DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 170 3062
Quando irá parar esta fábrica de complexos de inferioridade que atingem a nossa boa gente?
Passando do estético ao nacional, não parece construtivo nem legítimo consentir-se na livre circulação de textos negadores da Pátria da sua dignidade integridade e soberania, se não quisermos perder na retaguarda uma vitória ganha pela flor da nossa juventude nas fronteiras da Nação.
Mas não menos subversivos ou demolidores, os textos lançados no mercado a pretexto de literatura e até sem máscara literária, com o objectivo único e no de negar a Deus e o Espírito utilizando argumentos falaciosos ou sofismas que a gente simples não sabe descobrir ou reconhecer como não válidos, paradoxais ou incongruentes.
Este é um problema mais que grave, gravíssimo. E o mais estranho é que tais volumes ou volumetos, frequentemente simples traduções de artigos de estrangeiros, sem marcado valor artístico nem seriedade de pensamento, encontram sempre editoras mães suspeitas e sempre prontas a parturejar tais monstros e não lhes faltam escaparates ou berços para tais filhos ou enteados, às vezes até em livrarias católicas onde a luz da informação é eclipsada pela da publicidade.
Não sucede assim quando se apresentam autores portugueses sobretudo novos independentes e leais aos valores da vida com seus trabalhos ou estudos, válidos e clarificadores. Não raro são tratados como pedintes ou proletários, desprezíveis e efectivamente desprezados. E então uns fecham-se e, se não poisam a pena trabalham para o limbo mas não se rendem. Outros porém, perdem-se entregam-se inscrevendo-se no "livro de ouro" dos senhores fendais da letras portuguesas saudados com girândolas pelos confrades e compadres. É deplorável. É mais que grave, gravíssimo insisto. Tanto mais que já consta de poderosos meios acumulados fora das fronteiras e preparados para uma invasão económico-ideológica no sector da indústria e comércio livrescos e similares.
Sr. Presidente: Só mais uma nêspera também agarrada às cerejas...
Ainda há poucos meses já depois de vigorosa e prolongada campanha das Novidades e outros órgãos de imprensa contra a pornografia, podiam ver-se três crianças com a saca da escola primária a tiracolo observando comentando e rindo, perante imagens descaradas de revistas atrevidas e penduradas junto dos quiosques. Num destes, também recentemente um rapazola procurava debalde, nos mostruários a sua apetecida mercadoria. Abriu-se-lhe então, discretamente um álbum onde os olhos se lhe podiam pascer. São casos da nossa capital.
Sei muito bem que hoje não há crianças, todos nascem adultos e imunizados. Mas o homem de sempre não mudou, nem o direito natural. E, talvez por uma possível falsificação de vacinas, há muitas epidemias, indígenas e oriundas de outros continentes, não menos virulentas nem menos contagiosas que a gripe "asiática", e a de Hong-Kong. Além disso, em todos os tempos, os adultos, até por serem mais pesados, foram sempre mais sujeitos que as crianças às consequências dos acidentes. Por isso, não se podem esquecer nem minimizar as medidas profilácticas.
Hoje existe no mundo, à escala planetária, uma conspiração contra a verdade. Conspiração planificada, organizada, científica, subterrânea e de superfície, ora soturna e subtil, ora audaciosa e descarada e sempre subordinada à eficácia. As ideias merecem respeito, se sinceras. Alas a sinceridade não chega para conferir-lhes validade. Esta só lhes pode advir da verdade, concretamente da sua eficiência na promoção dos bens individuais e sociais, nos planos da cultura e da espiritualidade como no das coisas materiais.
Ideias falsas, por mais generosas que sejam, só poderão iludir, mas não servir o homem. E, mesmo falsas porém, não perdem toda a sua força, até porque todas se cobrem com o manto sedutor da...Terra das Promessas e todas se apresentam com alguma parcela de conteúdo positivo. São as ideias que conduzem o mundo. As ideias fazem a história e não os ventos da história as ideias como pretende certa cronolatria, tão irrealista como desumana. Depois de Deus, foi é e será sempre o homem, o homem livre quem faz a história.
Se o pensamento é a fonte da acção (e toda a acção procede do pensamento) claramente se verá a importância das ideias.
Podem mais que o ouro e as armas... E não é legítimo cruzar os braços e perder tempo com lamentações. Há que intervir, sem violências nem fanatismos, mas com firmeza esclarecendo e tomando posição. O que se observa pelo mundo, não acontece por acaso. E não é razoável esperar que outro acaso equilibre uma situação de crise.
Crise omnímoda e que só pode ser enfrentada detida e superada pela inteligência posta ao serviço da verdade. Só esta tem poder bastante para iluminar as nuvens da ignorância e a noite da mentira e confusão. Bem faz o Sr. Presidente do Conselho em iluminar periodicamente o País com a luz das suas falas. Mas todos, todos sem excepção, temos obrigação de colaborar no saneamento da atmosfera. Não é preciso que um livro advogue a causa do comunismo para ser perigoso. Karl Max utilizou Balzac como arado para lavrar a terra, onde semearia o comunismo. E os soviéticos de 1918 a 1961, fizeram duzentas e sessenta e cinco edições das obras dele em dezassete línguas.
Balzac não era comunista mas a sua moral era de manga larga. Para ele, não havia grandes escrúpulos, tudo estava mais ou menos certo. E foi, certamente, apreendendo esta realidade da relação da moral livre com o comunismo que Zola acentuou que A Comédia Humana "é a obra mais revolucionária que se pode ler".
Nem Karl Max nem Zola eram tontos ou míopes. E alguma coisa podemos aprender de ambos. E só não aprendem os que julgam saber tudo, porque a esses como observou Mons. Fulton Scheen, nem Deus os pode ensinar.
Ocorre perguntar porque se faz correr tanta tinta em papel português com prosa de estrangeiros e de alguns portugueses nossos irmãos para negar a existência de Deus a divindade e a existência histórica de Cristo, a existência do espírito e a imortalidade da alma? Que se pretende, que se busca que se prepara com empenho trabalho e capital dignos de mais nobre causa? Que está por detrás destas audácias ou destes "ímpetos", para usar uma palavra do primeiro discurso do Sr. Presidente do Conselho, ao prevenir o perigo de surtos "anárquicos"? Ele sabe, como poucos que a anarquia das acções começa na anarquia do pensamento.
Anota ainda o eminente estadista "que se vacilarmos" perante aqueles "ímpetos, corremos o risco de nos vermos cercados de ruínas sobre as quais só um feroz despotismo poderá vir a reconstruir depois".
E o Sr. Presidente do Conselho com exemplar lucidez, acrescenta:
Se queremos conservar a liberdade, temos de saber defende-la dos seus excessos porventura os mais perigosos dos inimigos que a ameaçam.