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24 DE JANEIRO DE 1968 2249

Porém, a Goa moderna pouco ou nada se ressentiu dessa influência carnatac, pois que ela, a Goa dos nossos dias, teve uma nova cultura e civilização, toda ela muito sua, feliz amálgama do Oriente e Ocidente, a oriental e ocidental.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Conhecida esta verdade, a resposta à resolução é de que o Goês era um povo separado e Goa um território separado, além de pertencer à soberania portuguesa, por exclusiva vontade dos seus habitantes, a partir de 1510.
Do mesmo modo como a Península Indostânica, também a Europa pode ser olhada como uma unidade geográfica, pois ela vai da Eurásia, pelos Urais, ao mar Cáspio, mas até hoje ninguém se lhe referiu como unidade política, negando-lhe várias nacionalidades e o direito de formar nações separadas.
Assim, temos a Península Balcânica, compreendendo sete ou oito Estados soberanos; a Península Ibérica, sendo uma unidade física, é constituída por dois países independentes - a Espanha e Portugal.
Desta forma, podia discretear por várias partes do Globo, referindo-me à Península Escandinava, mesmo à antiga Áustria-Hungria e à Holanda, que é continuação da planície germânica, e assim por diante.
Para mais, a soberania nasce do consenso unânime de um povo; não se impõe à força, o que significaria despotismo e tirania.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vê-se, portanto, que os Goeses nunca foram Indianos e, mais ainda, que o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou uma verdade: que Goa, embora conquistada pela União Indiana, a sua alma era e continuava a ser portuguesa, como se tem provado por inúmeros factos de que o usurpador tem conhecimento e procura por todos os meios, ainda os mais bárbaros, erradicar, o que até hoje não tem conseguido, seis anos após o seu tirânico regime. Provam-no vários correspondentes de jornais estrangeiros que visitaram Goa recentemente, que, não morrendo de amores por Portugal, se vêem obrigados a confessar a verdade, depois de contactar os mais diferentes sectores da sua população.
Comemorando o 6.º aniversário da invasão armada de Goa, o jornal O Heraldo escreveu em editorial, textualmente:

Vistas as coisas de relance, superficialmente, nota-se um senso de frustração, de desapontamento, de expectativa, não satisfeitos.
A corrupção administrativa e política no País, com reflexos nesta terra, o exacerbamento de preconceitos e lealdades restritas, as intoleráveis delongas burocráticas, tocando as raias do caos administrativo, todos estes irritantes psicológicos desvirtuam as perspectivas verdadeiras do acontecimento que em 19 de Dezembro de 1961 nos projectou do ambiente fechado, de uma vida pautada e vegetativa, para a amplidão da aventura, abrindo largas avenidas para iniciativa, e levam as mentes para comparações que à primeira vista parecem impressionantes.

Embora batendo uma no cravo e outra na ferradura, o editorialista vê-se forçado a confessar esta verdade:

Indubitavelmente, a administração era mais eficiente, mais expedita, mais regrada; as decisões tomadas no ápice da pirâmide burocrática e governativa
que se localizava nesta terra eram executáveis sem sancionamento ulterior; o Conselho Legislativo tomava providências sem necessidade de placet de esferas mais altas; aprovado pelo Conselho o orçamento do Estado, não era preciso correr a Lisboa a cada passo para obter o beneplácito para execução das obras e projectos, como agora se torna necessário correr a Nova Deli.

Se o Estado Português da Índia tinha completa descentralização administrativa, é natural a pergunta: Que espécie de libertação foi essa? Qual a autonomia que lhe foi concedida?
A fé dos próprios turibulários a sua administração levou um tremendo retrocesso, e, quanto ao bem-estar da sua população, aquele jornal, na secção inglesa, salienta que «cinco anos se perderam numa controvérsia política que deveria aguardar até se resolverem outras questões prioritárias. Mas alguns de nós pensaram de outra forma e o território inteiro teve de pagar pela custosa loucura dos integracionistas. Surgiram então as dificuldades ao nível nacional: duas agressões, duas secas e dois primeiros-ministros falecidos que desapareceram. As oportunidades perdidas nestes cinco anos tornaram-se grandemente uma fonte de incerteza do futuro. Os preços começaram a subir, os géneros alimentícios tornaram-se escassos, os empregos difíceis de conseguir, as relações entre as gerências e os operários mantiveram-se tensas».
Um outro panegirista - Sarto Esteves, no seu muito recente opúsculo Goa e o Seu Futuro, escrito em inglês, apesar das alfinetadas que aplica ao regime português, não pôde deixar de confessar que «a melhor contribuição que os Portugueses deram ao progresso de Goa foi a estabilidade política e a unidade trazida ao território.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Parece terem estabelecido o seu império na Índia com o objectivo definido de o tornar, em muitos sentidos, um Estado independente. Eles empenharam-se nessa tarefa desde os primeiros dias da conquista por Afonso de Albuquerque até aos derradeiros dias do seu governo. É difícil não admitir que geralmente manifestaram um senso de propósito e direcção em muitas das suas acções no tocante a atingir o seu objectivo de uma Goa unida, independente dos territórios à sua volta. Poderão ter enfraquecido a própria causa no inverno da sua vida em Goa e o sentimento da unidade que imbuíram nos habitantes de Goa. A integração emocional dos Goeses foi, porém, completa.
O sentimento de uma existência auto-suficiente e de dirigir os seus próprios negócios dentro do território por 450 anos deu a Goa uma unidade e uma identidade nacional sua própria, do que muitas nações sob dominação estrangeira, especialmente no Oriente, não podem orgulhar-se. Os Portugueses deram a Goa uma posição peculiar e condicionaram os pensamentos, acções e atitudes dos que nela viviam numa maneira que fizeram sentir aos Goeses de serem por eles próprios independentes de todos os que se encontravam ao seu redor. Cada indivíduo nascido em Goa cresceu pensando em Goa como seu torrão natal e o que quer que os governantes fizessem era dele próprio».
Não é necessário, Sr. Presidente e Srs. Deputados, outro depoimento mais frisante e eloquentemente elogioso à política fraternal portuguesa por mais de quatro séculos e meio do que aquele que acabo de citar, porque ele refuta todas as aleivosias, diatribes e despautérios com que os detractores de má fé e ignorantes a mimosearam.