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31 DE JANEIRO DE 1969 3061

gueses. E no mesmo ano em que o escandaloso volume se exibia nos escaparates, aparecia um texto do mesmo autor nos pontos de exame de filosofia dos nossos liceus! Só não fosse coincidência mera, tínhamos de suspeitar de conspiração pedagógica, de pontos de exame a servir do reclamo de estupefacientes, de actividades de editoriais conjugadas com serviços públicos de muita responsabilidade, da presença do "homem invisível", que ninguém vê, nem mesmo a inspecção. Invisível e poderoso. Mais poderoso que os Ministros e directores-gerais, mais poderoso que a Assembleia Nacional.

Bem se tem clamado aqui, invocado constituição, leis, saúde e futuro da Nação. Gritar no deserto! Nos últimos anos, os pontos de exame mudaram do orientação, e não creio que fosse para melhor, mesmo sob o ponto de vista técnico. Mas, então, no pedagógico ... o progresso foi de caranguejo. Progrediram, isso sim, cortas tendência.-" e, talvez, certo ar pretensioso. Pelo que toca a tendências, nos pontos dos exames de Junho passado, apareceram mais acentuadas.

Sr. Presidente: Não me furtarei a concretizar alguns dos reparos, algumas das tendências, limitando-me, porém, ao ano passado. A uma primeira leitura, qualquer se dá couta, de recenderem a cepticismo, agnosticismo, fatalismo. pacifismo e materialismo. E utiliza-se não apenas a filosofia, também as línguas, para se insinuar moral cientifica ou negar a liberdade e consequente responsabilidade, coisa muito mais séria que o fundo sentimental ou romântico de um ou de outro texto. Os pontos de línguas são frequentemente demasiado abstractos e parecem mais virados para a filosofia do que para o domínio dos idiomas. A moral cristã foi substituída por fábulas ou pelo naturalismo, coisa muito diferente de moral natural, que não contradiz a cristã. Terá a moral cristã deixado de ser verdadeira, constitucional e a moral dos Portugueses?

Em filosofia, começam-se por insinuar, com autor da estranha, que a filosofia é mais para fazer perguntas que para dar respostas, sugestão discreta do cepticismo. Que valem perguntas sem respostas? Isto só serve para fazer perder o pé à juventude, o pé e o rumo. O ano passado apareceram a vender o seu peixe ...

Bertrand Russel e Kant, para falar só da primeira chamada da primeira época S. Tomás também aparece na composição do quadro, mas em plano secundário e na posição de vencido, não a provar, mas "querendo provar" ... a existência de Deus. No francês, exibe-se Alfred de Musset a fazer a sua sementeira sobre a terra, empapada do sangue das vítimas das guerras napoleónicas, e a falar de semideuses e de cadáveres. E o pensamento ou intenção pedagógica aparece reforçada na retroversão, a elaborar com texto de autor português, que diz:
Antes acabar debaixo das patas de um cavalo ou das esteiras de um tanque, berrando ... (nada menos que berrar ...): "Viva o Imperador!" ou "Viva a Pátria!", do que viver a discutir as contas da mercearia.

Em contrapartida, em língua c historia pátria, a dinâmica- da vontade para que se apela, é uma dinâmica naturalista ... do botão a querer ser flor e a flor fruto, e o menino a descobrir que a fraqueza é o medo e a ajuda dos outros. A dinâmica da acção e dos ideais das grandes figuras da Nação não surge, não se invoca. Que se pretende com tudo isto? E estará certo que os pontos de exame pareçam cartaz de publicidade, publicidade de autores estrangeiros e de orientação mais que duvidosa? Aonde nos conduzirá! estes caminhos ou descaminhos? Aqui não se descobre uma liberalizarão, mas uma planificação.

Sr. Presidente: Algo divaguei com esto escorço pedagógico. Peguei em cerejas e, presas a elas, vieram nêsperas. Também são fruta, embora mais ácida. Peço desculpa, mas estavam no mesmo cabaz. A falta procede da conjugação, porventura meramente ocasional, de um livro ímpio e desbragado, com actividades pedagógica. Regressemos ao livro, a mais alta e nobre expressão escrita da língua. O seu poder é simplesmente formidável. Pode, com efeito, atingir milhares e milhares até milhões, de leitores simultaneamente. E não apenas na época da sua publicação, mas dezenas e mesmo centenas de anos mais tarde. Amigo discreto e disponível, se é verdadeiro, vale por um tesouro. Mas nenhum autor é infalível e nem todos são bem intencionados. E quando o não são, o livro transforma-se numa emboscada ou num cavalo do Tróia. Respeito a sinceridade e admiro a coragem, mesmo para n mal. Porém, não são valores supremos. E, mesmo a primeira, não tem o direito de ferir, com facadas mortais, o bem comum e os cimeiros valores da vida.

Se a língua, aparelho circulatório da vida do espírito, se transforma em veículo do materialismo, está para breve a glorificação da tirania no templo do ateísmo. Só há que preparar-se para assistir à chegada triunfal do rebanho de Epicuro ou dos carneiros de Panurgo. Órgão de expressão e expansão de portugalidade. instrumento eficaz da formação humana dos Portugueses, a língua não suporta desafinações sem negar as raízes. E merece, merece e exige, toda a atenção c carinho na sua defesa. Defendê-la, no corpo e na alma, não é fácil tarefa. Mas é nobre, mais que nobre, essencial ... para defesa da própria Noção. Não apresento um esquema de estratégia. Peço estudo. Estudo e acção para resolver um problema, mais que estético, nacional.

Pelo que toca à estética, atrevo-me a sugerir a reposição do latim no curso geral dos liceus. Português sem latim é algo como vertebrado sem vértebras.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas não se trata de uma reposição qualquer, é de uma reposição a corresponder à matriz latina da língua e aos 80 por cento de termos latinos de raiz. do seu vocabulário: uma reposição válida, a sério, para ser eficaz. Talvez fosse o remédio mais poderoso contra os pontapés na gramática, vibrados não apenas com a nota comum dos alunos que não ultrapassam o curso geral e outros cursos secundários ou médios (e são a grande maioria), mas por vezes vibrados com o afilado nariz do sapato de verniz de não poucos diplomados.
Agora que se está a repensar as estruturas do ensino, a ideia parece do considerar.

A valorização da língua, porém, não se confina às reformas do ensino nem a um sector da população. A cooperar nela devem ser chamados todos os portugueses. Lembro, concretamente, as actividades industriais, comerciais e publicitárias. Porque há-de o inglês substituir o português nas etiquetas de produtos nacionais? Mesmo no mercado externo, a breve e facilmente inteligível expressão "fabrico português" seria, só por si, uma forma de publicidade.

E, a propósito, quando é que os comerciantes e empregados de balcão deixarão de considerar os produtos estrangeiros como "sinónimo" de excelentes produtos e os nacionais como "sinónimo" de inferiores, mesmo se bons e até superiores aos estranhos?