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7 DE DEZEMBRO DE 1972 4036-(3)

existiam no nosso escol. Todavia, a tradição e a inovação são os dois pólos que balizam o destino do homem; e em torno deles centram-se as forcas conservadoras ou evolutivas, entre as quais a cada (momento o poder político carece de fazer escolhas e de tomar decisões. E nisso se exprime muito do melhor progresso pacifico doe povos: na sucessão dos ajustamentos que, entre essas forças, os governos esclarecidos conseguem com êxito realizar.
Porque assim é, mostram-se frequentes, na pequena história do nosso pensamento político, os tomadas de posição em que, a pretexto de um problema (e fio a pretexto dele) se faz ressurgir todo o passado multissecular deste valho debate. Isso logo confere à sua revivescência uma carga emotiva - como agora se diz em termos de psicologia social - que, em si mesma, as realidades nem sempre justificam suficientemente. E, ao sabor de prejuízos, em tudo se passa a ver o risco da conclusão antinacional de um processo errado; ou, ao invés, o começo inexpressivo e insuficiente de tuna evolução «em que nos deixámos atrasar».
Se quisermos falar francamente, bastante do exposto tem estado presente ou subconsciente, a propósito e a despropósito do Mercado Comum e da nossa possível ligação a ele. Â cada passo as cassandras anunciam o finis Patrias e os reformistas proclamam a sua desilusão. E, de um lado e do outro, ressurge a «carga emotiva» das confrontações do passado, obnubilando o exame sereno das condições e do recorte actual dos problemas. Por consequência, é indispensável neste caso ter a coragem de começar por desmistificá-lo, pois, na verdade, se é inconveniente (rilhar um caminho com perigos, todos os caminhos os têm, e nem tudo é necessariamente uma escolha entre o oito e o oitenta: desde que se tenha consciência dos limites a não ultrapassar, existem apenas riscos calculados; e deixa de ser vantajoso levar a prudência longe de mais. Por isso, a Câmara Corporativa desejaria que os acordos internacionais que lhe foram enviados para sobre eles emitir parecer fossem lidos e apreciados à margem dos aspectos que lhes são alheios; insertos, sem dúvida, numa linha vinda de longe, mas sem que sobre eles pese, além do razoável, toda a herança das confrontações ultrapassadas e de reduzido significado presente. Aliás, nem outra é a função da cultura: separar o principal do acessório e o permanente do acidental; e distinguir, na medida em que o homem consegue fazê-lo, o que constitua um inconveniente sério para os valores eternos da Pátria do que apenas se traduza na adaptação, a estruturas diferentes, do prosseguimento legítimo dos fins do bem comum.
Seja-se pois a favor ou contra a aprovação destes acordos comerciais por motivos de fundo. Mas não se tragam à colação, além do razoável - inadevertidamente ou por mero espírito polémico -, problemas respeitabilíssimos que lhes são alheios. De outro modo, perturbam-se pela emoção ou pelo preconceito os dados de base a partir dos quais a inteligência deve raciocinar.

2. Á propósito do Mercado Comum, costuma falar-se na Europa e discutir-se a sua existência ou inexistência, como realidade autónoma no campo económico, político e até cultural.
Numerosos sociólogos e homens de Estado, seguindo na esteia de Bismarck, negam-lhe realidade e salientam, como é fácil, os muitos aspectos de profunda oposição característica da «península da Ásia» habitada pelos povos europeus.
Entre estes contam-lhe adversários históricos em política e em religião, em concepções de vida e em interesses territoriais. Muitas vezes se tem salientado a frase é de um grande escritor francês - quanto a Alemanha e a França deram durante séculos a imagem de dois lutadores que só interrompiam o combate pelo tempo suficiente para ganhar fôlego, e logo recomeçar. Nas Ubás britânicas, o ódio aos «papistas» não divide a Irlanda entre o Ulster e o Eire? O desejo de atingir o mar livre opôs sempre a Rússia aos países atlânticos; tal como o acesso aos estreitos é inevitável pomo de discórdia na península dos Balcãs. E quer-se maneira de viver mais diversa dos povos nórdicos do que o modo como se vive em Espanha ou em Portugal? Na Europa só existe embaraço na escolha entre os problemas susceptíveis de a dividir ...
Porém, á medida que nos afastamos, geográfica ou culturalmente, e vamos observando a imagem dela formada pelos outros povos e pelo respectivo escol, as diferenças esbatem-se pouco a pouco e os não europeus apontam-lhe a unidade de estilo de vida, da qual nós próprios tendemos a duvidar. E isto contraprova-se por encontrarmos, fora dela, manchas de aculturação europeia indiscutíveis como tais: alguém duvidará de que a Austrália e o Brasil, apesar dos respectivos especialismos e tipicidades, são dois países fundamentalmente «europeus»? Quer dizer: afinal, também aqui o todo é anterior e diferente da simples soma das partes. E também aqui a distância é ainda a melhor maneira de adquirir a visão global de um fenómeno, quando ele também o é.
Decerto a herança integradora do Império Romano nem sempre encontrou, desde a Idade Média, condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Mas a Europa foi «europeia» com Carlos Magno, no Santo Império Romano-Germânico e com as peregrinações e as cruzadas, tal como o foi, desde o estilo românico, na arte das suas igrejas e na «internacional monástica», ligando a Escandinávia à Ibéria em torno de valores comuns: a herança greco-latina, dinamitada por elementos germânicos e eslavos e baptizada polo Evangelho, ou seja, pela Boa Nova da redenção pelo Amor. E deu-se a integração básica do escol na cavalaria e sobretudo nos Universidades, cujos estudos tinham valor muito geral, pois, na época, era fácil (o passaporte é invenção recente) transitar de um país para outro ou de um para outro estabelecimento de ensino. Para mais, havia a unidos uma língua veicular.
Mantemo-nos no domínio da objectividade ao registar estes factos. Tal como a circunstância de apenas cinco nações Portugal e a Espanha, primeiro; depois a Inglaterra, a França e os Países Baixos - terem iniciado nos séculos XV e XVI a mais gigantesca obra de transculturação e aculturação até hoje levada a efeito, desde as costas do Mediterrâneo vizinho às ilhas remotas da Polinésia. Deste modo, é objectivamente possível e fácil indicar, no mundo contemporâneo, os vários níveis de europeiação: existem Estados geograficamente longínquos mas totalmente europeus, por motivos naturais ou artificiais (como o Canadá ou a Austrália); depois, há-os onde o elemento europeu se miscigenou com um fundo de outra origem ameríndio no México ou na Bolívia, negro nos Estados Unidos ou no Brasil; em terceiro lugar, conhecem-se países que, mantendo embora a individualidade básica, receberam da Europa ou do europeísmo contribuições vastas e decisivas para aspectos essenciais da sua vida como nações (pensemos, como exemplos, no Líbano ou no Japão); e encontram-se, por último, embora em gradações diversas, muitos Estados que diariamente atacam a Europa com as armas, materiais ou de cultura, que a própria Europa lhes fornece.
Assim, e na ordem prática, a negação da Europa não é feita pelas outras civilizações, passadas ou contemporâneas. Estas reconhecem e afirmam a sua existência (até para a criticar ou acusar) e formulam por vezes - de