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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 163 2948

Aquilo que sucedeu na noite de fim de ano, na Igreja de S. Domingos, não foi mais do que uma pequena amostra, um insignificante exemplo, do que nos espera se não se denunciarem e castigarem os seus principais animadores, quer pertençam à hierarquia do clero, quer sejam simples, mas perigosíssimos, cidadãos.

Que importa para algumas pessoas perfeitamente cegas, ou cuja demência é já irreversível, que dentro de uma igreja se pretenda destruir o que o seu significado espiritual simboliza para os católicos, uma vez que, ao som de música "pop", se vão entoando cânticos religiosos? Que importa a distribuição de panfletos subversivos, que negam o direito de existência à própria Pátria, se tudo foi intermeado com orações ditas pêlos imbecis ou pelos vendidos do grupo assaltante? Que importa o verdadeiro significado do acto, se ele se mascarou em prece pela paz?

Mas que paz querem eles? A da abdicação vergonhosa; a de derrota sem preço; a da negação de lodo um passado de mais de cinco séculos, para depois a internacionalização se fazer com maior facilidade! E abolidos os bons princípios, destruídas as fronteiras, arrancado das almas o verdadeiro significado de pátria e subvertido o verdadeiro conceito de liberdade, teremos então aquilo que nos reservam certos intelectuais, alguns sacerdotes e professores, simples homens da rua, ricos, pobres, cristãos, ateus, uma amálgama, em suma, de indivíduos apenas irmanados polo mesmo desejo de negarem a Deus, venderem a Pátria e destruírem a Família.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E este o panorama que se nos apresenta no limiar do ano de 1969, ano da era de Cristo e de uma civilização que devíamos aperfeiçoar e prolongar, pensando naqueles que nos hão-de suceder nesta cavalgada do tempo em que vivemos.

Actuando sob a forma de comandos, ontem, na sacristia de uma igreja, onde se tentara desagravar n palavra de Cristo: hoje, na vigília grotesca da Igreja do S. Domingos: amanhã, sabe-se lá como e onde, as forças do mal vão minando a resistência e a confiança da parte sã da Nação, que, angustiada e perplexa, pergunta: para onde vamos?

Eu não pretendo. Srs. Deputados, que nos armemos com varapaus, foices e caçadeiras para corrermos a dar caça aos lobos que desceram ao povoado, deixando atrás de si o rasto da sua ferocidade. Para isso, há quem detenha nas suas mãos o dever do preservar a ordem pública. Temos, felizmente, as forças armadas, cujo principal responsável, ainda há dias, na mensagem do Ano Novo que lhes transmitiu, afirmou:

Os comandos de todos os escalões das forças armadas mantêm-se atentos e vigilantes, acompanhando e observando, com frieza e sem emoção, certas actividades indisciplinadas que por aí andam, e dispostas a garantir à Nação e aos que pela sua integridade histórica e constitucional se batem lá longe a ordem e a paz social.

Temos um governo plenamente consciente da transcendência da hora que passa e pronto a garantir a ordem, inexoravelmente.

Mas temos, acima de tudo, e que tapem os ouvidos os que acham de mais ou inoportuna a insistência, um Chefe de Estado que sabe manter, fria e patriòticamente, a sua inquebrantável determinação de cumprir o seu dever, e em torno de quem devem estar firmemente unidos todos os verdadeiros portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Então, haverá quem pergunte: para quê estas palavras? Por exibicionismo mórbido: para gerar a confusão política; por vaidade ou interesses pessoais; para defender interesses de terceiros ou vivificar qualquer grupelho a que pertença - banido da cena política? Ou, simplesmente, por despeito, afastado como foi do executivo do organismo político do Governo?

Pois nenhuma destas dúvidas me aflige ou tem a menor relevância! Por menos que assim se julgue, detesto o exibicionismo! O que não quer dizer que hesite em mostrar-me, sempre que haja necessidade para tal, no pleno uso, aliás, dos meus direitos, e no meio apropriado! Depois, porque, chegado a esta idade, daria a vida para que as gerações vindouras fruíssem da paz e do sossego em que me fiz homem e pude educar os meus filhos - única razão de qualquer vaidade que em mim exista.

Ainda porque, nesta Assembleia, ou em qualquer cargo político ou administrativo que tenha exercido, jamais transaccionei influências políticas, nem tão-pouco defendi interesses próprios ou de terceiros. E desafio que rebatam esta afirmação, mas com factos, e não com palavras!

Finalmente, porque tendo sido sempre um homem livre apenas segui ideias, sem nunca aceitar vínculos, jugos partidários ou dependências políticas. Nunca mendiguei cargos, nem honrarias, nem benesses. Limitei-me a servir sem discussão naquilo para que era solicitado e que sentia estar dentro das minhas forças, embora não ignorando as minhas naturais limitações.

Então, que pretendo eu, Srs. Deputados, ao dirigir-me a VV. Ex.ªs? Apenas que as gentes da nossa terra, aquelas que vivem e sentem os seus problemas, aquelas que constituem o sangue e a alma da Nação, saibam, a partir da Assembleia Nacional, ou dos meios de contacto de que pudermos dispor, dos manejos de certos indivíduos, que, sob a capa de as servir e defender, apenas pretendem adormecê-las para depois destruir aquilo que de vivo, de nobre e de essencial representam para a sobrevivência de Portugal. Negando-se-lhe n existência e os seus direitos em África, acabará por se jogar o seu próprio destino na Europa, como nação livre.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Isso constitui o nosso dever, e é para isso que eu me permito chamar a atenção de VV. Ex.ªs

O manifesto distribuído na Igreja de S. Domingos deveria, quanto a mim, ser do pleno conhecimento de todos os portugueses dignos e conscientes, a fim de melhor avaliarem, em toda a sua extensão, a perfídia, a maldade, a deturpação da verdade de quem o concebeu e o perigo a que estamos sujeitos mantendo impunes os seus autores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há factos que convém que se conheçam - e, neste caso, a mentira em que pretendem envolver as causas da guerra de África e os comentários que sobre ela são tecidos seriam a pior acusação de antiportuguesismo que poderia ser feita a quem desconhece, propositada e ostensivamente, a quem pertencem as culpas, quem tem sido a maior vítima e quais as razões por que ainda se combate, em três frentes, no nosso ultramar!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vidas e fazendas destruídas! Parece ser esta a grande preocupação dos autores do manifesto; mas