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14 DE JANEIRO DE 1983 1131

olhos agressivos, nem com olhos beatos, nostálgicos ou acéfalos; olhamos, sim, com a consciência de que o Presidente da República é também parte desse mesmo povo e deverá por isso servi-lo com as suas próprias armas.
Isto não quer dizer que retiremos aos partidos políticos qualquer parcela da responsabilidade. Pelo contrário, diversificamos e duplicamos a responsabilidade.
Os partidos são os pilares da democracia, nela se reflecte o peso dos seus erros e a dinâmica dos seus gestos certos.
Consideramos esta situação que vivemos fruto das suas perturbações internas e fruto ainda do tipo das relações inter-partidárias. Á falta de hábito em cultivar a coerência, o recente uso das liberdades, o lastro social que o fascismo deixou no nosso país, tirou a partidos que se reclamam de democratas capacidades para servir a democracia.
Os partidos da AD não a servem.
Pelo contrário, a AD tentou arrancar as raízes da democracia não só pela escolha de classe dos seus chefes aliteratados, professorais, pendurados em manuais e ausentes da vida, exibindo as mãos limpas de qualquer esforço colectivo, mas ainda pelo seu sistemático bloqueio da vida cívica consciente e da participação das populações.
Mais uma vez ficou provado, Srs. Deputados, que a democracia representativa só é válida se alicerçada na organização e na participação das populações.
A participação é hoje uma actividade da qual depende o equilíbrio social e é um direito e uma garantia fundamental, indispensável à realização do homem. Na sua mensagem de Natal, o Papa João Paulo II recorda-o mais uma vez.
A democracia, para o MDP/CDE, é o poder do povo. Sem o povo não há nem governo democrático nem poder democrático.
Foi a intolerância, o orgulho intelectual, a auto-suficiência, o sectarismo, a ausência de uma política do real, a intriga, a sujeição a interesses alheios ao Estado, que transbordaram dos gabinetes e dos corredores e que sufocaram e estrangularam a AD.
A AD será muito em breve uma triste recordação e uma pesadíssima herança, mas será também uma grande lição para aqueles que querem governar sem o povo e até mesmo contra ele.
A morte da AD será mais uma vitória dos democratas, seja qual for o sector político em que se encontrem.

Aplausos do MDP/CDE e do PCP.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr.ª Deputada, a única crítica concreta que verifiquei ter feito ao Prof. Vítor Crespo, enquanto Ministro da Educação, foi a de que teria estado encerrado no gabinete.
Ponho de lado a questão de que isso não seja verdade - eventualmente é, admito, portanto, a hipótese-, mas tendo V. Ex.ª feito um apelo à política enquanto pedagogia, pergunto-lhe porque é que V. Ex.ª não faz o apelo através do exemplo concreto e não faz a sua pedagogia. Isto é, para além dessa crítica ao estar encerrado no gabinete, diga-me, Sr.ª Deputada, em que pontos concretos de política, e independentemente dos aspectos circunstanciais -encerrado no gabinete ou não encerrado no gabinete, bom trato, mau trato-, discordou
das propostas do Prof. Vítor Crespo e quais eram as suas contrapropostas. Não estou a insinuar que as não tenha, estou apenas a fazer um apelo a que, pelo exemplo concreto -espero que aí esteja de acordo comigo: melhor do que o apelo é o exemplo concreto-, faça uma política pedagógica.
A Sr.ª Deputada acusou também o futuro governo de ser, eventualmente, um cavalo de Tróia. A Sr.ª Deputada abandonou aí não apenas a pedagogia do exemplo concreto, mas abandonou inclusivamente o apelo abstracto e passou, pura e simplesmente, a fazer acusações gratuitas. Se acaso o futuro governo está a insinuar uma coisa que não será, a Sr.ª Deputada é a última que tem autoridade moral para fazer uma acusaão dessas porque o seu partido foi aquele que mais exemplarmente tentou no nosso país insinuar uma coisa que não era, isto é, o de ser um movimento popular português mais amplo até, eventualmente, que o Partido Comunista. Simplesmente, quando se conseguiu ir a eleições VV. Ex.as eram 4%. Quem é, afinal, cavalo de Tróia no nosso país?
V. Ex.ª fez um auto-elogio, que não contesto. Isto é, que não se devem encarar as coisas com olhos agressivos ou beatos. Admito que seja o caso de V. Ex.ª, mas pergunto-lhe: com que postura está V. Ex.ª a olhar para o general Eanes, porque foi incapaz de dizer uma palavra relativamente à alternativa ao descalabro - partindo do princípio que estamos pura e simplesmente perante um descalabro da AD - em termos de programa e de bloco social e político maioritário? O que é, pois, estar com um ar beato a olhar para o Presidente da República? Admito que não seja o caso de V. Ex.ª. Estou simplesmente a estimulá-la.
Quando à democracia representativa, V. Ex.ª diz que a democracia sólida é o povo organizado. Sr.ª Deputada, pergunto-lhe sinceramente: VV. Ex.as têm sido impedidos de organizar o povo? Será isso que vos impediu, até este momento, de passar dos 4%? Se é, V. Ex.ª tem o direito e o dever de nos ajudar a manter no nosso país a liberdade de organização, para que VV. Ex.as possam efectivamente contribuir solidamente para a tal democracia representativa. Resta-me saber, efectivamente, o que é que V. Ex.ª entende por democracia representativa.

Aplausos do PSD e do deputado do CDS Meneses Falcão.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, para responder, a Sr.ª Deputada Helena Cidade Moura.

A Sr.ª Helena Cidade Moura (MDP/CDE): - Sr. Deputado Silva Marques, tenho muita dificuldade em seguir o curso do seu raciocínio.

Protestos do PSD.

Em todo o caso, vou tentar, dentro daquilo que percebi das suas palavras, responder-lhe.
As críticas que o MDP/CDE faz ao Prof. Vítor Crespo têm 3 anos de trabalho e de existência. Tenho aqui na minha mão um relatório de 4 páginas, que poupo ler a esta Câmara.
V. Ex.ª não tem talvez filhos na escola, porque senão nem sequer tinha necessidade de o perguntar a ninguém. Há milhares de pessoas hoje que conhecem a obra do Prof. Vítor Crespo...