, que se contentem com fazer seguir. Enquanto estejam ao leme, exige-se-lhes que se encontrem permanentemente tendidos para se renovarem na actividade, e pelo próprio exemplo do mesmo modo mantenham aplicados