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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 163 2952

táveis impedirão. Estamos perante mais um grave problema de desproporção entre o sonho e a realidade, infelizmente tão do nosso jeito.

Cada vez mais e maiores fábricas, para aproveitamento de madeiras, sempre o mesmo ritmo de carro de bois para atender às necessidades de tal empreendimento. E não há forças que travem os despachos de novas concessões, e não há forças que façam cumprir integralmente os planos de fomento, e não há forças que levem a um entendimento síncrono dos sectores interessados em qualquer planificação, e não há forças que façam mover as dependências e as competências. Eu exemplifico: em Junho de 1966 realizou-se na Ordem dos Engenheiros um colóquio sobre a produção lenhosa nacional face ao desenvolvimento das indústrias da madeira, cujas conclusões e recomendações foram entregues no departamento estatal interessado. Sobre o fomento florestal aí se dizia:

A indústria considera primordial o fomento da florestação do País a um ritmo que se coadune com as possibilidades de desenvolvimento da indústria consumidora de matéria-prima lenhosa. Essas possibilidades resultam essencialmente da existência de:

a) Mercado externo;

b) Mercado interno potencial, dada a baixa capitação nacional do consumo;

c) Aptidão dos solos e das condições climáticas do País ao rápido crescimento das espécies florestais adequadas à indústria.

A execução do plano de reflorestação ao ritmo necessário implica um investimento global que se prevê ser da ordem dos 400 000 contos anuais. Desse valor, cerca de 200 000 contos terão de ser obtidos através de fontes de financiamento, a cujo estudo haverá de proceder-se. A indústria está pronta a colaborar nos estudos necessários à definição detalhada (sic) do problema, no sentido de se encontrar a solução de financiamento mais adequada.

Isto em Junho de 1966. Pois em Junho de 1968 era enviada ao Governo uma nota a dizer que se acentuava o clima de escassez no mercado de madeiras e deplorando que os trabalhos de reflorestação previstos no III Plano de Fomento ainda não tivessem tido início. Seis meses depois, em Dezembro último, foi finalmente enviada uma exposição ao Sr. Presidente do Conselho no mesmo sentido da anterior. Não admira, pois, que a cerca de trinta anos da inauguração da obra de rega do vale do Sado as vias de acesso rodoviário, como a estrada que se pede, a ligar Alcácer a Comporta, ou fluvial, como a rectificação da margem esquerda do Sado ou a construção do canal Tejo-Sado ou as instalações portuárias, no aspecto de condições, equipamento e taxas, sejam problemas sem solução, pois implicam a intervenção conjunta de Ministérios diversos. E não se desconhece a existência dos 30 000 ha de charneca improdutiva entre Alcácer e a Comporta, nem que por uma prospecção agro-florestal de alguns anos se verificou haver nos concelhos de Alcácer e de Grândola uma zona por cultivar da ordem dos 85 000 ha. Assim como não se desconhece que, por iniciativa de alguns menos descrentes, nessa charneca a que me referi se erguem, pujantes e concludentes, belas matas de eucaliptos, algumas em primeiro corte e ainda sem via de escoamento. Os homens transitam, sim, mas pela beira do canal, e vinte e três já lá deixaram a vida, afogados.

Seria também de enorme interesse turístico a estrada Alcácer-Comporta, tal como a que, vinda de Beja, passa por Grândola e vai também até à Comporta, fechando a futura cintura de estradas, ambas servindo a região excepcional da península de Tróia, cujo areal, fluvial ou atlântico, se torna em praias difíceis de igualar. Pois também a estrada Grândola-Comporta, toda asfaltada, porque lhe falta um pontão no Carvalhal, impede que a gente do Alentejo tenha praia a menos quilómetros de distância. E não será de mais lembrar a utilidade da ligação do vale de Guizo ao Carvalhal como estrada de interior.

Sr. Presidente: Mais longo do que desejava e é meu costume, talvez não tenha assim mesmo conseguido dizer o que queria e que, afinal, era tão pouco. Apenas isto: que é preciso urgentemente plantar eucaliptos, que há terras vagas no meu distrito onde podem ser plantados, que não o são porque falta uma estrada de 24 km e que essa estrada e outra a que falta apenas um pontão seriam caminhos fáceis pura as gentes do interior alentejano irem banhar-se no oceano. Apenas isto, com mais alguns pormenores. Apenas isto.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Elísio Pimenta: - Sr. Presidente: O País ficou surpreendido, tão de longe se acostumara a estes desafios. Se fosse lá fora, disse-se, sim, com certeza os anteprojectos, os projectos, os concursos e as adjudicações, a execução planificada e racional e, finalmente, os prazos, não previstos mas estabelecidos, tudo, enfim, levaria o empreendimento ao termo com a maior naturalidade. Processos correntes não surpreendem ninguém.

Agora cá, expectativa curiosa e incrédula. Até se fizeram apostas. Se sim, se não ... Verdadeira corrida contra relógio. E foi assim, porque quem concebeu a obra e a entregou confiante para executar sabia o que fazia. E no dia e hora estabelecidos, um mês passado, o encontro da auto-estrada com a estrada marginal de Cascais era entregue ao tráfego rodoviário e acabavam de vez as confusões, os conflitos e os acidentes. E tudo tão simples ... Parabéns, como dizia o escritor Rúben Andressen Leitão num vespertino de Lisboa, "e quanto isto não vale quando o óbvio não se vê".

Quando o óbvio não se vê ...

É o melhor elogio que tenho lido à Administração. À Administração consciente das suas obrigações ...

Nós ficamos a pensar, Sr. Presidente, quando o óbvio existe realmente em Portugal, como lá fora, quando temos Ministros que querem, técnicos capazes como os melhores, processos actuais, racionalizados, e dinheiro nos cofres, porque é que esses acontecimentos se não repetem para proveito da Nação e crédito do Poder?

É claro que o caso não é o único a apontar. Ainda na véspera do fim do ano o venerando Chefe do Estado inaugurou um laboratório militar cujas instalações custaram 31 000 contos e foram planeadas, projectadas e executadas em menos de três anos. Mas este e a ligação marginal do Tejo, a que tão grande e justificada publicidade se deu, são paradigmas de uma regra que, por enquanto, não passa, infelizmente, de excepção.

Acredito sinceramente, Sr. Presidente, em novo estilo de administração que acabe de vez cem o conceito corrente da obra de Santa Engrácia, ainda sobrevivente ao termo solenemente celebrado da secular obra madrinha. O querer e a capacidade demonstrados nos empreendimentos apontados alenta a sensibilidade ainda não embotada, apesar de tantos exemplos de estagnação do possível tornado im-