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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 48 1008

A herança moral que estas mortes noa averbam avoluma-se com a grandeza de tal mensagem.

Como sempre acontece, quando a distância ou o tempo apagam o fogo-fátuo dos subjectivismos arrogantes, é o que os unia, e não o que os separava, o que com maior nitidez se desenha na nossa memória respeitosa e o que mais os enraíza na nossa saudade.

Eis, meus senhores, a segunda lição que recebemos.

Esta, insisto, a grande lição que a sua união na morte indirectamente nos ensina: a da união fundamental que entre nós deve existir, consciencializada e actuante, em torno dos verdadeiros interesses nacionais.

Uniu-os, aliás, na tragédia que os vitimou, uma outra circunstancia pletórica de significado e sobre a qual indispensável é que muito se medite.

E que a morte destes quatro civis ocorreu juntamente com a de dois militares numa província em guerra, onde a nossa juventude se bate, sem regatear sacrifícios, pela integridade ida Pátria. E assim foi sublinhada com a imolação de muitas promissoras vidas n solidariedade e a coesão que ferreamente têm de existir entre a frente militar e a retaguarda civil.

Assim se ermanaram magnificamente, em idêntica e incondicional subordinação aos valores essenciais da comunidade portuguesa, os nossos quatro colegas, os dois oficiais que com eles morreram e a generosa mocidade que todos os dias cai nas diversas frentes dos nossos territórios ultramarinos.

Muitos são os que, em rasgos empolgantes que por conhecidos a Pátria pode borrar, ou ignorantemente em esforço anónimo não monos heróico, nas fileiras das forças militares ou de segurança arriscam a vida por ideais, e por eles muitas vezes a perdem. Seguramente, não são esses diferentes em nada dos Deputados que aqui invocamos.

A Nação é uma só, nas ideias-força de sentimento palpitante em que a própria nacionalidade se resume. A Nação só se converte em suprema realidade histórica e política se e na medida em que cada um de nós encontra remoções espontâneas, autênticos, a exprimirem adesão integral à hierarquia de valores que a informam e estrutura. "Portugal é uma maneira de ser, uma maneira de ser gente e uma maneira de ser povo." A Nação ou está em cada um de nós, na plenitude das opções fundamentais em que se analisa, ou não está em parte nenhuma.

E estava inteiramente nos quatro Deputados que morreram na Guiné, como estava inteiramente nos dois militares que os acompanharam na morte, como está, na quotidioneidade do seu esforço heróico em coda um dos que nas patrulhes, nas operações e emboscadas do moto, colocam a Pátria "cima- da sua própria vida.

E aí descobrimos uma outra lição: uma lição de portugalidade na sua mais elevada expressão.

Todos sentimos, de forma quase física, que a realidade subjacente nestas mortes é a do envolvimento completo da Nação mo esforço ultramarino. No altar em que as que recordamos se imolaram não pode deixar de oferecer-se em holocausto o sacrifício integral de um povo.

Símbolo doloroso e forte suo estais mortes do que deve ser a compreensão desse sacrifício que só é justo pedir a alguns se for de todos. E, se deixar de o ser, terá sido em vão o sacrifício dos nossos Amigos.

Saberemos, porém, colher o símbolo nele envolvido. Saberá o País que a missão ultramarina ou corresponde ao empenhamento integral de um povo, ou perde sentido o sacrifício de parte dele. Os civis não desmerecerão dos militares e, se estes caem na frente, aqueles têm de dar o seu esforço de trabalho, de vida sóbria, numa palavra, de dignidade cívica.

A retaguarda não desmerecerá da frente. Inspirando-nos no exemplo dos mortos que recordamos, importa que, cada um de nós, no desempenho das tarefas que nos competem, saibamos ser dignos dos que em Angola, em Moçambique ou da Guiné dão, afinal, muito mais do que nós damos para que Portugal continue a ser idêntico a si mesmo.

Um tema mais de meditação se impõe às nossas consciências, ao considerar que os quatro Deputado" mortos eram oriundos de recantos diversos do País.

Representando diferentes etnias, era um deles filho da própria província onde todos vieram a morrer, da mesma Guiné que gerou Honório Barreto.

Não estamos tripudiando, para colher efeitos políticos, sobre mortes que nós tão intensamente sentimos. Mas não podemos deixar de, por certo com o arrepio da dor, ser tocados pela força de demonstração tão directa e brutal daquilo que representa a maior força moral da presença portuguesa no Mundo, demonstração que, tanto como dolorosa, é definitiva e cabal. Também ela vem engrossar a nossa herança de responsabilidades morais e, também por ela, o sacrifício não pode ter sido em vão e terá de ser honrado.

Sr. Presidente e meus Senhores: Os sentimentos fortes são sempre escassos na sua expressão verbal. Quem vive intensamente uma emoção logo se apercebe de como a palavra é pobre para intensamente a exprimir.

E se entendi dever intervir nesta sessão, que é de homenagem aos quatro colegas nossos, mortos em missão, foi tão-só por me parecer necessário extrair do seu sacrifício o exemplo que nos deram e as lições que contém.

Nada do que se passa na vida é inútil, porque tudo só contém nos desígnios de Deus. Muito do que a razão humana não entende obedece a um propósito coerente e visa finalidades bem definidas, num contexto transcendental que nos escapa.

Perante o facto inexplicável, aparentemente gratuito, porventura revoltante, resta no homem procurar, com todos as forças da sua inteligência, algumas linhas da mensagem em que ele se traduz.

Também estas mortes inopinadas de José Pedro Pinto Leite, de José Abreu, do Pinto Buli e de Leonardo Coimbra, contêm uma mensagem poderosa, desdobram-se em ensinamento" do mais alto valor que me pareceu importante explicitar numa hora a que a emoção e a saudade conferem nobreza particular.

A Assembleia Nacional chora os seus mortos.

A Assembleia Nacional deve aprender com os seus mortos a ser cada vez mais genuína e intensamente aquilo que o País necessita que ela seja.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Vamos passar à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - A ordem do dia é constituída pela eleição dos 1.°, 2.º e 3.° Vice-Presidentes e dos 1.° e 2.º secretários da Mesa.

Nos termos do Regimento, esta eleição faz-se sobre listas que devem ser apresentadas e subscritas por cinco Srs. Deputados. Está agora na Mesa apenas uma lista que propõe para 1.º Vice-Presidente o Sr. Deputado José Guilherme de Melo e Castro, para 2.° Vice-Presidente e Sr. Deputado Armando Júlio de Roboredo e Silva, para 8.° Vice-Presidente o Sr. Deputado João Ruiz de Almeida Garrett, para 1.° secretário o Sr. Deputado João Nune