15 DE FEVEREIRO DE 1969 3209
O Asilo de Marvila, o Asilo de Alcobaça e um no Porto estão também sob a direcção do mesmo Instituto.
Outros asilos existem, em elevado número, aproximadamente 300, já rastreados pelo Instituto de Assistência aos Inválidos, mas sob o domínio das Misericórdias e outras entidades. Porém, 151 dos 300 asilos mencionados tem acordo de cooperação do Instituto de Assistência aos Inválidos, que com eles despendeu, em 1068, vários milhares de contos.
O total de internados em estabelecimentos com acordo de cooperação do Instituto de Assistência aos Inválidos, no ano de 1065, foi de 6074 pessoas dos dois sexos.
Suo estes números elucidativos dos esforços despendidos em prol deste sector assistêncial. Em presença, porém, das latas proporções que o problema atinge na época actual, necessário é visá-lo sob novos ângulos, de forma a ser equacionado na multiplicidade dos seus aspectos. Impõe-se, assim, toda uma política da- velhice, que a todos compromete, mas cuja planificação e orientação competirá, efectivamente, ao Ministério da Saúde e Assistência.
Ao apreciar este problema da longevidade, permita-se-me que o faça sob o prisma médico-sanitário, já que interessando os dirigentes, os economistas e os técnicos, pelas consequências políticas e sociais que acarreta, interessa sobremaneira ao médico, que para ele tem de dar o seu contributo.
À duração média da vida, que durante milénios permaneceu estacionária (sendo a longevidade apenas privilégio de alguns), estende-se nos nossos dias a populações inteiras, tendo quase duplicado nos dois últimos séculos. São, até certo ponto, os médicos os responsáveis colectivos deste acontecimento, pela solicitude posta na luta contra a senilidade e em prol de uma velhice fisiológica e pelo esforço despendido na interpretação do "porquê" e do "como" da evolução da senescência. Nilo podemos deixar de mencionar, é evidente, a valiosíssima contribuição trazida a este campo pelos progressos médico-
-terapêutico e pela diminuição da mortalidade infantil, que, embora lentamente, se vem processando.
A higiene e a medicina preventiva desempenham papel relevante, tanto na prevenção da senil idade como na aconselhável adaptação do velho ao seu estado, cabendo-lhes distinguir a parte referente aos factores ecológicos daquela que cabe nos antecedentes hereditários. Interessam a primeira os factores sócio-económicos e médico-sociais que permitam - por uma renovação de política de mão-de-obra - uma adaptação contínua da actividade e um contrôle permanente da alimentação, do exercício, das férias e das actividades sócio-culturais. Relacionam-se com a segunda o estudo das características essenciais do indivíduo capazes de determinar o envelhecimento individual ou diferencial e uma actuação no sentido de lhe prevenir e sanar as deficiências funcionais.
E característico da terceira idade o enfraquecimento de saúde, e múltiplas são as afecções que nela atingem manifesta incidência.
Ocupa, nesse campo, primeiro lugar a arteriosclerose, tanto a natural e inevitável como a resultante de uma possível alimentação defeituosa, qualitativa c quantitativamente. Doença da civilização, de especial incidência nos países europeus e norte-americanos, cujo efeito se faz sentir, quer nas doenças vasculares que afectam o sistema nervoso central, quer na doença arteriosclerótica c degenerativa do coração, tendo sido responsável entre nós, no ano de 1966, por, respectivamente, 15 702 e 11 277 óbitos. Tais números dão as percentagens de 15,77 e de 11,26, em função do total de óbitos da mortalidade geral. E curioso notar que nas lesões vasculares a percentagem de óbitos até aos 50 anos é de 2,16 e com mais de 50 anos é de 07,78, em função do total de óbitos ocasionados por esta doença, e nas doenças degenerativas do coração é, respectivamente, de 2,3 até aos 50 anos e de 07,62 dos 50 anos em diante.
Também o cancro, esse terra terrível flagelo social, desfruta de lugar privilegiado nas causas da morte dos velhos, crescendo em função do aumento da longevidade.
O total de óbitos por cancro foi em 1966 de 10 598, sendo a percentagem até aos 50 anos do 15,91 e de 84,06 dos 50 anos em diante, isto em função do total de óbitos desta doença.
Entre as outras doenças que, embora de uma forma menos sensível, atacam e invalidam os velhos salientam-se as afecções do aparelho locomotor, as doenças do aparelho digestivo (desde as mais banais às insuficiências hepáticas), a diabetes, o reumatismo, as hérnias e as varizes.
Após esta breve resenha sobre as doenças que mais incisivamente perturbam c ameaçam o envelhecimento normal será lícito perguntar: estará mais indicada uma política de protecção à velhice ou uma política de prevenção do envelhecimento? Uma bem organizada defesa contra o envelhecimento escalonada ao longo da vida não será porventura mais útil e mais eficaz do que toda a assistência que possa ser prestada à velhice, exacerbada por factores determinantes já irreversíveis?
Não disse alguém que o melhor presente a oferecer a um homem de 40 anos seria o seu exame radiológico?
É fora de dúvida que uma medicina preventiva se manifesta imprescindível para a profilaxia da velhice, mas para resultar benéfica será necessário que no sector médico-sanitário se apreciem as causas determinantes do envelhecimento, acentuadamente individuais, quando ainda é possível actuar sobre a evolução funcional, numa idade, portanto, muito inferior aos 60 anos, e no sector social se proponha detector com antecipação as condições de vida das pessoas idosas e a sua inserção e adaptação ao meio, procurando subtraí-las a uma segregação altamente nociva.
Para responder com eficácia a estas exigências, que traduzem as características peculiares das condições inerentes ao indivíduo e inerentes ao meio, torna-se indispensável a criação de consultas médico-sociais de pessoas idosas, a iniciar .nos dispensários de higiene social ou nos centros de saúde, a nível distrital. Deverão estas descentralizar-se até às sedes dos concelhos, instalando-se aí nos hospitais sub-regionais.
Constituir-se-á, desta forma, uma rede de assistência preventiva, permitindo o exame sistemático e periódico a toda a população idosa do meio urbano, como do meio rural.
A revisão das condições de vida e da saúde para uma possível readaptação sanitária e social e a prevenção e tratamento precoce das doenças da velhice, que aí terão lugar, poderão retardar ou sustar o aparecimento de afecções graves, de doenças crónicas, de enfermidades sensoriais ou motoras e, ainda, de perturbações psíquicas e mentais.
Como o seu nome indica, estruturam-se estas consultas com uma dupla finalidade: a médica e a social, que mutuamente se associam e completam.
Presidirá & primeira um médico da referida unidade assistêncial, e à segunda uma assistente social, a quem caberá a complexa tarefa de, em ambiente amigável, auxiliar as pessoas idosas a solucionarem os seus múltiplos problemas, quer estes digam respeito a necessidades materiais alojamentos, vestuário, alimentação, etc.-, quer mesmo a situações familiares e, até, a problemas de reforma ou subsídios.