O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

1681 17 DE FEVEREIRO DE 1971

O que já levou certos Governos a tomar as medidas que há pouco referi, não foram as intoxicações agudas, mas sim o facto de não ser um produto metabolizável, razão, por que perdura durante, muito tempo nos produtos vegetais, na gordura do homem e dos animais, na própria terra e no fundo dos mares. Foram de ordem eminentemente ecológica aquelas que levaram àquelas decisões.

Por virtude dia sua extensa aplicação, pelo facto de se não degradarem ou de só o fazerem, muito lentamente, o D. D. T. e outros ongnodorados estilo disseminados pelo mundo inteiro, de pólo a pólo, atingindo a fauna e a flora e comprometendo rapidamente muitos ecossistemas. Nas águas dos rios e dos mares, nos solos, nos peixes, nas aves, nos animais domésticos e no homem, nas diversas regiões dia Terra é hoje possível determinar a existência de fontes resíduos de D. D. T. As correntes marítimas, os aves e os peixes transportaram-no a muitos milhares de milhas do ponto onde foi aplicado. Alguns fetos humanos recebem-no já através da placenta e são muitas os crianças que, em alguns países, o ingerem através do leite das mães.

Por via das cadeias alimentares, tem-se verificado, em certos lagos onde o D. D. T. foi aplicado para combater as larvas dos mosquitos, que, além dessa acção benéfica, teve outra deplorável: o pesticida foi arrastado para o fundo dos lagos, depositou-se sobre o plâncton e, depois, foi-se concentrando cada vez mais na cadeia das espécies ecologicamente interdependentes - os peixes que se alimentam do plâncton, os peixes que devoram estes peixes, 03 animais que se alimentam desses peixes, como as aves e o próprio homem. Foi por esta via que, por exemplo, de 1949 a 1962, em treze anos, se viram desaparecer todos os cosais de mergulhões que, antes disso, povoavam intensamente certo lago da Califórnia. De ela para ele da cadeia ecológica, a quantidade do D. D. T., porque se não degrada, vai sendo cada vez maior. Por toda a parte se têm registado desastres idênticos mo sector biológico e também DO sunitário e -no económico.

Na França, numa vasta zona onde se aplicou H. C. H. contra o escaravelho, foram simultaneamente destruídas: 48 por cento das espécies de dípteros; 21 por cento das de homenópteros; 14 por cento das de coleópteros; 15 por cento das de hemipteros; 2 por cento das de borboletas.

E, na região parisiense, em 1954, foram destruídas as populações de 20 000 colmeias.

Nos U. S. A: e imo Canadá, os espensões aéreas de D.º D. T. originaram a morte de centenas de melros, de trutas e de salmões.

Foi pelo registo de muitos factos desta natureza que os cientistas do estado de Wisoonsin propuseram que o D.D.T. fosse considerado "demasiado perigoso"; que outros propusessem e realizassem a proibição da sua aplicação nos estados Ide Michigão e Arizona, e que o propino Congresso pedisse no Governo Federal a proibição da venda do D. D. T. A Suécia, por sua vez, anunciou a restrição do, aplicação do D. D. T., em 1970.

Como diz um grande especialista - Dajor:

Os ecossistemas levaram milhões de anos a estabelece-se. São formações frágeis, de equilíbrio instável, facilmente destruíveis. Em alguns anos, o homem pode, pela sua improvidência ou ignorância, destruir de uma maneira irremediável o que a Natureza levou séculos a realizar.

Sr. Presidente: Devo dizer que não se limitaram a fundamentos ecológicos as justificações das medidas proibitivas ou restritivas que referi. Houve outros, e muito importantes. Devo apontar de entre eles esta, a um tempo de ordem sanitária e económica da persistência dos resíduos de pesticidas em produtos alimentares, que podiam comprometei- a exportação destes.

Era necessário garantir que os produtos agrícolas exportados tivessem taxas residuais de pesticidas inferiores ao mínimo permitido mínimo hoje cada .vez mais baixo e que algumas vezes já atinge o zero.

Eu pergunto se nós, que já exportamos alguns produtos agrícolas e que devemos procurar exportar muitos mais, deveremos continuar a consentir essa desordenada e injustificável forma como são aplicados os pesticidas e, por essa via, a comprometer esse importante sector do nosso comércio esterno. As nossas frutas., o concentrado de tomate, etc., podem vir a ser rejeitados se as taxas de resíduos de pesticidas forem elevados.

As instancias oficiais conhecem bem os resultados, das investigações feitas em certas frutas de uma importante região agrícola de Portugal, nos citrinos de uma zona intensamente frequentada por turistas estrangeiros, em certos estrangeiros que abastecem o mercado de Lisboa, etc., no que toca a autoridades sanitárias responsáveis pala execução dos programas de erradicação de muitos doenças.

Intoxicações agudas, intoxicações crónicas, destruição de abelhas, peixes, aves e outros amimais selvagens e domésticos, a resistência dos insectos e a destruição dos equilíbrios biológicas da Natureza, es um conjunto de factos que preocupam seriamente o mundo de hoje, no sector da guerra química dirigida contra as piegas da agricultura e contra as espécies vectores de graves doenças.

Os problemas são de âmbito internacional, vazão por que a O. M. S., a F. A. O. e o B. I. se item consagrado ao seu estudo, em intensa colaboração. A eles se vieram juntar o Comité Misto B.I.T./O. M. .S. da Medicina do Trabalho e a Organização Intergovernamental Consultiva da Navegação Marítima (I. ,M. C. O.) a primeira, por causal dos riscos dos trabalhadores, e a segunda., por via 'das consequências das contaminação dos produtos alimentares pelos pesticidas, quando transportados por navios.

Como demonstração do interesse da O. M. S. por este assunto, saliente o inquérito que realizou, em 1970, quê abrangeu onze países e que visou o conhecimento das medidas legislativas ou regulamentares adoptadas em cada um deles. Verifica-se que a designação; a classificação: o registo; o homologação; a autorização da comercialização; o controle do fabrico, do transporte e da aplicação; as autoridades que exercem o controlo; a rotulação; a propaganda; à taxa de resíduos, etc., são muito diferentes nos vários países.

Sr. Presidente: Volto agora à pergunta que fiz há pouco.

Não será possível lutar contra as pragas por processos biológicos, em vez de aplicar substâncias químicas? Não poderemos substituir A guerra química .pela luta- biológica?

Na vida das espécies, o "contraio natural" é o mesmo que a "luta pela existência", cujo significado ficamos devendo a Darwin.

A maioria das pragas que pretendemos combater tem os seus inimigos naturais - alguns dos quais conhecemos e destruímos com a aplicação indiscriminada dos pesticidas.

O equilíbrio da Natureza depende da luta que se trava no recanto da vida das espécies.

Muitas das pragas que hoje temos de combater são de importação e muitas delas surgiram acidentalmente. Importamos as pragas, mas deixamos, no seu- país de origem, os seus inimigos naturais, razoo por que elas tiveram entre nós população explosiva, muito diferente do ritmo de desenvolvimento que ali tinham.