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17 DE JANEIRO DE 1969 2951

criar os quadros técnicos que formem os indivíduos potencialmente válidos para o desempenho das múltiplas funções qua importa se exerçam. Necessitamos de economistas, de sociólogos de veterinários, de agrónomos, de agentes técnicos de engenharia e técnicos comerciais. Para isso é urgente que o Governo da Nação considere e atenda os alunos do Instituto de Estudos Superiores de Évora. Requer-se que tenham título universitário, que bem merecem, e sejam equiparados aos formados pelas Universidades estatais. Os programas desses estudos foram em tempo devido propostos e aceites. Porque se espera para os legalizar? Impõe-se a criação das escolas superiores de veterinária e agronomia, que em Évora teriam o seu habitat certo. É lá que se processam as maiores explorações agro-pecuárias e é lá, por consequência, que as escolas devem ter montadas. O número dos seus alunas seria, infalivelmente, superior ao das escolas congéneres de Lisboa e o seu reflexo técnico teria maior actualidade e repercussão. E em Évora que existe melhor ambiente para o estudo e investigação e mais lato campo de acção. É lá que a técnica tem esses campos de acção quase ilimitados, e lá ainda mais fácil seria o ensino. A par da preparação escolástica há a possibilidade de aplicação prática dos ensinamentos teóricos. Não hesite o Governo, Évora não deverá ter uma escola náutica, mas pode, podo e deve, ter escolas de preparação para técnicos agro-pecuários. Porque hoje, como aliás sempre, se deve ter em vista o rendimento das explorações. Há que criar economistas que estudem e planifiquem os efeitos económicos. Porque se pretendo uma maior produtividade, e que essa produtividade seja orientada no sentido de servir a todos, há que criar sociólogos que programem no sentido de que a maior produtividade seja encaminhada nesse sentido.

A produtividade e o seu constante aumento é para ser postas ao serviço da sociedade. Atingiremos, assim, a meta de levar os produtos de consumo aos mais baixos preços, à possibilidade de serem usufruídos pelo maior número. A produtividade deve ser incentivada, e todos nela devem colaborar, para que se diminuam as diferenças do poder de consumo entre as classes que constituem a sociedade humana. Sei que o problema é difícil, mas sei igualmente que não é insolúvel. Com espírito de cooperação, com entreajuda, com compreensão, tudo é legítimo supor se atingirá.

A criação dos institutos industrial e comercial e outra necessidade urgente, inadiável até. Os, indivíduos têm de ser valorizados pelo ensino, para que valorizem as suas actuações. Sem técnicos não haverá técnica e sem esta não haverá progresso.

Porque esperamos? Queremos um colapso económico?

Não o creio, e por isso peço no Governo da Nação que atenda as minhas solicitações com a urgência que bem merecem.

Sem brilho, certamente, mas com verdade e sinceridade, aqui deixo expressos os desejos do meu distrito. Atenda-os o Governo, e os resultados rapidamente serão visíveis. Se quereis colher, semeai.

A terra está preparada, o húmus é mais que suficiente e a seara, Srs. Ministros, dará larga paga ao capital a investir. Confiadamente espero. Mas, por Deus, não nos façam esperar muito. Évora aguarda a justiça que merece.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Peres Claro: - Sr. Presidente: Foi-me facultado há dias visitar, no meu distrito, a chamada região da Comporta, com cerca de 400 km2 e limitada pelo rio Sado, desde o sítio da Comporta até Alcácer do Sal (25 km), pelo troço da estrada nacional para o Algarve, que corre entre Alcácer e Grândola (22 km), e pela estrada que de Grândola leva à Comporta, passando pelo Carvalhal (32 km). Por impossíveis caminhos, de responsabilidade particular, cruzei aqueles quase 40 000 ha, com prédios rústicos de quilómetros de extensão, e ao meu espírito de homem simples, que não entende que se morra de sede ao pé da água ou de fome ao pé do pão, logo surgiu a interrogação, talvez ingénua, de como era possível falar-se calmamente em faltas de arroz, em faltas de madeira, em preços altos de sal e ter ali desperdiçados, improdutivos, dizem-me que 30 000 ha de terras capazes. Nos recuados tempos de D. Fernando, o primeiro, quem tinha terras e as não queria cultivar, pois as deveria entregar a quem o quisesse fazer. Sempre me impressionou tal medida, e nunca a tendo visto aplicada de então para cá, assim tão às claras, D. Fernando sempre foi para mim um homem de grande e decidida coragem. E chamei à conversa D. Fernando ... mas não era para ali chamado.

Das barragens Salazar e Trigo de Morais, há anos construídas para irrigação de uma vasta área de plainos onde o arroz sobressaía, saem dois canais, que, cumprida parte da missão, vêm a encontrar-se em Alcácer do Sal, onde de novo se bifurcam, seguindo um pela margem direita do Sado, a regar até Marateca, e o outro pela margem esquerda, até à Comporta, a servir esta herdade, o maior celeiro de arroz do País, com os seus 600 ha semeados, com uma produção anual da ordem dos 3 000 000 kg, e as da Batalha, Torrinha, Murta, Monte Novo, Montalvo, Cachopos e Carrasqueira, com mais 1000 ha de arrozais, onde cerca de 3000 pessoas trabalham anualmente. Pois para o transporte de tanta gente, de tanto arroz e das máquinas e animais necessários à lavoura não há uma estrada. E neste pormenor, que parece de somenos, reside o drama e a solução daquelas terras.

De facto, como é possível pedir aos proprietários que cultivem ou aos rendeiros que arrendem se os produtos não podem depois ser escoados? Se alguma vez uma infra-estrutura foi necessária, nunca o foi mais do que aqui, como estrada a ligar Alcácer do Sal à Comporta. São apenas 24 km, 4 km dos quais já construídos, 8 km enrocados e o mais areal e socalcos que a Câmara Municipal de Alcácer do Sal não pode transformar em caminho, mas de que a Junta Autónoma de Estradas poderia tomar a responsabilidade. Essa estrada, desejada, pedida e necessária há um ror de anos. serviria também os 320 ha de marinhas existentes, levaria ao aproveitamento de quase 2000 ha de sapais da beira-Sado, fomentaria o desenvolvimento do interland, onde se situam já campos de criação de gado, 400 ha de pomares em promessa, plantações de tomate para duas fábricas há pouco ali instaladas, que em breve exigirão o cultivo de 3000 ha, 1800 ha de sobreiral, 2500 ha de pinhal e milhares de hectares por plantar, como se fôssemos um rico país deste mundo.

Folheei há dias alguns documentos sobre o nosso panorama da celulose e das madeiras. Seis grandes fábricas de pasta celulósica estão em laboração, outra em construção, duas mais autorizadas, outras previstas. Em 1968 pretenderam as fábricas 1 200 000 st de eucalipto. Obtiveram da lavoura 800 000 st; o resto foi tirado dos seus stocks. Em 1969 necessitam de 1 700 000 st e só poderão obter 1 000 000 st. O que irá passar-se? Ou a produção baixa até ao nível das madeiras disponíveis, com grave prejuízo para a balança comercial, pois é quase toda para exportar, ou se insiste em diligências para a compra de madeiras no Brasil, na África do Sul, noutras paragens, com saída avultada de divisas e que só fretes incompor-