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1920 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 97

tica de integração no espaço económico português, em vez de deixar autuar os capitais ao sabor das contingências. Eu acredito, por exemplo, que o empreendimento de Cabora Bassa há-de ter as mais sérias consequências no crescimento da província. Moçambique não participa das mesmas características de Angola. Angola tem muitas possibilidades ide coisas pequenas. Infelizmente, Moçambique só tem possibilidades de coisas grandes, e são essas que exigem um esforço maior, uma programação mais profunda e um compromisso financeiro que nem sempre a província e a metrópole estarão em condições de proporcionar.
Em qualquer hipótese, mo quadro que V. Ex.ª traçou, em que as autoridades tiveram a coragem de tomar atitudes, não sei se sempre felizes, mas aquelas que entenderam possíveis e de cuja correcção o tempo se encarregará. Eu penso que não há motivo para estarmos muito preocupados com o futuro. Antes, pelo contrário, eu partilho de optimismo, de franco optimismo em relação ao crescimento de Moçambique.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Muito obrigado, Sr. Deputado Camilo de Mendonça. Eu concordo inteiramente com as suas palavras e agradeço-lhe imenso a achega e a explicação que deu à interpretação que estou a dar à situação de Moçambique.
Quanto ao optimismo ou pessimismo, direi a V. Ex.ª que, pelo menos da minha parte, natural de Moçambique, não me passa pela cabeça ser pessimista. Eu creio que todos os outros Srs. Deputados naturais da província também pensarão da mesma maneira.

O Sr. Camilo de Mendonça:-Folgo muito, porque sabia que era exactamente essa a posição de V. Ex.ª e a de todos os Srs. Deputados moçambicanos.
O meu receio é que das afirmações feitas ou do quadro doloroso, mas real, que V. Ex.ª está traçando pudesse parecer a nós ou ao País que efectivamente o futuro não se anteolhava promissor, como é do interesse de todos.

O Orador: - Muito obrigado.

Não tenhamos ilusões quanto aos sacrifícios que estas medidas, se forem tomadas, irão impor - tanto à metrópole como a Moçambique. Não se trata, vejamos bem, de beneficiar só Moçambique: é uma parcela do todo que precisa de auxílio, mas se no presente essa parcela está a pesar de forma negativa, desde que os seus recursos sejam aproveitados, ela não deixará de no futuro contribuir de forma notável para a prosperidade do espaço económico português.
Ficam, portanto, postas as duas alternativas: deixar estagnar, ou mesmo retroceder, a economia de Moçambique, com todos os prejuízos que daí resultarão -especialmente em valores humanos -, ou tomarem-se medidas drásticas que possam garantir no presente e incentivar para o futuro um teor de desenvolvimento que fortalecerá a nossa presença em Moçambique.
A escolha é nossa, é de nós, Portugueses, e demais ninguém!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Dias das Neves: - Sr. Presidente: Pedi a V. Ex.ª a palavra para trazer à Câmara o eco de um acontecimento, que me pareceu dever ser realçado nesta Assembleia Nacional, e que foi a exposição evocativa de vinte e cinco anos de ensino técnico, que ontem se encerrou na Feira Internacional de Lisboa.
Inaugurada no passado dia 16 de Abril por S. Ex.ª o Sr. Presidente da República, acompanhado dos Srs. Ministros da Educação Nacional, do Ultramar e das Corporações e da Saúde e Assistência, Subsecretário da Educação e outros altos funcionários do Ministério da Educação Nacional, mereceu também a honra da visita de S. Ex.º o Sr. Presidente do Conselho, tudo a afirmar bem do interesse que aos mais altos governantes do nosso país merece este sector da educação.
Trata-se de uma exposição evocativa da obra realizada ao longo de um quarto de século por um ramo de ensino que, ao País deu q melhor do seu esforço e contribuiu de forma decisiva, no campo da mão-de-obra qualificada, para a efectivação do desenvolvimento económico nacional e ao mesmo tempo para a elevação do nível cultural do povo português.
A exposição em si constituiu uma realização notável, a demonstrar a presença de uma equipa de dirigentes e professores conscientes do seu valor e da sua função, com uma elevada capacidade realizadora constituída por uma comissão que a concebeu, planeou e pôs em acção, atingindo um nível que não é vulgar entre nós.
Trata-se de uma exposição didáctica do que se fez, como se fez e porque se fez, demonstrativa das potencialidades e da força de um ramo de ensino nem sempre bem compreendido, mas a quem o nosso país muito deve.
Através de uma criteriosa selecção e distribuição dos trabalhos expostos podia seguir-se a cada passo toda a evolução deste ramo de ensino e verificar-se como durante este quarto de século tudo foi preparado, seguido e executado, sem nada deixar à improvisação, dentro das mais modernas técnicas didácticas e pedagógicas.
Não pretendo com estas minhas palavras afirmar que tudo está perfeito ou mesmo que tudo foi feito, pois todos sabemos que não é assim. Destinado a servir o desenvolvimento económico, o ensino técnico nem sempre foi compreendido pelas actividades económicas a que se destinava, pois estas, até- há pouco tempo, na sua actuação esclerótica e rotineira, herdada de muitos anos, não lhes interessavam diplomados inovadores e exigentes, preferindo manter nos -seus quadros pessoal na sua grande maioria analfabeto, mas evidentemente mais barato.
Hoje, o ensino técnico é acusado de não poder fornecer às actividades económicas os elementos necessários às suas exigências de uma rápida adaptação ao novo ritmo do desenvolvimento tecnológico.
Aqui, também a culpa não cabe ao ensino técnico, mas às actividades económicas para as quais foi concebido, as quais durante estes vinte e cinco anos permaneceram sem qualquer força dinâmica de modernização e sem necessidade, de exigir ao ensino técnico a sua renovação, e também ao próprio desenvolvimento económico, que, absorvendo todos os técnicos de grau médio e superior, tem tirado a este ramo de ensino todos ou quase todos os professores das matérias tecnológicas.
Todavia, esta exposição fica a fazer a demonstração do nível que atingiu o ramo do ensino técnico concebido para servir o País, preparando-lhe todos os técnicos especializados do grau secundário e médio e promovendo a elevação cultural do nosso povo pela distribuição de uma rede de mais de uma centena de escolas técnicas, que serviram centenas de milhares de alunos.