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26 DE NOVEMBRO DE 1970 1005

desempenho do mandato que haviam recebido dos eleitores.

Ha momentos foi feita a apresentação do projecto de lei de imprensa, em concretização de iniciativas anteriores que ao Pinto Leite eram tão caras.

Estou certo de que outras iniciativas legislativas se seguirão, algumas das quais ele tinha já em mente na ideia exacta, que exprimiu, de que uma acção colaborante, mas sempre livre e independente, desde o- crítica à iniciativa legislativa, constituem para esta Assembleia a melhor forma de cooperar seno. subserviência com. os outros órgãos de soberania, dentro das funções que a Constituição lhe confere, para cujo desempenho fomos eleitos.

Entendo que se conseguirmos desse encargo desempenhar-nos cabal e frutuosamente, haveremos correspondido no dever de representação política nacional que sobre nós exclusivamente impende e teremos prestado à memória dos que pereceram homenagem justa e condigna, porque merecida e eficaz.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Lopes Frazão: - Sr. Presidente: A V. Ex.ª eu dirijo a expressão acalorada do mais vivo reconhecimento, por nos terdes confiado a primeira palavra, a proferir nesta Casa, de preito muito sentido a memória dos nossos inditosos companheiros de missão, tombados, em holocausto à Pátria engrandecida, no chão pleno de força e nobreza da nossa Guiné, ora maculado por cáfilas malditas e traiçoeiras, mas que teima em querer, e há-de sê-lo pêlos tempos fora - tenhamos fé em Deus -, bem português.

Confessamos o esmagamento da nossa valia modesta por tamanha responsabilidade, a de memorar os vultos enormes destes homens que a crueldade do destino quis que de nós se apartassem tão cedo, roubando-nos o seu convívio do mais extremado interesse e afectuosidade, e quando tanto havia ainda a esperar deles, da pujança do seu extraordinário mérito e saber, e ânsia de serem prestantes à causa nacional, que devotadamente serviam, e já muitíssimo lhes devia.

Srs. Deputados: Com a alma fortemente alanceada pela intensidade da dor sentida, que a esponja implacável do tempo não conseguiu sequer esbater, mesmo ao de leve, falecem-nos as palavras que em perfeição traduzam a imagem rápida mas verdadeira do trágico acidente da Guiné, e menos ainda a mágoa profunda que guardamos bem gravada daqueles que, a servi-la na primeira linha de combate, caíram nela para todo o sempre, mas envoltos em glória, e que as águas arrebatadas e lamacentas do Mansoa ciosamente arrecadam, qual relicário a apontar ao Mundo, na irmandade dos sangues aí recolhidos, de corpos só diferenciados pela cor, a perenidade de uma pátria.

A Guiné é uma verdade nossa, absolutamente incontroversa.

Só quem nunca a pisou e auscultou o pulsar sinceramente português do coração dos suas gentes, gentes destemoradas na resistência à perfídia infame de bandos assoldadados, sabe-se a quem e porquê, e determinadas no seu apego à bandeira que as acolhe vai para mais de cinco séculos, pode acreditar nas mentiras torpes do nosso controle territorial extremamente diminuído e do desencontro das populações à nossa causa.

Nós próprios fomos para a Guiné cheios de dúvida e de Já viemos seguros do futuro da província, no seu querer vincado de nos seguir no recto caminhar em que vivemos.

Por isso é que as missões como esta que efectuámos de informação e esclarecimento, para quantos são responsáveis no viver do País, e como tal nesta Casa se obrigam a debruçar-se sobre problemas de tanta monta, tais são os que ao ultramar respeitam, deviam multiplicar-se, de tal maneira que a nenhum fosse dado ignorar a mais ínfima parcela territorial.

Isto já por muitas vezes aqui foi dito e tido em concordância de todos, mas preciso é que seja fielmente observado.

Só assim teremos o apercebimento exacto da nossa grandeza e da nossa razão.

Por assim o entendermos, aceitámos, não sem sacrifício, logo desprezado, o convite recebido para calcorrearmos por largos dias o chão montuoso de Cabo Verde e as planuras da Guiné, ao serviço da Assembleia Nacional.

Mas mais ainda a nossa condição de técnico da terra nos impôs a aceitação do convite, exactamente para vivermos os problemas dessa mesma terra em províncias onde sobretudo é ela que conta no seu enquadramento económico.

Extremamente acarinhados pelas populações cabo-verdianas e cheios de encantamento pela beleza deslumbrante dessas ilhas de majestade, com as quais a Natureza foi madrasta, e, por isso, se têm como algo infortunadas, deixámo-las para trás, com intenso saudosismo, e entrámos, em malfadada hora, na conturbada e pura nós mal conhecida Guiné.

Percorremo-la de lês a lês, pelo ar e em muitos quilómetros de estrada, no desmentido cabal de que o seu maior quinhão é pertença das hordas terroristas. Só vimos lá mandar, e por toda a parte, tão bem e com tanto acerto, a nossa governação, timonada pela mão de génio, com destemer e firmeza na acção, do governador da província, o general António de Spinola, a quem um dever de justiça me manda render a mais calorosa homenagem pela obra vultuosíssima, de perfeita concepção e realização esforçada, que está empreendendo "por uma Guiné melhor", para que tenhamos um Portugal maior.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: Esse dia fatídico de 05 de Julho, o último dos nossos trabalhos, de memória inapagável, trazendo já em si o espectro da morte, paradoxalmente acordou cheio de vida, com um sol rútilo, sem a mais pequena mácula de névoa a turvá-lo, num verdadeiro inebriamento dos sentidos.

Por estrada, nos seus 90 km de bom asfalto, caminhámos com destina a Teixeira Pinto, ao encontro do Chão Maujaco, onde as tarefas sócio-económicas e culturais aí cumpridas pelas nossas forças armadas são tantas e tão frutuosas que não há palavras que as possam exaltai- no seu autêntico merecimento.

A esses nossos bravos rapazes, gigantes na valentia e intrepidez, que eu vi, nesse chão guineense, com uma mão na carabina e outra no arado, esculpindo com o máximo dos sacrifícios, a traços bem fundos, a figuração de uma Guiné mais viva, para uma Guiné maior e melhor, eu daqui, de muito longe, mas com o coração bem arrimado a eles, lhes dirijo, e aos seus comandantes, que sabem mesmo comandar, com a minha mais cordial e sincera saudação, um bem-haja muito sentido.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Srs. Deputados: Terminada que foi a visita a Teixeira Pinto, rumámos para Bissau, nos malfadados helicópteros, num entardecer algo enevoado e chuviscoso, mas com franca visibilidade, de que o comandante da formação tão cuidadosamente se apercebeu.