3408 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 189
Sem grandes motivos que atraiam, bastante afastada da nossa Lisboa, perene de encanto e amenidade, donde não apetece sair, mal servida de meios de transporte, e ainda com lura continentalidade climática, de Verão abrasado e Inverno arrepiante, Beja só raramente é demandada, e assim, como é natural, mal sentidas são as suas penas, que as tem, e grandes.
Desculpem-se, portanto, as falas daqueles que, vivendo de há muito e intensamente o plano baixo alentejano, e sentindo-o nos seus desfavores, os proclamam em redobre, abrindo-os com largueza ao conhecimento, para seu remedeio urgente e certo.
O alentejano do Sul, caldeado na aspereza das suas terras, tem como elas a rudez que as caracteriza, mas também a força que as anima, e, bem assim, a grandeza de alma, tamanha quanto a província alargada onde vive e sofre num estoicismo que impressiona.
Sem um arremedo, sem uma malquerença, aguarda o dia de amanhã e confia, porque sente o vigor, a fortidão do seu território, e sabe que ele cada vez é mais pujante, emprestando largo contributo ao revigoramento do País, tendo por si a vontade dos homens, ou mesmo sem ela.
O Baixo Alentejo, temo-lo dito vezes sem conto, vale tanto que se promove por si próprio, e, por assim ser, vem respondendo sempre, e de que maneira, à chamada frequente de uma economia agrária deprimida, que nele tem, apesar de tudo uma grande robustez de apoio.
Mas o Alentejano, em desânimo natural pelo tanto que se lhe nega, sente, e muito, o pouco que se lhe faz. E de sua condição profundamente reconhecido.
Neste momento, Beja e Serpa, cabeças de concelho destacadas do Sul do Alentejo, testemunham, pela nossa voz apagada, ao Sr. Secretário de Estado da Informação e Turismo, o seu mais sentido agradecimento pela criação, há pouco, de zonas de turismo coincidentes com as suas áreas concelhias, considerando, assim se diz no texto preambular do Decreto n.º 48 859, a «fundada aspiração dos Municípios, para valorização dos seus valores paisagísticos, monumentais, económicos e humanos», na verdade, afirmamos nós, francamente credores da mais alta promoção.
Receamos, contudo, que, apesar da mobilização das melhores boas vontades, e tanto das gentes dos concelhos como de outros responsáveis a eles estranhos, esta tão justa como feliz determinação entre, por fortes razões obstativas a um exercício turístico fecundo, que, estamos em crer, ainda leva o seu tempo a arredar, em franca letargia e acção, dormindo, e precisava de estar bem despertada, a sono solto, nas páginas, breve amarelentas, de um Diário e o Governo.
Nós não vemos como ter turismo em apartados centros provincianos, já de si na míngua dos atractivos que lhes são peculiares, e este é o caso de Beja e Serpa, sem boas e eficientes vias de comunicação, que faltam ao distrito de Beja, no condicionalismo daquela bondade que se deseja e se impõe.
E não é só o turismo que sofre a afectação da manifesta precariedade dos meios de transporte de que enferma o distrito; tal-qualmente isso se reflecte, e com que dolo e intensidade, no seu desenvolvimento económico. E à margem da robustez económica não há robustez humana. Um território com meios de comunicação defeituosos, tal é o caso, é como o organismo com artérias esclerosadas, logo em vias de exaustão. Está a tender-se para o «deserto alentejano», e isto é que é preciso evitar a todo o custo. Isso só se conseguirá abandonando de vez a terapêutica emoliente, os costumados panos quentes, e indo-se abertamente para uma acção revulsiva, e quanto antes, para que não seja tarde amanhã.
As rodovias de Beja, já o salientámos em intervenção passada, atingiram um nível de marcado favor, mercê da acção operosa da Junta Autónoma de Estradas, sobretudo da diligência bem evidente da sua Direcção Distrital, que em esforço grande se tem entregado a obra de reconhecido merecimento.
Mas, mesmo assim, atente-se na demasiada estreiteza das faixas de rodagem, nomeadamente a da estrada internacional, aquela que da fronteira, por Serpa, Beja, Ferreira do Alentejo, Grândola e Alcácer do Sal, se desdobra até Lisboa, de trânsito intenso, sobretudo no Verão, época culminar do turismo.
Há também que ter em conta, como forte estorvo da marcha que se requer, a frequência das retardadoras e perigosas passagens de nível; para uma delas, localizada entre Serpa e Beja, a maior do Mundo, por distância de cerca de duas centenas de metros, coincidente na ponte sobre o Guadiana com a via férrea, e a que igualmente nos referimos em sessão transacta, pedimos já, pela perturbação grave ao trânsito internacional, a atenção do Governo. Confiamos na solução pronta e acertada do Sr. Ministro das Obras Públicas, pelo conhecimento que temos do seu espírito altamente esclarecido e da sua manifesta vontade de realizar tanto e o melhor que lhe é possível.
Ainda há mais o atravessamento de povoações de população densificada, o que se verifica, por enquanto, por muita parte.
Tudo isso, bem somado na sua negatividade, distancia as nossas estradas de uma perfeita capacitação turística.
Congratulamo-nos pelo bom serviço prestado à nossa província, e o Algarve também colhe do facto largo benefício, com a grande reparação, traduzida em substancial alargamento e novos traçados, da estrada Setúbal-Alcácer do Sal, o que diminui bastante o tempo de percurso.
Mas o favor seria extraordinariamente multiplicado, com enorme vantagem para o trânsito, se, entre Alcácer do Sal e a fronteira de Ficalho, por Grândola, em 154 km a estrada, com necessidade premente de arranjo - tenha-se em vista o perigo do troço em Alcácer-Grândola, exageradamente estreito e de bermas traiçoeiras -, tivesse faixa dupla. Assim, sim; assim passaríamos a dispor de uma estrada com nível internacional, servindo bem, ao mesmo tempo que o turismo algarvio, o distrito de Beja, na sua pluralidade económica - agrária, industrial, que há-de ter e dimensionada, e turística.
Outra palavra de gratidão é devida aos T. A. P., por ter incluído Beja no seu roteiro dos táxis aéreos, anunciados para muito breve. E mais ainda se colheu a promessa de que o desenvolvimento do tráfego, que temos esperança que não se atarde, condicionará no tempo o estabelecimento de carreiras regulares.
Em nossa intervenção de Dezembro de 1966 havíamos pedido para Beja o trânsito pelo ar, como alavanca potente para o seu progresso. Os T. A. P., pela perfeita consciência dos seus responsáveis, que muito me apraz encarecer, em todos havendo nós reconhecido o seu alto espírito de compreensão e mentalidade aberta, pronta e diligentemente acorreu ao chamamento, e assim é que, verificadas as regulares condições do aeródromo, afinal melhor e mais bem apetrechado que muitos em uso, imediatamente se dispôs a servir Beja. Beja está por isso sumamente agradecida.
Outro tanto, infelizmente, não podemos dizer com referência à C. P., que não considerou a ferrovia de Beja, absolutamente incapaz, nos estudos iniciados em fins de 1964, e que culminaram nos contratos muito recentes, largamente noticiados. E é que nessa altura já era péssimo o estado da via, sem vislumbres de melhoras, que não