4088 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 207
em 20 de Fevereiro próximo, para a adjudicação da empreitada cia construção da ponte de atravessamento do Guadiana, em Quintos, e respectivos acessos. A obra orçada, segundo nos disse S. Exa., em 44 650 contos, é vultosa no seu custo, sem dúvida, mas não o é menos no seu interesse, pois de há muito se impunha no trânsito de uma rodovia turística por excelência, como é a estrada nacional n.° 260-Europeia 52, na rota Lisboa-Sevilha. Mas ainda muito mais que o turismo importa considerar as fortes potencialidades que essa ponte vem acarinhar, da uma, margem esquerda do Guadiana, onde se situam as ubertosas terras de Serpa e Moura e ainda a tão castiça Barrancos, a Noudar dos velhos tempos, que a cortiça afama e que ainda temos esperança de tornar a ver com a sua suinicultura agrandada, no aproveitamento racional dos seus extensos montados, com a terrífica «africana» sob controle sanitário.
Esta ponte pedimo-la por a considerarmos fundamental ao melhor viver da província sul-alentejana, em intervenção que fizemos em Fevereiro de 1967, e logo teve o pedido feito a consideração devida.
Sabemos bem quanto de tempo é preciso pura o estudo de uma ponte de tal envergadura como é esta de Quintos, que afinal viu o seu remate sem muita demora.
Por isso mesmo, e por ela ser uma realidade dentro em breve, ao Sr. Ministro das Obras Públicas lançamos o proclame, e connosco o das gentes deste generoso torrão alentejano, um bem haja, a força plena, saído muito do fundo das nossas almas reconhecidas.
E ainda vimos afirmar que esta e as mais obras que a ela se hão-de seguir, e com celeridade, estamos certos disso, porque Beja é distrito extremamente carenciado de desenvolvimento e manancial das mais fortes potências que o País precisa de ver tornadas em realidades, serão sempre «obras bem vivas», no querer do Presidente do Conselho, pois jamais o povo deste distrito se deixará «perverter», damos disso segura certeza a S. Exa.
Com esta ponte do Guadiana e seus acessos fica muito mais rico o panorama rodoviário de Beja, já de si bastante valorizado pelo esforço da direcção regional competente, isto seja dito em abono da verdade e em justiça.
Mas Beja precisa, para que ele seja ainda melhor e para mais boa estância das suas gentes, agora que tem prestes a acabar a variante de Albernoa, que era uma mancha negra no quadro já muito branco das suas rodovias, a inclusão no programa do próximo ano do troço da estrada n.° 264 (Alvalade-Ourique), que por mais de uma vez aqui notámos a sua necessidade premente, já que é imperioso acabar cora o total isolamento dos povos, por todos os invernos da freguesia da Conceição de Ourique. Também este trecho de estrada é do maior interesse para o melhor acesso às terras algarvias, por mais perto e sem as muitas e arreliadoras curvas dos outros traçados. O escalão Santana S. Marcos encontra-se em execução acelerada. Por conseguinte, aquele da Conceição, que é seu natural seguimento, preciso é que não se atarde. E ainda se faz notar a necessidade urgente do alargamento da faixa de rodagem da estrada Grândola-Ficalho.
Com a ponte erguida sobre o velho Annas, hoje absolutamente inerte na sua acção, mas poderoso de energia desprezada, já é possível torná-lo extraordinariamente prestimoso, e acreditamos que não virá muito longe esse dia, emprestando ao Alentejo possibilidades imensas ao avolumamento da produção agrária e ao estabelecimento de uma industrialização que teima em não aparecer, e não pode mesmo aparecer enquanto não houver água e energia abundosas e a baixo custo. São estes dois factores primários do ser de uma terra que pedimos ao Guadiana nos seus [...] represamentos, que hão-de vir a mostrar-se bem fecundos, o de Alqueva e o da Bocha da Galé.
Que o Sr. Ministro das Obras Públicas, tão compreensivo para os problemas da água, e que vem sendo obreiro forte da fortaleza do País, os tenha por bem e para muito breve.
As terras de Beja aguardam confiantes e prometem que saberão agradecer tão grande benesse como é esta do seu Guadiana bem aproveitado.
Vozes: - Muito bem!
O Sr. Brás Gomes: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: No próximo dia 18 terão decorrido onze anos sobre a data funesta em que forças armadas da União Indiana invadiram e ocuparam os territórios portugueses do Estado da índia. Data funesta, em que a força da violência destruiu um direito consagrado pelos séculos, cobrindo de luto a alma nacional.
Os portugueses de Goa, Damão e Diu, testemunho da afirmação de portugalidade no mundo, continuam vivendo seus dias de doloroso cativeiro.
Anima-os, porém, a mensagem do conteúdo heróico e místico recebida de gerações passadas: a coragem para enfrentar as vicissitudes de tão dura provação; a ideologia cristã, que cimenta nas almas a fé e a esperança; e o seu acrisolado amor a Portugal.
A riqueza dos valores espirituais e culturais de que são legítimos herdeiros resiste intacta à acção deletéria do tempo e dos homens, imprimindo àqueles «pedaços de alma repartidos pela Índia» uma feição de característica lusitanidade.
Ainda recentemente, em Outubro findo, por ocasião da XV Conferência do Conselho de Desenvolvimento Turístico, realizado em Pangim, um órgão da imprensa indiana, Navhind Times, inseriu no seu suplemento do dia 28 daquele mês um extenso artigo do Ministro-Chefe de Goa, Damão e Diu, Sr. Bandorcar, pondo em destaque o valor da Índia Portuguesa como centro de atracção cultural e turística.
E, entre outras considerações, o citado Ministro não pôde deixar de reconhecer e sublinhar que «os Portugueses conferiram uma feição única ao território de Goa, amalgamando as culturas orientei e ocidental, fazendo desta terra uma janela do Oriente aberta sobre o Ocidente». E continua: «Ensinam-nos os Vedas: Let noble thoughts from all over the world flow unto us. Se alguma terra tem aceite essa mensagem, essa é a terra de Goa.» E, em outro passo, a propósito das festas que ali se realizam durante todo o uno e nas quais participam livremente gentes de diferentes comunidades, o Ministro explica que tal só é possível pela «distinção que este território adquiriu».
E depois de se referir à beleza da paisagem, põe em relevo alguns monumentos históricos como «os antigas igrejas de Velha Goa, os templos de Pondá ou as fortalezas de Aguada, Chaporá ou Tiracol». Referia-se o Ministro à Sé Catedral, concebida pelo próprio Afonso de Albuquerque e elevada a Sé Arquiepiscopal metropolitana por bula de 1557, a Basílica do Bom Jesus, onde se encontra o túmulo de S. Francisco Xavier, centro de fé e de peregrinações, aos outros conventos de Velha Goa, à fortaleza de Diu, etc.
E todos estes monumentos, para além do seu valor na história pátria, revestem-se do mais profundo significado na história universal, como testemunhos eloquentes da contribuição positiva de Portugal em prol da civilização.