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2192 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 117

alma também profundamente varonil e lusíada, afirmou (e é também conhecida a devoção do Sr. D. Manuel Gonçalves Cerejeira pelo pontífice romano):

Não são elas um convite ao pacifismo, que seria demissão covarde de graves deveres, mas sim a procura esforçada das condições daquela paz verdadeira que assenta na Verdade, na Justiça, na Caridade e na Liberdade e - sobretudo no caso presente - implica também um esforço sério pelo desenvolvimento integral e harmonioso das populações e de todos os seus sectores.

Sim, nisso, «no desenvolvimento integral e harmonioso das populações e de todos os seus sectores», nos temos de empenhar por razões de justiça, em primeiro lugar, e por razões de ordem psicológica que estão na base da boa moral dos que combatem na frente pela liberdade da Pátria e da boa moral da retaguarda, que mais do que nunca há que manter sadiamente estruturada.
Ao ouvir as palavras do glorioso sumo pontífice e as de S. E. o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, senti que não tinha saído - o que para mim seria profundamente doloroso - de dentro das balizas da ortodoxia ao proclamar em 10 de Junho do ano que findou, na nobre cidade do Porto, perante a guarnição daquela cidade: «Soldados, deixai-me ir convosco! Deixai-me pisar os vossos trilhos, que são os da honra e do dever. Que importa a morte quando a glória nos espera! Pertencem à glória dos céus os mártires da Pátria.»
Sr. Presidente e Srs. Deputados: Antes de iniciar as ligeiras considerações que vou fazer propriamente sobre a proposta de lei em discussão, eu tinha de, sinceramente, repetir aqui as palavras que então proferi: «Soldados, deixai-me ir convosco! Deixai-me pisar os vossos trilhos, que são os da honra e do dever. Que importa a morte quando a glória nos espera! Pertencem à glória dos céus os mártires da Pátria.»
E, ao fazê-lo, quero reafirmar aqui a minha profunda compreensão, o meu devoto respeito pelas «lágrimas das mães, dos pais, das esposas, das noivas, dos irmãos, dos órfãos, dos que mereceram a suprema honra de morrer ao serviço da Pátria, nesta guerra que não queríamos e tivemos de aceitar porque assim o exige a nossa sobrevivência como Nação livre e independente. Lágrimas que recolhemos comovidamente no mais fundo dos nossos corações, sentindo a amargura dessas famílias que o luto cobriu e tomamos como nosso, compreendendo a sua dor».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quero ainda, Sr. Presidente, ajoelhar orgulhosamente perante o bom e o humilde povo de Portugal, que tem sabido exemplarmente cumprir o seu dever, entregando os seus filhos às forças armadas. Com tristeza? Sem dúvida. Com saudade? Como poderia ser de outra maneira?! Mas com o orgulho de quem cumpre um indeclinável dever e sabe que as fronteiras da Pátria estuo lá longe, lá longe para além dos oceanos, «nas nossas Áfricas», como ainda há pouco ouvi da boca de uma pobre aldeã. Esta atitude nobilíssima do bom e generoso povo de Portugal vale ainda como dedo acusador apontado a alguns que, bem instalados na vida, lucrando até. porventura, com o esforço e sacrifício dos outros, procuram sómente a fuga «das responsabilidades e dos riscos necessários para o cumprimento dos grandes deveres impostos pela empresas generosas», para continuar, assim, a servir-me das palavras do papa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Para que os monárquicos como eu não possam dizer que o advento do regime republicano só trouxe desfavores ao País, ficamos-lhe a dever, logo após o seu advento, a obrigatoriedade do serviço militar.
A instituição do serviço militar obrigatório foi medida digna do maior aplauso e demonstra a generosidade e rectidão de intenções de muitos servidores da nova era que se abria. É certo que essa rectidão de intenções não foi por muito tempo bem correspondida, pois depressa as «inspecções militares» se transformaram num trunfo para o partido dominante.
Sr. Presidente: Todos conhecemos o papel decisivo que a guarnição militar de Braga teve na Revolução Nacional de 28 de Maio ao acolher o então general Gomes da Costa, depois de outras guarnições se terem recusado a fazê-lo. Mas o que poucos sabem é que para isso - para incitar à revolução os bravos militares da minha terra - muito contribuiu a escandalosa forma como estava operando a junta de recrutamento militar, então instalada na vizinha Guimarães, para onde os mancebos eram transportados em camionetas para conseguirem o desejado «livramento» e aumentar dessa forma o poder eleitoral dos políticos de então. O facto feriu o brio militar dos oficiais de Braga, que viram nisso mais um pronuncio do descalabro que então caracterizava a vida nacional. Hoje, geralmente, os políticos procuram manter a sua influência - os que a procuram - através de meios lícitos e a acção das juntas médicas militares, tanto quanto sei, é na verdade impecável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Sem dúvida, como me foi dado ler há pouco, que o Exército passou a ter, além da tarefa primacial de nos defender contra os inimigos externos, a de fomentar no seio das unidades um mais perfeito conhecimento das diferentes classes que integram a Nação. Não há dúvida de que, a camaradagem que se estabelece no serviço das armas é da que fica para sempre, e, assim, por via do serviço militar obrigatório, funde-se o elemento humano nacional, dando à Pátria uma maior coesão. Até por isso, pois, o serviço militar deve atingir a maior extensão e há até quem defenda a sua obrigatoriedade para todos os sexos.
Numa época em que a mulher disputa aos homens todos os lugares e posições, abandonou o lar e concorre com os homens na vida pública, nada me custa a enfileirar nos partidários do serviço obrigatório para o chamado sexo fraco, sexo que tão forte se vem afirmando nos nossos dias.
Sem dúvida que há missões que a mulher pode desempenhar com maior eficiência nas forças armadas, dentro do respeito e veneração que lhe são devidos. As secretarias e hospitais militares são campos para a sua acção, de uma maneira especial estes últimos.
Uma palavra de simpatia entendo dever dirigir desta tribuna para o grupo de enfermeiras pára-quedistas, que tão altos serviços já tem prestado e merece a admiração de todos nós. Valorosas raparigas que honram a mulher portuguesa e são pioneiras do amanhã que se adivinha.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Seja-me permitido também uma referência especial à acção do Movimento Nacional Feminino, que tanto tem contribuído não só para o amparo dos nossos soldados, como das suas famílias, na retaguarda.