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2250 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 123

Para Portugal, creio, basta este reconhecimento, embora tardio, de se ter feito inteira justiça aos seus processos e às intenções no Governo do Estado Português da índia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vou concluir estas breves considerações. com a autorizada opinião do Prof. Doutor Armando Gonçalves Pereira, ilustre director do Instituto de Ciências Económicas e Financeiras, de Lisboa, exarada no seu bem documentado livro A Índia Portuguesa, em que, fazendo a seguinte pergunta, passa a respondê-la:

Como é possível que os filhos de Goa, a milhares de léguas de distância, se sintam e efectivamente sejam tão portugueses como os melhores da metrópole? O fenómeno tem muitas causas, mas, entre todas, avulta, sem dúvida, aquilo a que podemos chamar, embora incorrendo no grave defeito de uma frase enfática: «O surpreendente efeito de uma política de não discriminação racial.»
Tudo isto - acrescenta - dá aos portugueses da Índia a sensação de que eram acima de tudo portugueses; eles criaram dentro da família lusitana o seu mundo e a esfera dos seus interesses morais; de certo modo, os Goeses passaram a considerar Portugal como sua pátria e o vasto território da Índia como terra estrangeira.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. José Manuel da Costa: - Sr. Presidente: V. Ex.ª, como sempre o primeiro de todos nós na interpretação do pensamento e da sensibilidade da Assembleia Nacional, tem aproveitado variadíssimos ensejos de render homenagem, de consideração e apreço, aos trabalhadores da imprensa, designadamente àqueles que vivem mais próximo de nós e aos que maiores responsabilidades assumem no campo da informação e na tentativa quotidiana do esclarecimento público e da orientação cultural das grandes massas.
Bem haja V. Ex.ª por tão clara atitude de compreensão e de carinho, e quem agora o reconhece e lho agradece não só não é um profissional da imprensa, como até pelo jornalismo passou, sem pena nem glória, durante alguns anos de vida, sem por isso ter ficado vinculado à profissão por qualquer laço material que pudesse justificar as palavras que agora vai dizer.
Acontece, porém, que desde sempre convivi, ou na relação pessoal, ou na linha do espírito, na função pública, na combatividade política e na própria compenetração profissional, durante vários anos, com a gente da imprensa, julgo tê-la servido em algumas circunstâncias, devo-lhe atenções sem nunca lhe ter pedido jeito ou favor de meu interesse pessoal, antes, sim, em bravos momentos de luta política, terei sofrido algum quinau, o que sempre se tomou com mágoa, mas sem ressentimento ou acrimónia, pela natural rudeza do ofício e pela convicção, a pouco e pouco formada, de que tal ofício era quase sempre fonte de sacrifício, esmagadora tarefa, ingrata, inglória, incompreendida quando nela se procurasse servir com dignidade, lealdade e obediência a princípios éticos indeclináveis e a verticalidade de atitudes.
Julgo poder dar nesta matéria um testemunho sincero e desinteressado, e, seja embora a minha voz a mais humilde desta Casa, penso ser ela, apesar disso, suficientemente qualificada para prestar um depoimento, por ninguém pedido nem sugerido, e que venho trazer à Assembleia em puro acto de consciência e por dever de solidariedade com uma classe profissional em que estive enquadrado certo tempo e que me habituei a conhecer, a admirar no trabalho e no sacrifício, a respeitar na coragem e no heroísmo e até a compadecer na injustiça e na miséria de tantas e tantas situações de que pude ter amargurado e directo conhecimento, algumas delas verdadeiramente angustiantes...
Vem isto a propósito da muito recente comemoração do 25.º aniversário da criação da Caixa de Reformas dos Jornalistas, em acto solene presidido por S. Ex.ª o Ministro das Corporações, e durante o qual foram evocados ilustres nomes de jornalistas portugueses - vivos e mortos -, foram avivadas as grandezas e as desditas da profissão e postas em relevo as necessidades vitais, as legítimas aspirações e também as justificadas apreensões de uma classe só na sua aparência omnipotente, mas, na realidade, algum tanto menosprezada nos seus direitos, interesses, condições de vida, de saúde, de doença, de velhice, de reforma, de suficiência no presente, de confiança no futuro e de certeza de amparo familiar para além da própria morte.
Foi orador oficial das comemorações um homem que vive no jornalismo e do jornalismo há mais de 50 anos e há muitos anos também aqui no dia-a-dia dos nossos trabalhos - Leopoldo Nunes. Ele fez, em larga síntese, o inventário das aquisições úteis e das aspirações prementes da sua classe, e assim terão ficado expostos e justificados no lugar próprio os anseios e os receios dos jornalistas portugueses no tocante ao justo preço do seu trabalho, cautelas do futuro e sobrevivência digna e honrada de seus familiares, como quem diz o exacto valor e prestígio da profissão, sua dignidade moral e social, cuidados do decoro e amparo da família e certeza de uma vida humanamente desejável e possível na invalidez e na velhice.
Não costuma ser duro de ouvido o Sr. Ministro das Corporações, e no seu discurso de encerramento da sessão ele próprio desejou ser um jornalista, integrando-se, assim, em alta homenagem, no préstimo e na honra da classe, ao mesmo tempo que, como homem do Governo, bem claramente exprimiu o voto de «ser útil à categoria profissional ali tão brilhantemente representada».
Tudo assim parece certo, mas eu direi, Sr. Presidente, ter-me tocado profundamente o fecho do discurso de Leopoldo Nunes, que ali falava não apenas em seu nome próprio, mas na qualidade de presidente do conselho geral da Caixa de Reformas dos Jornalistas, portanto com total autoridade representativa. Disse ele, a concluir a sua exposição:

Mais ainda do que ao Ministro, é ao homem cristão que nos dirigimos, porque os problemas são, acima de tudo, de justiça e de humanidade. É justiça e humanidade o que pedimos.

E é isto que me parece grave, Sr. Presidente, na certeza de que só se pede aquilo que se não tem ou que se vem pedindo e se não alcança, o que vem a dar no mesmo. Ora «humanidade» tem sempre de ser uma constante natural e normal, inerente ao homem e à vida, e a justiça tem sempre de ser rápida e pronta, recta e trigosa, como dizia o cronista, e uma e outra não têm apenas de ser pedidas ao homem cristão, mas sim ser exigidas de todos os homens, instituições e serviços de que dependam direitos, interesses, condições de vida e até mesmo condições de morte de todos aqueles que servem, trabalham.