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17 DE JANEIRO DE 1969 2949

não se refere que essas vidas e essa fazenda são todas elas património da Nação Portuguesa, vítima da agressão fomentada e protegida pelo estrangeiro, embora envolvendo na luta - talvez nas primeiras, linhas de combate - aqueles que foram induzidos em erro e apenas aguardam a melhor oportunidade para regressarem, em paz, à labuta nas suas terras, sob a protecção da bandeira, que sendo sua, repudiaram num momento du loucura, ou de falsa ilusão criminosamente apregoada pelos neocolonizadores da África Negra!

Fala-se em "aldeias arrasadas, populações dizimadas, prisioneiros, porventura, torturados e assassinados", como se fôssemos nós os culpados e não as grandes vítimas de quanto tem sucedido em África desde a eclosão do terrorismo, na madrugada trágica de 15 de Marco de 1961!

São modernos fariseus, esses pseudocristãos que renegam a Pátria, como amanhã renegarão a própria Igreja, de cuja palavra sublime hoje se arvoram em defensores, usando-a, sem escrúpulos, para arregimentar ingénuos, embrulhar ideias e confundir a consciência de quem, não amando a violência, pode deixar-se seduzir por uma propaganda aparentemente pacifista, mas que visa, unicamente, o enfraquecimento da retaguarda de um país em guerra!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há, pois, que desmascarar a mentira e continuar a luta consciente e abnegadamente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O estranho documento, no qual se defende a amputação da Pátria, se insinuam lamentavelmente culpas que não temos e onde se inverte a verdade, no sentido hipócrita de defender uma paz que equivaleria à destruição, bem podia ter sido subscrito pelos vendilhões de 1580!

A guerra de África, repito, não fomos nós que a iniciámos; foi-nos imposta pelo estrangeiro, onde foi preparada e donde partiu um auxilio indispensável a terrível arremetida que nos ia colhendo de surpresa. Só a nossa vontade, a nossa fé e a fraterna amizade das populações autóctones nos puderam salvar de uma derrota. E se não continuassem esses manejos, sempre fomentados no estrangeiro, tudo teria já terminado, com a reintegração total daqueles que, menos avisados, eventualmente abandonaram os seus próprios territórios.

Todo o mundo o sabe. A justiça já começou a ser-nos prestada, e é com receio que a verdade acabe por vencer que o inimigo, internamente, acelerou os seus golpes. Coincide, estranhamente, com uma acalmia na pressão externa um recrudescimento da actividade interna das forças da dissolução.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A Pátria está em perigo enquanto se permitir que alguns dos seus filhos, impunemente, conspirem, traiam ou se deixem arrastar por quem os comanda e apenas pretende negociá-la por um prato de lentilhas, falseando o verdadeiro conceito da paz que a Igreja nos ensinou.

E para afirmar isto não é preciso coragem; basta simplesmente ter a consciência do momento que atravessamos e a vontade indómita - isso sim - de vencer.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há anos, em Espanha, onde o Poder se deteriorava, os crimes políticos e os atentados à paz social se sucediam, com um parlamento dominado pela subversão e pelo ódio, ergueu-se, profeticamente, uma voz, - a de Calvo Sotelo. Alguém então lhe disse "que seria a última vez que ali tinha falado"; e a ameaça cumpriu-se. O seu corpo, metralhado, foi encontrado dias depois à porta de um cemitério. Então, sim, fora preciso coragem. O bárbaro assassínio de Calvo Sotelo foi, porém, o clarim que despertou a nação, e a revolução estalou de seguida. Após três anos de horrores, a Espanha renasceu, redimida pelo sangue de alguns dos seu filhos mais ilustres.

Entre nós, pacificamente, a revolução foi feita; é, apenas, preciso continuá-la ...

Há paz nas ruas, não existe a luta fratricida dos chamados partidos políticos, e nesta Assembleia, onde todos nós somos independentes, nem sequer existe nenhuma "Passionaria", mesmo em travesti! Logo, repito, não é preciso coragem para afirmar certas verdades, ou quando se denuncia aquilo em que não desejamos cair.

Reconhecê-lo e afirmá-lo não é dividir, nem semear ódios ou malquerenças. Ninguém, seja qual for o credo político que abrace, mas mantendo intacta a sua alma lusíada, pode sequer discutir a Pátria. Ai de nós se tal vier a verificar-se! Então sim, estaremos definitivamente divididos e ela declaradamente em perigo! É isso, Srs. Deputados, que temos de evitar, unindo-nos em torno de quem tem sobre os seus ombros o pesado encargo de a proteger e de a continuar! Nós limitar-nos-emos a prestar o nosso contributo, que pode, aliás, ser decisivo. A história se encarregará de o referir.

A mesma hora em que se morre em África, combatendo, em Lisboa, numa igreja, ao som de ritmos modernos, erguem-se preces por uma paz que não pode ser a que desejamos! Estranho momento o que se atravessa e em que se pretende imolar a Pátria a interesses alheios e a concepções de existência a que, felizmente, tantos chamam renúncia!

Sr. Presidente: Sei que estas palavras vão ser maldosamente deturpadas pelos meus inimigos ou simples detractores. Serei, uma vez mais, apodado de fascista, de reaccionário ou de Deputado ao serviço de um sindicato de sectarismo e de interesses ilegítimos.

Sei que vai especular-se com o que disse, e até com o que não disse. Sei que vai afirmar-se que exploro o golpe mais duro que um homem e um pai pode sofrer, quando apenas evoco o meu testemunho (doloroso e triste testemunho) como exemplo (entre tantos) para certos jovens e para certos pais, principais culpados da fuga ao cumprimento de deveres sagrados . . . Sei que vão cair sobre a minha mesa de trabalho insultos, ameaças, escritos anónimos e clandestinos de homens que se dizem bons e isentos, ou de alguns amigos seus, uns e outros intemeratos defensores da grei contra a corrupção . . . que dizem que defendo! Mas sei também, e isso anima-me a prosseguir, que a parte sã e boa da Nação - a sua maioria - está com as ideias que perfilho. Estes, mesmo quando anonimamente, apenas querem continuar a ser portugueses!

Nesta Câmara falo a peito descoberto e assumo, assim, plena responsabilidade dos meus actos e das minhas palavras. Sem ter alma de herói, não temo nem os homens nem a sua maldade, desde que, em plena consciência, cumpra o dever que assumi ao ser eleito Deputado. Se o cargo confere riscos, aceito-os; benefícios, se os tem, nunca dei por eles, nem os desejo.

A Pátria precisa, mais do que nunca, de todos os seus filhos. Cuidado, porém, que entre estes não existam contaminados ... O contágio pode ser o pior dos males, e