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31 DE JANEIRO DE 1969 3057

cristãos o lusitanos: a integração de todas as populações de Portugal africano e oriental na língua portuguesa - e sobre este aspecto acaba a Assembleia de se pronunciar larga e doutamente - e o ensino do idioma pátrio, àqueles mesmos que o falam desde criança, acrescentou, sobre este último ponto:

Fala-se muitas vezes a este respeito, em defender a língua, mas, contra o que. alguns parecem julgar, não são medidas de mera defesa - policiais, punitivas até - uma espécie de censura prévia à correcção gramatical e ortográfica dos textos escritos, ou lidos através dos meios sonoros de comunicação social, que, não só vê bem como poderia pôr-se em prática.

Não são, repito, essas medidas defensivas ou profilácticas que produzirão o resultado que se deseja.

O que importa, de facto, não será defender a língua, mas ensinar os ignorantes.

Ensinar os ignorantes, sim. ensinar os ignorantes a bem falar e escrever a língua portuguesa, mas dar também a todos, ignorantes e não ignorantes, o sentido da dignidade e de respeito, a educação cívica, e cívico-patriótica, que vença o desconhecimento ou o desprezo pela função do idioma como elemento de transmissão de ideias entre os homens e forma de continuidade histórica do povo, para além da própria expressão geográfica.

O ensino da língua, ou melhor, as deficiências no ensino da língua portuguesa foram assunto tratado no decurso do referido aviso prévio sobre o ensino liceal e permito-me, sem quebra de consideração por outros Srs. Deputados que proficientemente a ele se referiram, salientar a intervenção da ilustre Deputada Sr.ª Dr.ª Custódia Lopes, que, aliás, já anteriormente havia feito ouvir a sua autorizada voz no sentido de se dar ao ensino do português a atenção, a importância e o carinho que merece, por me parecer resumir os dados principais do problema, dentro dos objectivos do presente aviso prévio.

Sem se ir mais longe na apreciação do ensino do português, choca profundamente a nossa sensibilidade admitir-se como possível perante a orgânica do ensino liceal, a incongruência de um aluno poder tirar um curso superior e obter a sua licenciatura sem nunca ter tido aproveitamento na disciplina de Português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E para que isso aconteça bastará, pura n simplesmente, conseguir a aprovação em todas as outras disciplinas dos ciclos o matricular-se em seguida em qualquer dos cursos de ciências do 3.º ciclo, dos quais o ensino da língua e da literatura pátrias foi abolido.

Daí, não constituir surpresa para ninguém a incapacidade revelada por tantos dos nossos rapazes e raparigas que frequentam cursos superiores, e até de muitos licenciados, que falam incorrectamente a língua portuguesa e ignoram, tristemente, os redimentos da nossa história literária, para elaborar um relatório ou escrever uma simples carta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas será suficiente que se aprenda o português em todos os cursos do 3.º ciclo?

Pensamos que se deverá ir mais longe, exigindo-se o aproveitamento nas disciplinas de Português, ou, pelo menos, nos exames dos dois primeiros ciclos, como condição para a aprovação.

Parta-se, antes, da escola primária, da escola primam cuide se começam a formar os caracteres e se recebe logo a marca indelével do bom ou do mau ensino, da boa ou má educação.

Tudo quanto se aprende ou se recebe na escola permanece na vida do homem e sobrepõe-se a tantas outras influências que pesam sobre a criança o sobre o adolescente.

A escola existe para formar homens e portugueses, homens que sejam também portugueses. Se não forma portugueses, ensinando-lhes bem a sua própria língua e despertando-lhe o gosto de a falarem, não cumpre a sua missão.

O gosto pela língua adquiro-se através da boa leitura do trechos agradáveis à inteligência e à sensibilidade, pelo diálogo sugestivo e disciplinado, pela redacção criadora, dos factos e das histórias da vida corrente, dominados pela bem e pela beleza, isto é, pela abertura de novos horizontes, à criança em desenvolvimento.

E tudo sem exigências de memória nas regras gramaticais, que fazem odiar a língua, e sem transigências com a linguagem baixa, soez, ordinária, nem condescendências com os estrangeirismos desnacionalizadores, com os modismos incaracterísticos ou a prosódia errada.

Outro ponto digno de atenção.

Merece reparo a forma como a nossa língua é ensinada em alguns estabelecimentos instalados e orientados por organismos oficiais estrangeiros, para fomento das suas próprias línguas. São, na verdade, excelentes elementos de cultura literária e científica, mas acontece tis vezes transformarem-se, em meios de adulteração do idioma português e focos de desnacionalização, tanto mais que gozam da preferência de certas camadas abastadas da população, que para elas encaminham os seus filhos, curando de lhos transmitir o conhecimento du uma ou mais, línguas que não a sua, sem ao mesmo tempo zelarem pela forma como esta lhes é ensinada.

Se este desejo de bilinguismo ou plurilinguismo é de aceitar, e do estimular, quando não revista a forma de imperialismo linguístico, há que condenar o desejo legítimo e pragmático de se adquirir por esse meio o conhecimento e o domínio de uma segunda língua, sempre que o português passa à categoria de segunda língua ou língua secundária.

O uso generalizado e progressão de expressões estrangeiras na fala comum, nos meios de comunicação radiofónicos ou televisivos no teatro e no cinema, na imprensa o na literatura, nos letreiros e cartazes públicos, nas legendas cinematográficas e na publicidade, é verdadeiramente perturbador da pureza e da dignidade da língua portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A propósito de teatro, ainda ontem o Diário de Lisboa, na crítica de uma peça estreada em casa de espectáculos da capital, fazia reparo ao tratamento infligido à língua portuguesa na dita peça.

Perguntar-se-à, apenas como apontamento ilustrativo, e sem se entrar no domínio da competência das academias, porque o snack-bar, a bouttique, o drugstor, de que já há dois em Lisboa, segundo reza a publicidade, ou o best-seller, o show ou a "transmissão em simultâneo"?

Porque não vão antes para os híbridos, que ao menos têm algo de português? Merece atenção louvável, em minha opinião, a nomenclatura generalizada dos actos desportivos, que já passou para o domínio da língua.

Estas coisas, e muitíssimas mais, "entram no ouvido de centenas de milhares de pessoas, dizia o Sr. Deputado José Manuel da Costa, muitas delas com tendência para