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5 DE FEVEREIRO DE 1969 3081

Acrescentarei, como nota de conhecimento pessoal, que nas sessões plenárias da Assembleia do Atlântico Norte (parlamentares da O. T. A. N.) os discursos proferidos nos debates na generalidade, salvo muito raras excepções, são escritos, e creio que o mesmo sucede no Parlamento Europeu de Estrasburgo. Dada a limitação dos dias de sessão plenária, os discursos suo naturalmente bastante curtos, concedendo-se apenas aos relatores das comissões a possibilidade de mais largas intervenções.

Findo, Srs. Deputados, com a citação de um facto ocorrido comigo próprio e que pode servir de alguma elucidação.

Foi há mais de três lustros, e tratava-se da cerimónia solene de nova investidura do Chefe do Estado. O leader de então honrou-me (caro paguei a honra) com a minha escolha para falar nessa alta- cerimónia em nome da Assembleia Nacional. Era no tempo em que o Regimento proibia discursos lidos. Deu-me, simplesmente, esta indicações:

Diga o que entender; mas não deve falar nem menos de doze, nem mais de quinze minutos; e não pode ler o discurso.

Felizmente, dispus de tempo suficiente para preparar uma oração curta, e a boa memória dessa época permitiu-me fixá-la. Mas a angústia de a não reproduzir com fidelidade e com naturalidade na hora própria, tão carregada de solenidade, roubou-me de todo a paz do espírito durante alguns dias.

Sucedeu-me pior. Na véspera da cerimónia, pelas 10 horas da noite, foi-me dito ao telefone:

Sempre é bom rever-se o seu discurso. Mande-o cá. O acto de amanhã é de muita responsabilidade e é bom estar-se seguro da prudência das palavras que vai proferir.

Estarreci. A longa hora que demorou a ser-me devolvido o discurso pareceu-me não ter fim. Como poderia preparar outro, se ele fosse rejeitado?! E neste mesmo, se houvesse de sofrer emendas, como poderia, no momento próprio, tê-las avivadas na memória?!

Quando reavi o "papel" fiquei mais tranquilo. Pedia-se-me apenas, por natural sentimento de modéstia, que omitisse determinada palavra - uma única. Mas, ainda assim, ficava-me o justificado receio de a memória, que já a fixara com a firmeza da hera agarrada ao muro, se não lembrar de ... esquecer a tal palavra.

Quanto sofri! Restou-me uma grande consolação: ao regressar a casa, exausto de emoção, tive o gosto de encontrar um pequeno bilhete em que, com algumas referências amáveis ao discurso, se me agradecia ter acedido à sugestão de eliminar aquela palavra, que fora para mim quase tão terrível como o célebre "não" do padre António Vieira.

Rolaram os anos. Veio um dia em que eu próprio, então leader, convidei um ilustre Deputado para falar em cerimónia idêntica. A oração proferida foi, sem favor, muito brilhante. Mas o orador pôde, dessa vez, mercê de ter desaparecido o preceito proibitivo dos discursos lidos e da se ter alargado a duração das intervenções parlamentares, evitar os transes dolorosos que eu tinha penosamente sofrido.

Que feliz recordação não terá, justificadamente, dessa hora alta o ilustre Deputado Sr. Jesus dos Santos.

E mais nada, por hoje. Jam sufis ...

O Sr. Presidente: - Tem a palavra antes da ordem do dia o Sr. Deputado Cancella de Abreu.

O Sr. Cancella de Abreu: - Sr. Presidente: Passou mais um ano depois da tragédia do Terreiro do Paço. Sessenta e um anos decorridos após o regicídio não são data para esquecer; antes ela é para perdurar através doa tempos, pois não pode extinguir-se a mancha que maculou para todo o sempre as páginas da história de Portugal.

De resto, se é certo que a monarquia enfraquecera à sombra dos erros dos homens e por certos excessos demagógicos, certo é também que ela era secular, pois tinha atrás de si oito séculos de história; possuía a força da sua tradição, a solidez da sua estrutura orgânica, sulcara os mares, descobrira terras e construíra a golpes de audácia um vastíssimo império espalhado por todos os quadrantes, em cuja defesa a nossa mocidade hoje derrama o seu sangue. A monarquia, dizia eu, só podia sucumbir se com ela sucumbisse o esteio que a simbolizava: o rei.

Numa palavra: para alguns - bem poucos! - a derrubarem e outros, depois, proclamarem a República, era necessário que outros houvesse que matassem o rei, e o grande rei que foi D. Carlos foi assassinado em l de Fevereiro de 1908.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Neto de Miranda: - Sr. Presidente: Falar de uma responsabilidade política não é tema fácil quando um mundo de expectativa percorre os horizontes nacionais fixados em quatro continentes; tomar essa responsabilidade como circunscrita a um deles ainda é tarefa mais difícil; expô-la nesta Assembleia é fixar uma doutrina.

Pois bem, fixemo-la, ou melhor, voltemos a falar nela como antes o fazíamos, desde sempre, desde que nos propusemos dar ao mundo o conhecimento de uma ciência, de uma experiência e de uma realidade humanista.

Trata-se, Sr. Presidente, de verificar se as raízes nacionais continuam a alimentar-se da mesma seiva.

Creio que sim.

Há princípios, ou esquemas dogmáticos, que temos disciplinadamente e por um imperativo de consciência mantido como meta de uma gestão política. Algumas vezes andámos dela desviados, mas a mão que segurou o leme da Nação na viragem política que se operou nas últimas décadas - a do Sr. Presidente Salazar - teve sempre em vista a defesa do interesse da Nação, e, nesse aspecto, será conveniente dizè-lo, nunca foi exercido por limitação de ordem internacional ou de influência que supusesse ou admitisse melindre de ordem nacional. Isto é, quando foi necessário definir posições de projecção internacional, mas por acção puramente nacional, nunca faleceu a vontade a quem tinha de assumir essa responsabilidade.

Quarenta anos do maior devotamento ao serviço da Nação falam por si só e ninguém pode esquecê-lo. Creio firmemente que é precisamente isso mesmo que vem sucedendo.

O ultramar Sempre teve, e já lá vai mais de meio milénio, um lugar à parte no coração do nosso povo e na inteligência dos nossos governantes. Sempre constituiu um tema épico ou um tema de palestra amena. Sempre foi o mesmo personagem, cheio de interrogações, concepções liberais, de ideais de nivelamento de classes, de justiça social. Sempre respeitou a palavra de ordem e sempre também a analisou, a pesou no esforço que lhe era exigido e não esqueceu que devia evidenciar o seu pensamento, como filho que defende a casa paterna.