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22 DE JANEIRO DE 1983 1303

congratulação pela realização em Portugal deste 1.º Congresso dos Jornalistas. É uma iniciativa com a qual nos solidarizamos, é uma iniciativa muito louvável, e daí esperar sinceramente que a comunicação social portuguesa saia mais enriquecida e com maior perspectivação para o futuro.
No entanto, V. Ex.ª, na sua alocução, teceu vários conceitos que me deixaram um pouco perplexa, na medida em que até foram um bocado contraditórios. Critica o isolamento do Governo perante a comunicação social para, logo em seguida, dizer que espera que este Congresso afaste a ingerência do Governo nessa mesma comunicação social. Critica este Governo por uma certa politização da comunicação social, quando, na realidade, é sabido que este Governo tem tido o mérito de se afastar de qualquer politização da comunicação social, tem tido o mérito de não ingerir nos assuntos internos da comunicação social.

Risos do PCP.

E isto é de tal maneira verdade que foi possível a realização em Portugal de um congresso em que, pela primeira vez, todos os jornalistas se juntam e criticam livremente aquilo que pretendem criticar, o que só é louvável.

O Sr. Mário Tomé (UDP): - Era o que faltava que não fosse!

A Oradora: - Portanto, espero sinceramente que, deste Congresso, as coisas saiam melhoradas no aspecto da comunicação social.
O pedido de esclarecimento que queria fazer é o seguinte: o Sr. Deputado, que decerto tem acompanhado os trabalhos do Congresso, tem a ideia de que a comunicação social sairá deste Congresso mais afastada da, digamos, politiquice diária, da «fofoquice», para se debruçar mais sobre os problemas que interessam à população portuguesa, para se coordenar mais com a dinâmica cultural de que Portugal carece, particularmente as regiões mais afastadas dos grandes centros, as quais esperam que a comunicação social apoie esses seus anseios? Espera o Sr. Deputado que, finalmente, consigamos vir a ter em Portugal uma comunicação social que se debruce sobre os grandes problemas, olhados sob uma óptica nacional e construtiva, em vez de utilizar a política pequena (não queria utilizar o termo mesquinho) que se debruça preferencialmente sobre pequenos assuntos - os que podem determinar uma maior venda dos jornais, mas que não dizem respeito à população nacional, nem vão ao encontro dos seus maiores desejos? Espera o Sr. Deputado que saia deste Congresso uma comunicação social mais dignificada, aberta para um futuro onde se possa constituir, em Portugal, um verdadeiro quarto poder no sentido de uma de cada vez maior consolidação da democracia neste país?

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Corregedor da Fonseca deseja responder já ao pedido de esclarecimento que lhe foi dirigido, ou reserva-se para o final de todas as interpelações à sua intervenção?

O Sr. João Corregedor da Fonseca (MDP/CDE): - Prefiro responder já, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Então, tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. João Corregedor da Fonseca (MDP/CDE): - Sr.ª Deputada Adelaide Paiva, ouvi atentamente as suas palavras e devo dizer-lhe que a perplexidade é minha.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Á Sr.ª Deputada disse que há «politiquice pequena» nos jornais para os vender; eu queria-lhe dizer que deste Congresso dos Jornalistas vão de certeza sair muito boas conclusões. Certamente que irão ser dadas directivas e informações muito claras para a dignificação da classe, pois os jornalistas há muito tempo que querem dignificá-la. Á Sr.ª Deputada diz que não há, por parte do Governo ingerência na comunicação social. Então como é que podemos classificar o comportamento do Governo ao longo destes 3 anos relativamente à televisão, à rádio ao Jornal de Notícias, ao Diário de Notícias e a todos os outros jornais estatizados? Na realidade, é tentar iludir os problemas, quando todos nós sabemos que o controle por parte do Governo dos órgãos estatizados é uma constante. Podemos citar, a título de exemplo, o que se passa com o Diário Popular, onde existe um director imposto por estes governos AD...

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - ...e que foi imposto contra a opinião do conselho de redacção. Em relação a isso, Sr.ª Deputada, não poderemos falar muito mais. Agora há um assunto, em relação ao qual sou muito sensível. Trata-se do mau jornalismo que parece existir nesses jornais. Na realidade, vamos ver quem são as administrações dos jornais, quem são os seus directores, quem são as chefias?

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Orador: - Que directivas é que são indicadas aos chefes e aos directores de jornais? Na verdade, a Sr.ª Deputada deve verificar que os jornais já voltaram com as mulheres nuas para as primeiras páginas, com os grandes assaltos, com as notícias sensacionalistas, fugindo-se ao debate sério de ideias, às boas entrevistas e reportagens. A Sr.ª Deputada diga-me, por favor, onde estão as boas reportagens, as boas entrevistas, os assuntos devidamente tratados, na imprensa nacionalizada? Que tipo de programas é que temos na Radiotelevisão Portuguesa? Temos a violência, a degradação, programas anticulturais; contra isso os jornalistas estão sempre..., e, como me dizem aqui do lado, também contra a mentira, como é evidente!
Na realidade, quando a Sr.ª Deputada diz que vamos acabar com a «fofoquice», respondo-lhe que essa é uma exigência de todos os jornalistas, contra o governo AD, contra as suas imposições. O que estamos a assistir hoje é a uma tendência de manter «jornalecos» à venda, para que as administrações, no final do ano, apresentem um saldo mais ou menos positivo - e a verdade, Sr.ª Deputada, é que isso nem sequer acontece. As administrações lançadas pela AD nos jornais estatizados estão a conduzi-los a gravíssimos resultados, e o que se fez com a ANOP estaria em vias de também acontecer com o Diário Popular se o governo da AD não cessasse as suas funções. Ó Diário Popular, que era um jornal de grandes resultados, tem hoje resultados extremamente penosos.
Muito haveria a dizer, Sr.ª Deputada aliás, a Sr.ª Deputada melhor do que ninguém sabe perfeita-