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6 DE MARÇO DE 1969 3359

A sua ascendência mostra-se mundialmente reconhecida.
Nenhum vinho do Mundo possui atestados tão firmes de genuinidade, pureza e qualificação.
Produto de uma região demarcada e restrita, estritamente fiscalizada na produção, reforço, transporte e armazenamento, no vasilhame e na expedição, ele acentua a qualidade e o perfume das uvas, aproveita dos verões calmosos, ostenta uma velhice radiosa, combina as cores doiradas, do rubi ao âmbar, mostra personalidade aos três, quatro anos, e atinge a perfeição incrível dos quinze aos trinta, mas ninguém pode dizer que declina aos quarenta, porque ainda há hoje 1815 convincentes, mas caríssimos.
Tradição, nobreza, bouquet único, inimitável, originalidade que desafia as cópias e rivalidades, cálido e deleitoso, apaixona os conhecedores e convence os que o não conhecem.
Marca nas famílias as grandes celebrações.
Faz roda de amigos e conserva-os.
Melhora a convivência.
Torna a vida amável e graciosa.
Como vamos ver, a sua exportação recompõe-se, os seus mercados permanecem fiéis e as suas altas qualidades afinam-se e garantem-se, mercê de uma mecânica institucional inabalável e de leis corporativas de rigor, sensatamente executadas.
Nem tudo serão críticas.
E aqui começo por prestar a minha homenagem, não só à produção e à sua Casa, mas à Câmara dos Provadores, ao esplêndido Instituto do Vinho do Porto e ao poderoso Grémio de Exportadores, com o seu entreposto em Gaia.
Certamente, este capítulo de instituições e regras é severo, talvez pesado, mas mostra-se dignificante e progressivo.
O que vou apontar agora são meras observações extraídas destas ideias firmes que tanto enobrecem.
Não terão altura para críticas, mas merecem que se reflicta nelas, para além da literatura de reconhecimento e preito.
Parece-me que na política estabelecida, de resultados tão úteis, haveria vantagem em discutir se vale a pena conservar ou insistir em certos tipos:

Bastardo ou bastardinho;
Lacrima christi;
Malvasias;
Rosés e moscatéis.

Já vi garrafas com a designação de «mistura», o que me parece impróprio.
Também não gosto da apresentação de portos encanastrados, como se da Madeira fossem, e menos ainda vinhos tão forçados na secura que se aproximam dos xerezes.
Cada um, senhor no seu principado!
Seja como for, a melhoria e afinação dos tipos produzidos e exportados, a utilização de garrafas tradicionais, a beleza da apresentação, merecem os maiores louvores e parece-me que o público indistinto premeia o esforço realizado.
Não há formosura sem senão.
E num mundo livre e desorientado não escasseiam as tentativas fraudulentas de cópia, adulteração e falsificação deste primor natural.
Houve tempo que o vinho rotulado de «porto», mas sem ligação com ele, andava por outro tanto, no mercado mundial.
Hoje será mais, ainda.
Vendem-se, pelo mundo, cópias plebeias, imitações rasteiras, fabricações imitativas, que utilizam o nome e o título do nosso rei dos vinhos porque não é possível encontrar nas leis e obter nos tribunais desses países a salvaguarda dos interesses legítimos, do nome de origem, do tipo comercial e das marcas patenteadas.
Tudo é calcado aos pés, e daí resultam portos, e também xerezes, cor de café com leite, vinhos balseiros, sem generosidade, com perfume de farmácia, entorpecidos e plebeus e até escaldantes ou rançosos.
Um jornalista que abandonou a profissão e que montou um vinhago na Austrália distingue-se tristemente naquela literatura.
Diz que o porto parece feito para o paladar de caçadores de raposas e atesta que o socialista alemão Thomaz Man chamava ao porto «uma bebida para amadores».
Não sei se ele era profissional. (Risos).
Na Austrália, no estado da Califórnia, no Oaio, no estado de Nova Iorque, na África do Sul, fabricam-se «a martelo» portos imitativos, sob protecção local, alegando que as castas, as colinas e a fabricação se mostram similares às nossas.
O enólogo americano Leedom, que conhece perfeitamente o assunto, afirma, porém:

É uma desgraça que o porto não seja bebido mais largamente e mais apreciado neste país - Estados Unidos.

E acrescenta:

A diferença entre o verdadeiro porto e as imitações americanas e outras é a do dia para a noite.

É o que nos basta.
Direi, porém, apesar do esforço formidável de transplantação e de industrialização, das novas técnicas e dos acabamentos, as contrafacções de porto nem sequer são uma lembrança, mas apenas um reflexo em água pantanosa e chilra.
Vejo que também existem novas imitações entre os russos, japoneses e mexicanos.
Vamos aproximar-nos agora das correntes mundiais do comércio.
A exportação de vinhos, em cada dia que passa, mostra-se problema dificultoso de solucionar, dominado como está por factores complexos e matéria como é essencial ao desenvolvimento e expansão.
Baseia-se em técnicas especiais, mas afinadas, um conhecimento profundo e subtil dos mercados, com suas tendências, requer domínio das línguas estranhas e escrita de rigor e conhecimento das políticas de câmbio e de consumo e dos acordos genéricos e bilaterais sobre tarifas.
Tem havido crises gigantescas, alterações profundas de moeda e câmbios, práticas desviadas, medidas e contramedidas de retorsão, mudanças de gosto, que não dão um instante de repouso aos exportadores.
Estes, a braços com tantas dificuldades, têm ainda de dispor de créditos especializados e preparar-se para uma luta competitiva, onde falece o direito e onde se perde às vezes o cavalheirismo.
A socorrê-lo está a propaganda, a promoção de vendas em país estranho, que não são isentas de dificuldades e carecem de remuneração de alto preço.
Claro que a propaganda é o mais patente milagre destes tempos.
E de tal ordem que tantas vezes se acredita mais o gato que a lebre!
Ela sugestiona, leva a aceitar, recomenda, convence, faz adeptos de um momento para o outro, cultiva, penetra, toma uma fortaleza e, uma vez conquistada uma posição, tem de reforçá-la e defendê-la.