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4212 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 212

Sr. Presidente e Srs. Deputados: É desculpável, e até de louvar a sã ambição de todas as cidades contempladas de quererem uma Universidade.
Devemos ser objectivos e ponderados no querer, quando estão em jogo os interesses nacionais e quando é conhecido o que os bairristas, sempre bem intencionados, conseguiram por esforço ou posição pessoal.
Foram localizadas as Universidades, os Institutos Politécnicos e as Escolas Normais Superiores em todas as capitais de distrito e em mais três cidades, de nobres tradições e de condição geográfica justificável, que ainda não são capitais de distrito - Guimarães, Tomar e Covilhã.

O Sr. Duarte Amaral: - Espero que sejam, Sr. Deputado.

O Sr. Serras Pereira: - E Abrantes!

O Orador: - Outras, onde a civilização e a cultura se desenvolveram em focos de irradiação e muito antes da maioria daquelas nascerem, conservam-nas os Poderes Públicos no maior esquecimento.
E de boca em boca corre a pergunta: Que mal fizemos nós?
E se é dolorosa a triste realidade dos que assim sofrem, mais dolorosa é para mim a obrigação que sinto de a transformar, nesta Assembleia, em súplica angustiosa de inocente.
Fidelíssima aos sagrados princípios da Grei, centro milenário de cultura e de arte, centro geográfico bem característico e definido de uma região maravilhosa, sobranceira ao Douro, oásis onde os sentimentos cristãos e lusíadas se conservam em pureza e respeito, assim é Lamego.
Seria justo, pelo que é, também lhe ser concedida uma escola normal superior, um instituto politécnico, ou - porque não? -, se o pedido não escandalizasse, uma Universidade ...
Dolorosamente, não foi.
Importa pedir?
Mas, como fazê-lo, se até lhe é negado o funcionamento da secção industrial e agrícola da sua escola técnica, criada em 30 de Setembro de 1966, mediante persistente pedido e substancial ajuda da Câmara Municipal pagando a pesada renda do edifício?
Enquanto a maré alta do progresso e da riqueza pública invade as outras terras, Lamego é condenada, sem culpa, à miséria.
Sim, à miséria, porque o ensino é obrigação estatal e assim o reconhece o próprio Ministro Veiga Simão, ao criar, por toda a parte, escolas do ensino preparatório, liceal e técnico, no total de 329, desde 1968.
A minha região, que é essencialmente agrícola e espera pela consumação do programa governativo em promover e reconverter o meio agrário, é esquecida no mínimo que se lhe pode dar.
Muitos continuam cépticos quanto ao desenvolvimento agrícola da minha região, e este exemplo vem aumentar tal cepticismo.
Lamego, que devia ter, ao menos, a funcionar a sua secção agrícola, como promoção dos seus escolares para facilitarem o desenvolvimento agrícola da região, vê, desoladamente, que o próprio ensino preparatório funciona no Liceu e os alunos, contagiados pelo ambiente, lá ficam quase todos a continuar os seus estudos clássicos.
Nós, os rurais, pressentimos que destes já vai havendo muitos, mas técnicos, bem esclarecidos e cultos, necessários como «pão para a boca» ao desenvolvimento do interior, não os temos.
Não temos serralheiros electro-mecânicos, electricistas electro-mecânicos, auxiliares de laboratórios químicos, carpinteiros mecânicos, etc., porque o curso geral de Electricidade e o curso geral de Mecânica ainda não foram abertos, embora já criados.
Como se vê na Escola Industrial e Comercial, a secção industrial não funciona desde a sua criação, em 1966, apesar de ser esta a mais necessária para a região.
E para maior desgraça desta Escola, o edifício é exíguo e provisório, faltando-lhe biblioteca, material didáctico, tal como microscópios, gravadores, projectores, filmes e mapas de ciências naturais.
Espera há seis anos pelo seu prometido edifício próprio...
Não temos técnicos agrícolas, nem de pecuária, porque as escolas estão longe e o horizonte é largo.
Campos experimentais para o estudo temo-los em todos os sectores - no pecuário, no florestal, nos pomares industriais e da mais variada qualidade, nos campos experimentais de batata, nos da cultura da vinha, sobretudo o do vinho generoso do Douro, nos da olivicultura, etc.
Para mais, temos uma Brigada Agrícola, uma Intendência de Pecuária, uma Administração Florestal e uma variada exploração agrícola que poderiam ser um apoio válido para o funcionamento da secção agrícola já criada e que a inércia burocrática tem reduzido até hoje a letra morta.
Lamego pertence à Região Demarcada do Douro e dista 7 km, 40 km e 20 km, respectivamente, da jurisdição das três outras principais regiões vitivinícolas - Junta Nacional do Vinho, Região Demarcada do Dão e Região dos Vinhos Verdes-, pelo que se justificava uma secção de enologia, e não lhe chamo instituto ou Faculdade só para não ferir susceptibilidades.
Daqui sairiam os licenciados de que o País tanto carece, como já nesta Assembleia foi dito, numa bem fundamentada e esclarecida intervenção, pelo nosso muito ilustre colega Dr. Alberto Meireles.

O Sr. Alberto de Meireles: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Alberto de Meireles: - O facto de ter citado este meu obscuro nome (não apoiados) leva-me a quebrar o silêncio que me impus, ou que as circunstâncias me impõem, para dizer a V. Ex.ª que de maneira nenhuma me repugna aceitar um curso de enologia em Lamego, porque é realmente um centro próximo das sedes das regiões demarcadas que citou.
A objecção que porei será outra: é que, se pretendermos realmente, como aqui preconizei em tempos que já vão esquecidos, o curso de enologia ao nível superior, como se impunha neste país, em que a vitivinicultura é, como V. Ex.ª aqui também tem defendido e apontado, um dos valores básicos - e não haver um curso de enologia reconhecido é uma aberração -, eu entendo, não obstante, que esse curso superior pressupõe professores, pressupõe técnicos, que são muito raros neste país, laboratórios, que são tam-